Em um esquema inédito em campanhas, a Polícia Federal planeja usar atiradores de elite, agentes infiltrados, coletes à prova de balas, carros blindados e equipe formada por pelo menos 50 policiais para proteger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o período eleitoral.
Em uma escala de risco de 1 a 5 , foi definido que o petista está submetido ao maior nível de vulnerabilidade.
O plano de segurança foi montado levando em conta o cenário político do país, de acirramento da polarização e do aumento da violência política.
Episódios recentes, como a morte do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu durante sua festa de aniversário por um policial penal bolsonarista e ataques em atos da pré-campanha petista, como arremesso de material tóxico por drone em Uberlândia (MG) e uso de bomba caseira no Rio de Janeiro, também foram levados em conta.
A estratégia de proteção ao pré-candidato levará em conta as características de cada evento que Lula irá participar, tendo o modelo de segurança adaptado aos locais. Se for num teatro ou em numa casa de shows, por exemplo, terá um modo de atuação. Outra estratégia será empregada para ato em uma praça, uma área aberta ou uma caminhada de rua, como a que Lula fez em Salvador no início do mês.
É neste tipo de evento que a PF terá à disposição atiradores de elite. Os chamados snipers estarão posicionados em locais estratégicos para neutralizar eventuais alvos que investirem contra o candidato.
Atos públicos de Lula também terão agentes infiltrados da polícia, um clássico do trabalho de inteligência para monitorar pessoas com atitude suspeita. Lula também será orientado a usa colete à prova de balas, como já fez em evento na Cinelândia, no Rio de Janeiro.
Antes mesmo de a equipe da PF passar a atuar integralmente, o petista tem utilizado carros blindados, escolta e a campanha passou a adotar revista com detector de metal nos atos públicos.
Policiais que trabalharam com a segurança da campanha de Dilma Rousseff em 2010 também contribuirão com a equipe de Lula, sugerindo dinâmicas adotadas na época. Entre elas a de que o contato direto com Lula seja feito sempre pelo mesmo grupo de policiais.
Outro método usado em grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíada, e deverá ser replicado agora é o de integração com as polícias. As superintendências da PF serão demandadas em todas as viagens e será solicitado às secretarias de segurança dos estados apoio das polícias militares, civis, Corpo de Bombeiros e de guardas de trânsito.
Os agentes também têm estudado episódios recentes de violência política fora do país, como o assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, baleado enquanto fazia um discurso na rua. Ao estudar as imagens, os federais buscaram entender a dinâmica do crime e extrair aprendizados da ocorrência.
Entre os profissionais que atuarão na operação, no entanto, há consenso de que o clima político entre 2010 e 2022 é incomparável. Na primeira eleição de Dilma, argumentam, havia uma disputa política tradicional, sem o contexto atual de violência motivada pela política.
A operação será chefiada pelo delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, responsável pela segurança de Dilma Rousseff na campanha de 2010. No governo da petista, Rodrigues foi secretário Extraordinário de Grandes Eventos e atuou na segurança da Copa do Mundo e da Olimpíada do Rio. O núcleo duro da equipe ficará em São Paulo, residência do candidato, e outra parte terá base em Brasília.
A segurança estará com Lula 24 horas por dia e o acompanhará em casa, nos hotéis e nas viagens de jatinho. A PF não irá interferir na agenda do candidato mas dará pitacos sobre trajetos de chegada, saída e percursos, apontando alternativas mais seguras e providenciando, por exemplo, cobertura de segurança com estacionamento onde não houver.
Uma equipe precursora irá vistoriar antecipadamente todos os locais por onde Lula passar, observando aspectos logísticos e de segurança. Também caberá a eles a interlocução com policiais dos estados que serão destacados para a segurança do candidato, com o objetivo de evitar vazamentos de detalhes sensíveis da agenda.
Todo esse planejamento é pensado para evitar que a campanha de 2022 repita episódios como a facada dada em Jair Bolsonaro, em setembro de 2018 em Juiz de Fora. No mesmo ano, a caravana de Lula sofreu ataque a tiros no Paraná.
Policiais que já conversaram com o ex-presidente sobre a complexidade do esquema de segurança afirmam que o petista, além de conhecer a dinâmica de segurança de dignitários, está consciente da gravidade do momento e da necessidade da adoção de cuidados, o que deve ajudar o trabalho dos agentes.
Há consenso, no entanto, de que uma campanha presidencial não se faz sem contato com o público. O desafio dos agentes será controlar o ambiente e identificar todos os eleitores e militantes que chegarem ao perímetro mais próximo do ex-presidente.
A área de inteligência da PF tem mapeado locais que possam oferecer mais risco a determinado presidenciável. A equipe de Lula, no entanto, aponta que irá trabalhar com preocupação permanente, não descartando possibilidade de ataques inclusive nos estados onde o ex-presidente tem mais aprovação.
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