Quem foi Chico Mendes, ambientalista assassinado há 36 anos
Taís Ilhéu
Quem foi Chico Mendes, ambientalista assassinado há 36 anos

Em 22 de dezembro de 1988, a luta pela preservação da Floresta Amazônica , em especial pelos direitos das populações nativas e pela manutenção das atividades extrativistas, perdia seu mais destacado líder: Chico Mendes .

Francisco Alves Mendes Filho foi seringueiro, ambientalista, sindicalista e ativista político. Uma semana após completar 44 anos, morreu assassinado por um tiro de escopeta no peito, na porta de sua casa, em Xapuri, no Acre , como retaliação de fazendeiros em função da disputa por um seringal. A morte do líder ganhou projeção internacional e o movimento em defesa do meio ambiente no Brasil e no mundo continuou a crescer.

+ Brasil, um dos países mais perigosos do mundo para ativistas ambientais

Trajetória de Chico Mendes

Chico Mendes nasceu em 15 de dezembro de 1944, em Xapuri. De família pobre, começou ainda criança, aos 9 anos, a trabalhar como seringueiro, tal como o pai. Na região, os trabalhadores entram na floresta até as seringueiras, indo de árvore em árvore e fazendo a sangria do látex, matéria-prima da borracha. Foi alfabetizado somente na idade adulta.

A sua atuação como ativista teve início na década de 1970, quando os governos militares iniciaram a política de ocupação da Amazônia, incentivando os produtores rurais do Sul a irem para a Região Norte. Com isso, ampliou-se a derrubada de matas para a exploração de madeira, plantio de soja e criação extensiva de gado. Os fazendeiros passaram a disputar espaço com os seringueiros a fim de expulsá-los das terras em que moravam. Esses embates deram início a violentos conflitos na região, que perduram até hoje.

+ Linha do tempo: a ditadura militar, fato a fato

Continua após a publicidade

Uma das maneiras encontradas pelos seringueiros para defender a floresta e proteger os moradores e suas casas da destruição foram os empates. Idealizados pelo então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (AC), Wilson Pinheiro, consistiam em mobilizações promovidas por trabalhadores, acompanhados de mulheres e crianças, que se colocavam à frente de árvores e motosserras para impedir o desmatamento. Com o assassinato de Pinheiro, essa forma de resistência ganhou força sob a liderança de Chico Mendes.

Nessa época, a Igreja Católica teve um importante papel ao ajudar a promover a formação de lideranças em Comunidades Eclesiais de Base, como o próprio Chico Mendes. Estimuladas por esses líderes, as famílias de seringueiros, antes isoladas, começaram a se integrar e se engajar em defesa da floresta, na qual viviam e da qual tiravam o seu sustento.

Em 1975, Chico Mendes assumiu a secretaria geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileira. Participou também da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, em 1977, e foi eleito vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar. Em 1979, foi acusado de subversão e torturado por agentes da ditadura. No ano seguinte, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) e tornou-se seu dirigente no Acre.

Para defender as comunidades tradicionais da Amazônia, Chico Mendes participou da criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, em 1985. Nessa época, começou a receber ameaças de morte por parte de fazendeiros.

Continua após a publicidade

+ Minorias sociais: o que você precisa saber sobre o tema?

No 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, no mesmo ano, apresentou a proposta de “União dos Povos da Floresta”, que buscava reunir seringueiros, indígenas, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas em defesa da Floresta Amazônica, por meio da criação de reservas extrativistas . Esse conceito compreende demarcar as áreas de floresta utilizadas por povos locais, permitindo a sobrevivência da população com base na coleta sustentável dos produtos florestais, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte.

Apoio internacional

A repercussão dessas lutas ultrapassou as fronteiras do Brasil. Em 1987, Chico Mendes foi convidado a ir ao Congresso norte-americano para denunciar a devastação da Floresta Amazônica e a expulsão dos seringueiros de seus locais de vida e trabalho. Ele recebeu também vários prêmios internacionais, entre os quais o Global 500, da Organização das Nações Unidas, em 1987.

+ Entenda como a Amazônia afeta o clima do mundo todo

Continua após a publicidade

Em 1988, Chico Mendes conseguiu a desapropriação do seringal Cachoeira, do fazendeiro Darly Alves da Silva, em Xapuri. Nesse momento, as perseguições e ameaças de morte se intensificaram. O ativista denunciou o fato às autoridades e pediu proteção policial.

Apesar disso, foi assassinado enquanto saía para tomar banho no banheiro externo de sua casa. A tocaia foi armada pelo fazendeiro Darly e seu filho Darci. A morte de Chico Mendes provocou grande repercussão internacional, o que pressionou as autoridades a avançarem nas investigações. Diferentemente de outros crimes semelhantes que ficaram impunes, pai e filho foram condenados a 19 anos de prisão.

Em 1990, um dos maiores sonhos de Chico Mendes se realizaria: a criação da primeira reserva extrativista no Acre. Em 2007, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Entretanto, passados mais de 35 anos do assassinato de Chico Mendes, a violência no campo segue como um dos maiores desafios para a vida democrática no Brasil.

Entre no canal do GUIA no WhatsApp e receba conteúdos de estudo, redação e atualidades no seu celular!

Compartilhe essa matéria via:

Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.

Publicidade

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!