O Enem 2024 surpreendeu os candidatos com o tema de redação “ Desafios para a valorização da herança africana no Brasil “. O foco dessa frase temática , a herança africana no Brasil, é uma discussão central para compreender a realidade brasileira, logo, uma dúvida bem relevante pipocou entre os candidatos. Seria pertinente, ou até mesmo válido, utilizar repertórios internacionais em uma redação que analisa o fenômeno no Brasil ? Dava para citar autores como Angela Davis e Chimamanda Ngozi Adichie , que abordam a diáspora africana, mas não diretamente o cenário brasileiro?
A dúvida ganhou destaque nessa edição, mas, na verdade, é uma pergunta que pode surgir em qualquer tema de redação do Enem , já que a banca sempre aborda a realidade do nosso país. O GUIA DO ESTUDANTE conversou com professores para entender como esses repertórios globais podem ser usados para analisar o contexto nacional.
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Conexão com a realidade brasileira
Tanay Gonçalves , professora de redação da Plataforma Professor Ferretto, acredita que a resposta é sim: é válido usar repertórios internacionais para o tema. Mas ela destaca a importância de relacionar o repertório com a situação do Brasil. “É possível conectar os temas de redação com qualquer tipo de repertório, mesmo sendo internacional”, pontua. “Nada impede o candidato de trazer nomes estrangeiros, a exemplo da própria Angela Davis, da Chimamanda, ou, como alguns citaram, as músicas da Beyoncé , desde que primeiro faça-se a referência de acordo com o tema.”
A professora destaca que, ao citar pensadores de fora, o aluno deve contextualizar e adaptar as ideias para a realidade social e cultural brasileira, abordando aspectos pertinentes não para o panorama estrangeiro, mas para o do Brasil.
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Para Mateus Leme , professor de redação do Colégio Oficina do Estudante, é fato que citar pensadores e referências nacionais facilita a argumentação. O docente enfatiza, porém, que referências internacionais também podem enriquecer a redação. “Não há nenhum problema em citar repertórios e exemplos internacionais, desde que a tese – a ideia central a ser defendida – esteja relacionada ao Brasil”, afirma. Ele aconselha que, ao trazer uma referência de fora, o candidato deixa bem clara a ligação entre o exemplo e a tese principal.
Já deu para perceber que tudo vai depender da construção que for feita no texto, certo? Para completar, o Inep pedia uma análise do cenário brasileiro, mas essa também é uma questão em outros lugares do mundo. Explicamos melhor.
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Debates universais também têm espaço
André Barbosa , professor de redação também do Colégio Oficina do Estudante, ressalta que, apesar do foco do Enem ser no Brasil, o tema proposto em 2024 possui um caráter universal. Dessa forma, autores de referência global “podem ser citados mesmo não falando diretamente de uma realidade brasileira, porque […] é uma questão universal, quer dizer, ela não é considerada apenas no domínio brasileiro.”
A discussão acerca da valorização da ancestralidade africana está presente em todo o planeta. Ramificações provenientes do tema, como racismo e apagamento histórico, também são amplamente discutidas em outras realidades para além da brasileira. Sendo assim, os Estados Unidos de Angela Davis ou a Nigéria de Chimamanda podem, sim, acrescentar significativamente à discussão nacional.
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“A cereja do bolo, o nível diamante desse tipo de citação, seria fazer uma ligação de dois tipos de repertório: tanto um repertório da literatura, da sociologia e de outras ciências humanas internacionais, como de autores brasileiros”, completa Barbosa. Exemplos de autores nacionais que poderiam ser citados no texto incluem Milton Santos , Lélia Gonzalez , Conceição Evaristo , Neusa Santos Souza, Lilia Schwarcz e Laurentino Gomes.
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