Você já deve ter escutado a história de que, na Idade Média , canhotos eram perseguidos e queimados na fogueira por bruxaria. Ou então que há poucas décadas no Brasil, durante o século 20, estudantes eram constrangidos e até agredidos nas escolas por usarem a mão esquerda para escrever – em muitos casos, eles tinham o braço amarrado para serem forçados a escrever com a mão direita. Nada disso é lenda urbana. Especialistas estimam que o preconceito contra canhotos (que tem até nome, “sinistrofobia”) pode ter começado há mais de 350 mil anos, e ainda hoje deixa resquícios. Não é à toa que em alguns idiomas, a palavra “canhoto” também é sinônimo de “desajeitado”, “fraco”, “mau” e por aí vai.
Abaixo, entenda a possível origem do preconceito contra canhotos e como ele se perpetua em alguns idiomas modernos.
Um lugar ao sol
Embora muitos se debrucem sobre o tema, ainda não há uma explicação unanime para a sinistrofobia. Esta reportagem da SUPERINTERESSANTE conta que uma das mais aceitas é que a valorização do lado direito em detrimento do esquerdo começou com povos primitivos do Hemisfério Norte, adoradores do Sol. Como, para eles, a estrela parecia nascer e se movimentar da direita para a esquerda, o primeiro lado passou a ser associado à prosperidade e boas novas. Ao outro, restou a escuridão.
Cultura vai, cultura vem, cada um achou sua forma de perpetuar essa crendice. A Bíblia cita o lado direito de forma positiva mais de 100 vezes – todo mundo sabe que Jesus Cristo senta-se à direita de Deus. O lado esquerdo, por outro lado, é citado pelo livro sagrado de forma pejorativa dezenas de vezes. Por essas e outras, durante a Inquisição muitos canhotos acabaram queimados na fogueira, acusados de bruxaria.
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Pode parecer que a sinistrofobia ficou no passado, mas não é bem assim. Em 2014, uma pesquisa conduzida em Harvard com cerca de 47 mil pessoas indicou que os canhotos ganham em média 12% a menos que os destros durante sua vida produtiva, um reflexo de traumas e dificuldades impostos pela sociedade.
A exclusão na ponta do lápis
As palavras têm poder e, no caso dos canhotos, elas serviram para perpetuar a ideia de que essa parcela da população é fraca, maldosa ou atrapalhada. Para entender, é preciso antes um resgate etimológico à língua fundadora do português: o latim.
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Em latim, a palavra utilizada para designar a esquerda era sinistrum ou sinister , que significa também azarado. Por consequência, línguas de origem latina como o português, o francês e o espanhol herdaram essa ideia. Mas não foram só elas.
Idiomas de outras origens, como o alemão ou o russo, também associam a esquerda ao que é errado e até maldoso, comprovando que a aversão a este lado da força é um fenômeno que atravessa sociedades e milênios.
Veja abaixo algumas línguas em que a palavra “canhoto” ou “esquerda” tem outras definições bastante negativas:
- Alemão : “lynks” significa canhoto, mas também é associado à traição e mentira;
- Húngaro : “bal” é esquerda, mas também “mau”;
- Inglês : “left” (esquerda) veio de “lyft”, que é o mesmo que “fraco”;
- Francês : em francês, quem escreve com a mão esquerda é “gaucher”, que vem de “gauche” (esquerda). Essa última, por sua vez, também é sinônimo de “desajeitado”, “atrapalhado”.
- Russo : no idioma, esquerdo é “levyi”, sinônimo de maldoso ou estranho.
- Turco : canhoto é “solak”, que vem de “sol”. “Morte” ou “doente” estão entre os sinônimos da palavra.
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