Questão com erro do Enem: professores explicam confusão e como resolver de maneira certa

Uma questão "impossível" apareceu na prova de física do segundo dia do Enem; veja porque está errada e como seria maneira certa de resolver

Questão com erro do ENEM deve ser anulada
Foto: Reprodução / Enem
Questão com erro do ENEM deve ser anulada


O Enem 2024 pode ter uma das questões de física anuladas. A pergunta fez parte do segundo dia de provas que aconteceu neste domingo (10) e, de acordo com especialistas, não tem uma resposta correta.

A questão apareceu como 124 no caderno verde, 100 no cinza, 129 no azul e 102 no amarelo. Ela pergunta:

Um estudante comprou uma cafeteira elétrica de 700 W de potência e com capacidade de 0,5 L de água (500 g). Enquanto o café estava em preparação na capacidade máxima da cafeteira, ele marcou que demorou 3 minutos para a cafeteira ferver toda a água (100 °C) a partir da temperatura ambiente de 20 °C. Em seguida, para avaliar a eficiência da cafeteira, ele calculou esse tempo desprezando quaisquer perdas energéticas. É necessária 1 cal (4,2 J) para elevar em 1 °C a temperatura de 1 grama de água. Qual a eficiência energética calculada pelo estudante?
a) 100%
b) 75%
c) 60%
d) 7,5%
e) 5,1%

Porém, de acordo com professores especialistas, nenhuma das respostas é viável. Como explicou Madson Molina, professor de física do Curso Anglo , a pergunta é “fisicamente impossível” e uma “falha conceitual”, porque:

"Quando você calcula a potência da cafeteira com os dados do enunciado, a gente encontra um valor de 933 watts. Esse valor é acima da potência total fornecida pelo enunciado da cafeteira de 700 watts. Em suma, a questão propõe uma máquina cuja potência total é de 700 watts e quando a gente calcula a potência útil de 933 watts é maior do que a potência total, o que fisicamente é impossível."


Pergunta pode afetar desempenho na prova

O professor Átila Zanone, coordenador de conteúdo do Fibonacci Sistema de Ensino , concordou e enfatizou que a questão tinha um “cálculo investido e impossível. [...] Não tem como chegar na água algo maior do que saiu da tomada, que saiu da parte elétrica da cafeteira.”

Para ele, a questão pode, inclusive, afetar o desempenho dos alunos que, de fato, entendem o raciocínio necessário para responder à questão:

“Brincando com os alunos, o que eu disse é que faltou mencionar que no meio desse aquecimento passou o super-homem com a sua visão de calor, e aí ajudou a potência elétrica e forneceu mais calor do que o que saiu da parte elétrica. Ela está completamente defeituosa. Dependendo em qual caderno estava essa questão, muitos alunos perderam tempo, porque é uma questão muito clássica, é um raciocínio muito clássico. Ela estar com erro conceitual pode ter sido um fator complicador para bons estudantes.”

E como se resolve esse tipo de questão?

Caio Britto, autor de física do Colégio e Sistema pH , concorda com o erro e explica a lógica que o aluno aprende em sala de aula para responder questões do tipo:

"A questão trabalha rendimento, e toda vez que trabalhamos rendimento, levamos em conta o total do aparelho: o que realmente pega de energia e o que efetivamente utiliza para o objetivo."

"No caso da questão, a conta que a gente tem que fazer: ele te dá a potência total (nominal), o quanto ele realmente pega da luz, que é 700 watts, só que, quando você faz a conta do que realmente utilizou, você acha um valor de potência maior do que ele deu como máximo. Fisicamente, não faz sentido. A cafeteira tem uma perda de potência para o ambiente, naturalmente o que utiliza é menor do que pega. Mas, na hora de fazer essa conta, não aconteceu. Aí, você teria que fazer o 933/700, que dá maior que 100%, não pode estar certo, não existe eficiência maior que 100%.”

Ele explica, ainda, que a resolução do exercício foi confusa e errada: se você dividisse do modo contrário (700/933), daria uma das opções. Foi um erro de escrita da questão. 

** Jornalista pelo Mackenzie e cientista social pela USP, trabalha com redação virtual desde 2015 e teve passagem em grandes redações do Brasil. Curte cultura, política e sociologia.