Cerca de 3,9 milhões de estudantes fizeram neste domingo (5) a primeira prova do Enem 2023. O exame contou com questões de linguagens, ciências humanas e redação, tendo como tema "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
O Portal iG – Último Segundo conversou com o professor autor do Colégio e Sistema pH, Diogo D’Ippolito, e com o diretor do Curso Anglo, Sérgio Paganim, sobre o nível e particularidades da prova. Ambos disseram que o exame abordou importantes questões sociais, explorando o raciocínio crítico dos estudantes.
“As questões possuem temáticas importantes como racismo, questões de gênero na redação, identidade cultural, variação linguística e atualidade. De uma forma geral, as questões foram bem trabalhadas e desafiaram os estudantes a associarem conteúdo com a vida real, pensando de forma crítica”, analisou Diogo.
“A gente teve poucas questões de filosofia; o foco foi muito mais em sociologia, tendo outros componentes, como sociologia com história, sociologia com geografia”, acrescentou.
“Em primeiro lugar, chama a atenção a prova com uma temática social muito forte. Os textos, sejam para as questões de linguagem, seja para as questões de ciências humanas, textos que exploram muito temáticas relacionadas aos direitos humanos, à cidadania. A gente viu muitas questões que tinham como texto base o tema da desigualdade de gênero, desigualdade racial, escravidão, ditadura, preconceitos, violência contra a mulher, meio ambiente, o sentido da palavra de casamento no dicionário, taxa de fecundidade, mercado de trabalho, mulheres trans no esporte, ou seja, a primeira grande questão é olhar a prova do ENEM como uma prova fiel ao seu princípio original que é de fazer o aluno refletir sobre grandes questões sociais e refletir à luz da história, à luz da geografia, da filosofia, da sociologia, à luz dos recursos linguísticos e artísticos”, explicou Paganim.
“Não é um conjunto de textos sobre qualquer assunto, sobre qualquer tema que vai ser analisado na questão. Não, tem um fio condutor de cidadania, de problemas sociais, de temáticas importantes da sociedade brasileira, que conduz aí a reflexão das questões de linguagens e idiomas”, completou.
Pouco texto híbrido
Os especialistas também se surpreenderam com a diminuição de textos híbridos no primeiro dia de prova.
“Linguagem foi uma prova com muitos aspectos linguísticos, tendo pouca literatura esse ano. Outra coisa que me chamou a atenção foi a prova ter poucas questões com imagens, que são os textos híbridos, o que era uma característica muito típica da prova de linguagens”, comentou Diogo.
“Uma prova com muito texto. Então houve poucos gráficos, tirinhas, imagens, campanhas publicitárias, que já foi uma tônica do Enem. A gente tem aqui, na verdade, fundamentalmente, uma prova com uma quantidade muito grande de textos, textos de diversos gêneros textuais, mas textos verbais, textos escritos, o que leva, primeiro, a uma exaustão”, pontuou Paganim.
“São cinco horas e trinta de leitura, tem a produção da redação, mas muita leitura, o que configura a prova do Enem como uma prova fundamentalmente de leitura, de leitura de textos, que inclusive deixa de ser uma prova tão conteudista, claro que cobra alguns conteúdos, mas a leitura dos textos é fundamental para estabelecer a relação entre a atualidade, entre os problemas sociais e os conhecimentos específicos das disciplinas que são abordadas nesse primeiro dia, linguagens e ciências humanas”.
Redação
Além das questões, o tema da redação deste ano foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. "Essa escolha reflete a relevância de abordar as questões de gênero e o trabalho não remunerado das mulheres.
“De forma geral, a redação também acaba se colocando nessa mesma lógica de um tema social, em que a gente faz uma análise fundamentalmente de causas e efeitos dos desafios por enfrentamento da invisibilidade do trabalho. De cuidado realizado pela mulher no Brasil. Primeiro, o destaque importante é uma frase temática longa. Cobrir todos os elementos dela, todas as palavras-chave, vai ser um desafio para o candidato”, relatou Paganim.
“Segundo, tem alguma questão importante aqui na coletânea. A coletânea apresenta algumas nuances. O texto 1 fala dos aspectos econômicos do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Fala em remuneração, força de trabalho, economias que estagnariam. O texto 2 chama a atenção para a questão de gênero. São a maioria mulheres que trabalham e numa faixa etária da adolescência, o que tem impacto na cultura, na escolarização. O texto 3 destaca que há uma mudança na percepção social sobre as mulheres, mas não em relação ao trabalho de cuidado. E o texto 4 fala do que se chama de geração de um sanduíche de mulheres que cuidam de crianças e idosos e aí”, detalhou.
Dificuldade da prova
Na avaliação de Diogo, a prova teve um “nível de dificuldade média para fácil”, mas que isso não diminuiu a importância das questões.
“Considero a prova média nos temas de ensino médio, porque não passou por todas as matérias do ensino médio, algo que já era esperado. Se eu pudesse dar uma nota, seria 8,5, muito pela abrangência média de cada componente”, concluiu.
Enem 2023
O ENEM é uma das provas mais aguardadas e abrangentes do Brasil, abrindo portas para milhares de estudantes que buscam o acesso ao ensino superior. Em 2023, o número de inscritos cresceu em comparação com o ano anterior.
Neste ano, 3,9 milhões de estudantes se inscreveram para fazer o exame. No ano passado, o número foi de 3,4 milhões de pessoas.
A realização do exame continua sendo uma etapa importante para muitos estudantes que buscam o ensino superior, independentemente das questões políticas e das metas de inscrição.