Enem: Após resultados, professores comentam prova
Notas foram divulgadas ontem pelo Ministério da Educação
Desde a noite de ontem, os estudantes que fizeram o Enem podem consultar as suas notas. O vestibular é a principal forma de acesso ao ensino superior, abrindo portas do Prouni, em universidades particulares, e Sisu, em públicas. A divulgação estava prevista anteriormente para o dia 11.
Diante da ansiedade dos alunos em descobrir se serão aprovados nas maiores universidades do país, reunimos professores da plataforma de ensino do Professor Ferretto para opinar sobre o conteúdo e a realização das provas.
"A prova foi extenuante, cansativa. Desde a primeira aplicação do Enem como Vestibular, em 2009, não se via tantas páginas, com apenas duas questões por página. Foram textos com 4, 5 parágrafos, esse é o primeiro ponto que eu destaco. O segundo é que algumas competências apareceram demais, como identificação de estratégias argumentativas para persuasão, e outras apareceram de menos. Senti falta de questões envolvendo mais gramaticalidade, mesmo que aplicada à interpretação, senti falta de questões envolvendo historiografia literária, mais questões envolvendo gêneros digitais e obras de arte", afirma o professor João Filho sobre o caderno de Linguagens.
"Havia também muitas questões envolvendo Machado de Assis, nada contra, mas outros autores apareceram de menos. Tudo isso é reflexo de uma prova que foi feita com as últimas questões do banco. Vale salientar que, em 2020, 2021 e 2022 não houve atualização do banco de dados do Enem, o que resultou em uma prova muito extensa, cansativa, cobrando alguns conteúdos de mais e outros de menos."
Filho analisou também o tema proposto para a redação. "O eixo temático foi muito bom, falar de inclusão social, cidadania, totalmente pertinente, plausível. Os professores do Brasil todo devem ter trabalhado argumentos de autoridade, repertório para discutir temas de inclusão social. Um tema semelhante caiu no Enem de 2014, porque uma das primeiras garantias dadas aos haitianos que vieram para o Brasil foi um registro de cidadania, para que eles pudessem ter acesso a serviços básicos no país."
"O eixo foi ótimo, mas o recorte dentro do eixo foi mais difícil, falar de invisibilidade do registro civil, garantia de acesso à cidadania no Brasil. Esse recorte exigiu que o aluno acessasse repertório sobre os “invisíveis” aos olhos do Estado”, que não tiveram acesso a benefícios sociais no momento da pandemia, enquanto muitos outros ganharam sem legitimidade. Então eu diria que o eixo foi tranquilo, mas o recorte deu um grau de especificidade maior. O aluno tinha que ter essa percepção de notar os brasileiros que não foram assistidos na pandemia pelas políticas governamentais."
A prova de ciências humanas foi analisada pelo professor Mário Marcondes. "verificou-se uma redução do número de questões com relação aos anos anteriores. De uma média de 9 a 10 questões dos últimos dois anos, foram cobradas 5 questões que podem ser classificadas exclusivamente como de Filosofia. O nível de dificuldade foi de médio para baixo, e os temas cobrados não fugiram muito dos autores clássicos. Ainda assim, foi uma prova que exigiu conhecimento das principais ideias dos autores cobrados e que dificilmente seria resolvida exclusivamente com base na interpretação dos textos apresentados. Pensadores como Platão, Descartes e Nietzsche, que são frequentemente cobrados, estavam presentes na prova."
Pedro Renno afirmou que a prova de história "surpreendeu, se comparada a anos anteriores".
"A prova de história do ENEM surpreendeu, comparada aos anos anteriores, com o retorno de questões sobre a Era Vargas, muito pedidas pelos estudantes, além de temáticas sobre Idade Média e Revoluções Inglesas. Foi mais fácil identificá-las para respondê-las, apesar da variação de dificuldades, de questão para questão".
"A prova de Sociologia também teve um conteúdo diferenciado, comparado a outros anos, cobrando questões relacionadas às desigualdades sociais, cultura e gênero. No geral, foi uma prova que agradou um pouco mais do que 2019 e 2020", completou.
Nas questões de geografia, o nível foi considerado "médio", e em ciências da natureza, com questões "atípicas".
"A prova de geografia manteve um padrão de contextualização dos temas, sobretudo com a interpretação de textos abordando a variedade de assuntos da área de Geografia. Geografia econômica, humana e física estavam presentes com os temas muito comuns (meio ambiente, agricultura, indústria e urbanização)", avaliou o professor Alexandre Groth.
"Um aspecto negativo da prova foi a carência na diversidade de linguagens exploradas. Desde o surgimento do ENEM, com a proposta de avaliar o desenvolvimento de habilidades e competências no ensino médio, é comum a presença de gráficos, tabelas, mapas, charges e outras linguagens", disse.
"Na prova de ciências da natureza, a parte de biologia veio bem atípica em relação ao conteúdo, com poucas questões de ecologia, que normalmente é o assunto mais incidente, e com muitas questões de botânica, o que não é comum. Além disso, caiu uma questão envolvendo fisiologia animal e zoologia com uma abordagem nunca usada no Enem", afirmou o professor Michel Arthaud.
"A prova de química trouxe assuntos comuns como eletroquímica, separação de misturas e estequiometria. O nível foi bom e a prova estava com estilo semelhante às provas anteriores. Uma questão, do assunto isomeria, chamou atenção por ter a possibilidade de duas interpretações e duas possíveis respostas. Observa-se uma necessidade crescente de interpretação nas questões", avalia.
"As questões da Física estavam muito bem escritas e bastante contextualizadas, fazendo referência a situações cotidianas. Pode-se dizer que a prova foi muito mais conteudista e menos interpretativa, abordando assuntos de costume, com grande destaque para eletrodinâmica, cobrada em mais de 25% da prova, além do que já era esperado, como termologia, dinâmica, cinemática e ondulatória.
Para consultar o resultado do ENEM, basta acessar a Página do Participante em enem.inep.gov.br e fazer o login com os dados cadastrados. Mais de 2,17 milhões de estudantes realizaram a prova - o menor número desde 2004.
O MEC ofertará 221.790 vagas para a primeira edição do SiSu, 84% em instituições federais. Para participar, é preciso não ter zerado na redação e ter feito a última edição do Enem. As inscrições começam no dia 15.
O Prouni terá a maior oferta de vagas da sua história: mais de 273 mil bolsas estarão disponíveis, 181.036 integrais e 91.965 parciais. As inscrições começam no dia 22 e vão até o dia 25.