Rio: Escolas particulares se dividem sobre retorno às aulas presenciais

Volta às unidades já é uma realidade entre muitas unidades privadas, que têm estrutura para investir na contratação de professores e na ampliação de salas

Foto: Banco de Imagens/Pexels
Rio: Escolas particulares se dividem sobre retorno às aulas presenciais

Um dia após o comitê científico da Prefeitura do Rio  recomendar o retorno pleno às aulas presenciais para todas as redes do município, inclusive a privada, as escolas particulares se dividem na adesão à medida. Algumas ainda aguardam a Secretaria municipal de Educação (SME) regulamentar a mudança em publicação no Diário Oficial e divulgar o prometido calendário de retomada, que deve orientar a transição para o novo modelo. Houve, porém, quem tenha antecipado o fim do distanciamento mínimo de um metro — condição para que todos os alunos de uma mesma turma possam voltar a comparecer juntos a uma mesma aula, sem rodízio — já nesta quinta-feira. E há quem já esteja decidido a não implementar a novidade, mesmo depois de a prefeitura transformá-la em decreto, devido ao choque entre as legislações municipais e estaduais.

Isso porque uma resolução conjunta publicada em agosto pelas secretarias estaduais de Educação e de Saúde, que também definem protocolos para a rede privada (além das estaduais), estabelece um distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os alunos. Ela também determina que, caso a determinação do município seja mais restritiva, as escolas devem segui-la. Em consonância com a nova decisão da capital, no entanto, a legislação estadual resolve ainda que as escolas podem receber 100% de seus alunos presencialmente nas cidades com bandeira amarela na classificação de risco, que é o caso do Rio de Janeiro.

O retorno pleno das atividades presenciais já é uma realidade entre as escolas privadas, que têm estrutura para investir na contratação de novos professores e na ampliação do número de salas para receber todos os seus estudantes ao mesmo tempo. Em muitas delas, as turmas foram subdivididas para que não houvesse aglomeração durante as aulas. Como no Colégio Qi Recreio, onde estuda Guilherme Bittencourt, de 11 anos, aluno do 1º ano do Ensino Fundamental. Sua mãe, a chef de cozinha Roberta Bittencourt, de 43 anos, resolveu colocá-lo em regime plenamente presencial na volta das férias de julho.

"O ensino híbrido era muito difícil, especialmente nas semanas em que ele ficava direto em casa. Eu, que trabalho em casa, no meu ateliê, tinha dificuldade para dar a atenção de que ele precisava nos estudos", conta ela, que tem outro filho, de 16 anos, estudando em regime 100% presencial desde o início do ano. "O maior impacto da volta ao presencial foi no campo emocional. O convívio com amigos e professores faz muita diferença. Até o humor dele mudou".

Sobre o fim do distanciamento, a rede Qi aguarda a publicação do decreto da prefeitura para se decidir. Diferentemente da creche-escola Sunny Days, no Méier, que resolveu aderir à mudança já nesta quinta-feira. Os alunos da creche de luxo, que têm entre 6 e 11 anos, ajudaram a retirar do chão as fitas que marcavam a distância entre as carteiras. A cena se repetiu na creche-escola Bom Tempo, em Botafogo, do mesmo grupo educacional.

Por outro lado, algumas escolas resolveram que não vão implementar a novidade nem mesmo após a regulamentação da prefeitura. É o caso do pH e do Santo Inácio, que aguardam um posicionamento por parte do governo estadual.

"Todas as nossas decisões são baseadas nas recomendações oficiais dos órgãos competentes. Estamos aguardando um posicionamento do governo estadual sobre o assunto para tomarmos decisão. Mais de 90% das nossas turmas já não têm rodízio", diz Filipe Couto, diretor pedagógico geral do colégio pH.

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Pioneira no anúncio da exigência de comprovante de vacinação a seus alunos, a Escola Americana já disse que não vai reduzir o distanciamento, sem dar justificativas. A instituição também foi uma das primeiras a permitir o retorno 100% presencial a seus alunos, sem adotar o regime de rodízio.

Impasse

A prefeitura do Rio ficou de divulgar um calendário para a retomada paulatina do ensino presencial pleno na noite desta quinta-feira, mas isso não aconteceu. As autoridades tampouco deram previsão de quando a regulamentação da mudança será publicada no Diário Oficial.

Apesar do descompasso gerado por esse impasse, as escolas particulares devem manter seus recursos virtuais por um longo tempo, dado o investimento realizado até agora.

"Imagino que o ensino híbrido seja uma possibilidade até o fim do ano, pelo menos. Também pretendemos prosseguir incentivando a vacinação, que olhamos de maneira muito positiva", diz o diretor do Colégio Qi, André Marinho.

As universidades privadas devem seguir o mesmo caminho. A Pontifícia Universidade Católica (PUC) informou que já iniciou as atividades presenciais em alguns laboratórios mediante a exigência do comprovante da vacinação, e em 2022 deve retornar na forma híbrida.

A Estácio atualmente possui 60% das aulas presenciais e vai manter o esquema até o ano que vem, quando avaliará o cenário para o retorno. Já as Faculdades Integradas Hélio Alonso permanecem com as atividades remotas e planejam a volta presencial em fevereiro do ano que vem, caso o cenário epidemiológico permita.