Em 2020, pandemia força aulas online e escancara desigualdade na educação
Retrospectiva 2020: risco de contaminação pela Covid-19 impôs uma nova realidade , que gerou muito estresse para alunos e professores
A educação foi uma das áreas mais afetadas pela pandemia da Covid-19. Em contrapartida, foi um dos setores que mais rápido conseguiu responder à necessidade de manter as atividades funcionando durante o isolamento social. Milhões de alunos, professores, escolas e universidades do Brasil migraram para o ambiente digital
, mas parte do corpo estudantil do país ficou de fora da inclusão educacional online
.
Reportagens publicadas pelo iG em 2020 contaram as dificuldades de dezenas de alunos e professores para se adaptar o novo modelo de aula e estudo. A reportagem especial "Cheguei a ficar doente: professores relatam sofrimento na pandemia"
, publicada no dia dos professores, relatou a realidade de três educadoras das redes pública, municipal e de cursinhos populares, que tiveram de lidar com a sobrecarga de trabalho, as jornadas de trabalho estendidas, a ausência dos alunos, a precariedade da estutura para realização da aulas onlines e a evasão esscolar alarmante.
Muitos alunos desistiram de estudar por conta da falta de equipamentos adequados, da falta de internet, do ambiente inadequado para estudo e do desgaste emocional causado pela adaptação ao ensino virtual em meio à pandemia. A falta de estrutura para a realização de aulas online também atingiu os alunos das universidades públicas .
A pesquisa "Juventudes e a Pandemia do Coronavírus", desenvolvida pelo Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), mostrou que 28% dos jovens pensam em não voltar à escola quando a crise da Covid-19 for controlada e metade dos entrevistados pretende desistir de prestar o Enem.
Apesar do ensino formal ter sofrido com as mudanças impostas pela pandemia, o mercado de cursos online experimentou um crescimento de mercado expressivo graças à pandemia. Em maio, um lavantamento feito pelo Google revelou que as buscas por cursos online cresceram 130% nos primeiros meses de quarentena .
Adiamento do Enem
No primeiro semestre de 2020, ainda nos primeiros meses da pandemia, o debate sobre o adiamento do Enem se tornou um dos temas mais inflamados e alvo de críticas ao governo federal, que na época tinha o ministro Abraham Weintraub à frente da pasta da Educação se posicionando contra a mudança de data das provas.
Educadores, entidades de representação estudantil, cursinhos populares e membros da oposição pressionaram o governo Bolsonaro para que a prova fosse adiada. A hastag "#adiaenem" esteve em alta durante boa parte do primeiro semestre de 2020.
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O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub chegou a realizar uma enquete com os candidatos inscritos para prestar o Enem 2021. Os estudantes escolheram realizar a prova em maio de 2021 - para ter mais tempo de preparação para a prova por causa da preacariedade do ensino -, mas o governo federal ignorou o resultado e decidiu realizar o exame em janeiro de 2021.
O Enem 2020 será realizado nas versão impressa nos dias 17 e 24 de janeiro, já a prova digital será aplicado nos dias 31 de janeiro e 4 de fevereiro - será o primeiro ano de aplicação do modelo virtual da prova.
Medidas educacionais dos governos
O governo federal trocou de ministro da Educação durante a pandemia - após as diversas crises causadas pelo ex-ministro Abraham Weintraub - e foi duramente criticado por educadores, reitores e membros da oposição pela morosidade e falta de articulação para responder às necessidades dos estudantes e professores. Weintraub deixou o cargo em 18 de junho de 2020, mas só foi substituido quase um mês depois por Milton Ribeiro, que assumiu no dia 16 de julho de 2020.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aprovou uma Medida Provisória que desobriga escolas e universidades de cumprirem a quantidade miníma de dias letivos . O Conselho Nacional de Educação também autorizou o ensino remoto até 2021.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a determinar o retorno das aulas presenciais no dia 4 de janeiro de 2021, mas desistiu após ser duramente criticado pela comunidade acadêmica . A informação mais recente divulgada pela pasta é de que as universidades voltarão às aulas presenciais em 1ª de março de 2021.
Em São Paulo, o governo do Estado realizou um levantamento que indica que mais de 500 mil alunos não entregaram as atividades propostas para o período da pandemia.
A prefeitura de São Paulo chegou a propor a aprovação automática, que foi seguida pelo Conselho Estadual de Educação com a elaboração da medida sobre a progressão de alunos que tenham entregado as atividades propostas.
O estado de São Paulo também adotou o ciclo único para os anos letivos de 2020 e 2021, com um ano a mais no ensino médio para os alunos que sentirem necessidade de recuperar os conteúdos perdidos.