Teoria sobre tema da redação do Enem ganha força na web, mas não convence todos
Nos últimos seis anos tema da redação estava relacionado com legislação aprovada no primeiro semestre, mas professor nega que haja relação
Estudantes e professores sempre ficam loucos antes do Enem tentando descobrir quais são os possíveis temas da redação. Recentemente, começou a circular na internet e entre os candidatos uma teoria que promete ajudar a resolver o mistério. Nos últimos seis anos, todos os temas da redação do Enem tinham relação com uma lei sancionada no primeiro semestre do ano. Se o padrão for mais do que uma mera coincidência, fica mais fácil imaginar qual o próximo assunto escolhido.
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Um dos responsáveis por disseminar a teoria foi o youtuber Umberto Mannarino, que tem 723 mil inscritos em seu canal Exatas Exatas em que, apesar do nome, dá todo o tipo de dica para quem está prestando Enem e vestibular. Ele recebeu a dica de um fã e logo gravou um vídeo comentando a possibilidade.
“Uma tendência de cinco anos não é de se jogar fora”, disse Mannarino sobre a relação dos temas com as leis. Ele conta que se surpreendeu quando recebeu a mensagem contando sobre isso e foi conferir.
Fato ou teoria da conspiração?
Nos últimos quatro anos os temas da redação do Enem estavam relacionados com leis que haviam sido sancionadas no começo do ano. Em 2015, por exemplo, o tema “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” remetia à Lei do Feminicídio, sancionada em março pela então presidente Dilma Rousseff.
Em 2014, a redação foi sobre publicidade infantil. Naquele mesmo ano, o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) emitiu uma resolução na qual considerava a publicidade infantil abusiva. No ano anterior, em 2013, os candidatos tiveram que escrever um texto dissertativo sobre os efeitos da implantação da lei seca no Brasil. A legislação havia sido sancionada nos últimos dias de 2012.
O professor Adriano Chan, do curso Laboratório de Redação, porém, afirma que isso não passa de uma teoria da conspiração
e diz que essa possibilidade tem sido espetacularizada na internet sem fundamento que a comprove. Segundo ele, não é correto dizer que a lei motivou a escolha do tema, mas é possível fazer essa associação porque a lei faz parte de um debate maior. “Não é necessariamente por causa de lei, é por causa do assunto que está em pauta”.
Adriano explica ainda que as próprias diretrizes do Enem determinam que o tema da redação deve ter uma dimensão ideológico-política. Assim, por mais que o tema não seja escolhido em função da aprovação ou não de leis, olhar para elas pode ajudar o participante a ter um norte sobre o que está sendo discutido. “Quando você observa as leis que estão sendo debatidas no Congresso, você tem uma visão geral do que tem sido temas de abordagem da vida social e política”, explica.
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Possíveis temas
Com base na teoria das leis aprovadas no primeiro semestre, Umberto Mannarino fez suas apostas para os temas mais prováveis para este ano. Segundo ele, evasão escolar, doação de órgãos, pessoas desaparecidas e saúde mental podem ser assuntos escolhidos.
O professor Adriano Chan, por sua vez, aposta em assuntos mais políticos. Para ele, soberania nacional, combate à corrupção e voluntariado (bandeira da primeira-dama Michelle Bolsonaro) são temas a se prestar atenção.
Adriano também acredita que pode haver uma reciclagem de temas que já apareceram em outros vestibulares ou no próprio Enem pois, para ele, há a quantidade de temas que podem ser escolhidos é limitada. Nesse sentido, algumas coisas que poderiam aparecer seriam a questão da vaquejada, a ampliação do acesso à internet e a reformulação da Lei Maria da Penha.
O professor afasta completamente a possibilidade de se tratar da reforma tributária, assunto que vem circulando entre os candidatos. Ele também acredita que haverá um filtro ideológico na escolha de temas, como indicado pelo ministro da Educação e pelo presidente do Inep .
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Dicas de última hora
O professor Adriano Chan recomenda que os candidatos prestem atenção na norma culta do português, fiquem atentos à coesão e usem conhecimentos escolares, como de história, literatura ou filosofia, nos argumentos. Ele também indica que os candidatos usem palavras-chave do assunto na introdução.
Além de aproveitar os últimos dias antes do exame para buscar repertório sobre os possíveis temas, Umberto Mannarino diz que é importante tomar cuidado com o fator psicológico nesta reta final.
“As pessoas se preocupam muito em fazer a redação o mais rápido possível ou fazer uma proposta de intervenção milagrosa que vai salvar o mundo, quando na verdade se você se preparou e praticou, não tem porque se preocupar com isso”, afirma. Para ele, para fazer uma boa redação do Enem “o importante é saber argumentar. Não se preocupar tanto com o tema em si e mais em saber defender seu ponto de vista”, completa.