Um professor de direito da Universidade de São Paulo (USP) causou polêmica em sua aula inaugural nessa segunda-feira (25). Eduardo Lobo Botelho Gualazzi entregou um texto aos alunos em que defende a ditadura militar, diz que LGBTs são "aberração" e ataca a população mais pobre.
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O professor entregou um documento com 12 páginas digitadas em máquina de escrever e impressas no papel timbrado da universidade, na aula de Direito Administrativo Interdisciplinar. Gualazzi reafirmou ser a favor da ditadura militar, ao fazer referência a uma aula ministrada por ele em 2014 intitulada "Continência a 1964", que também gerou protestos dos alunos da época.
O docente classificou partidos de esquerda como "energúmenos" e afirmou ser um liberalista. “Liberalismo econômico e conservadorismo social – eis a síntese de meu pensamento, de meu sentimento e de minha agenda”, defendeu.
Em outro trecho, Gualazzi afirma que casais LGBTs são "aberração" e "tarados e taradas", afirmando que a união entre pessoas deve consistir em "homem/mulher de mesma etnia". Ele também diz que "louva a raiz europeia da nação brasileira" e critica a miscigenação de raças. O magistrado ainda escreveu que a população pobre é “uma eterna minoria de submundo que se recusa a trabalhar”.
Em seguida, Gualazzi conta em quem votou nas eleições de 2018: Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, Major Olímpio (PSL) para senador, Luiz Philipe de Orléans e Bragança (PSL) para deputado federal e Paulo Skaf (MDB) para o governo de São Paulo. No segundo turno, João Doria (PSDB).
No fim do plano de aulas, o professor da USP também destacou trechos de falas do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e de discursos do presidente. Em nota, o Centro Acadêmico 11 de Agosto protestou contra a ação do professor.
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“O uso de trechos do discurso de Jair Bolsonaro para reiterar seus posicionamentos homofóbicos e racistas é mais uma reafirmação de que a eleição de Bolsonaro à Presidência da República representou a legitimação de posicionamentos que atacam as minorias sociais do Brasil, reafirmando seu discurso antidemocrático e anti-povo”, diz o documento.
A presidente do Centro Acadêmico, Laura Antes, disse em entrevista à Folha de S.Paulo que, mesmo tendo sido impresso no material timbrado da universidade, não é um documento oficial da USP. "Vamos exigir uma retratação pública do professor. Também estamos em contato com advogados para saber quais são as medidas cabíveis”, afirmou.
“Não sabemos o motivo do professor ter divulgado esse conteúdo agora, o que sabemos é que esse tipo de posicionamento é reiterado por ele em sua vida pessoal. Até então, não tínhamos provas de que ele, apesar de ser defensor público dessas ideias, usaria a sala de aula para divulgar seu discurso de ódio”, completou Laura.
Após a repercussão do caso, a USP enviou uma nota ao jornal para repudiar as declarações de Gualazzi. O diretor da instituição, Celso Fernandes Campilongo, afirma que a universidade “zela pela liberdade de cátedra e expressão” mas repudia “manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos”.
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O diretor afirmou ainda que “o respeito a todos, maiorias ou minorias, é valor inegociável" e que "vozes que, eventualmente, fujam dessas diretrizes não representam o pensamento prevalecente na Faculdade de Direito e merecem veemente desaprovação”, mas não informou se Gualazzi foi ou não punido. O professor não se manifestou sobre a polêmica.