Alunas dos cursos de Comunicação Social da Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho") denunciaram assédio moral e sexual dentro do campus de Bauru, em protesto realizado durante o evento de colação de grau na última quinta-feira (8).
Segundo participantes do coletivo " Unesp
Bauru Sem Assédio", a ideia do protesto durante a formatura veio de uma das formandas, sendo abraçada por outras nove alunas dos três cursos de Comunicação da Unesp: Jornalismo, Rádio e TV e Relações Públicas.
"A colação foi no Dia Internacional da Mulher, pareceu ainda mais coerente o protesto por conta do simbolismo da data. A partir da conversa inicial, fomos mobilizando outras meninas, pensando em frases, no momento que levantariam os cartazes, etc. Então, decidimos por levantar durante o discurso do orador porque é um momento importante da cerimônia e sabíamos que ele falaria da defesa de minorias no discurso", conta o coletivo feminista ao iG .
Os cartazes pediam pelo fim do assédio sexual e moral dentro da universidade. Entre as frases levantadas pelas universitárias havia: "Unesp sem assédio", "Quero aulas, não assédio", "FAAC [Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação] sem assédio".
Ainda segundo as organizadoras do ato, a reação no salão foi diversa. As alunas tanto foram aplaudidas como causaram o incômodo dos presentes. "Muita gente aplaudiu, outras pessoas ficaram de cara fechada. A mesa ficou visivelmente desconfortável, mas esse era o objetivo mesmo, mostrar que não ficaremos mais caladas. Além disso, foi uma forma de chamarmos a atenção das autoridades para um problema sério e que elas parecem ignorar", aponta o grupo.
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Ao que as estudantes relatam, existem vários casos de assédio dentro do campus
, especialmente entre professores e alunas, o que estaria sendo tratado de maneira displicente pelas autoridades responsáveis, de acordo com elas. "Dentro do curso de comunicação há vários casos recorrentes por parte de professores. Meio que todo mundo sabe, mas pouco se faz para mudar essa situação. É algo muito complicado, porque os canais de denúncia são muito falhos e a gente é desencorajada a todo momento a denunciar", protestam.
Além disso, as participantes do grupo Unesp Bauru Sem Assédio afirmam que "os relatos [recolhidos entre alunas] costumam ser sobre os mesmos professores, ou seja, é um comportamento frequente deles e não algo que a estudante tenha feito".
O coletivo
A criação do coletivo dentro da universidade surgiu exatamente como forma de tentativa das universitárias em chamar a atenção das autoridades sobre os casos criminosos contra as mulheres, além de prestar apoio às vítimas. "Nosso coletivo surgiu no final de 2017, depois de várias conversas informais entre as alunas. Em 2016, o antigo coletivo feminista da Unesp Bauru, o 'Abre Alas', já tinha promovido ações contra assédio no campus e, a partir dali, as conversas e trocas sobre o assunto aumentaram significativamente", explicam as participantes.
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Com pouco tempo atuando na universidade
, o protesto realizado na última quinta-feira foi o primeiro ato promovido pelo grupo, mas as responsáveis afirmam que "irão realizar rodas de conversa no campus para orientar as estudantes", e que desenvolverão "um passo a passo para ajudar na denúncia online".
"A gente sabe que, quando sofremos assédio de um professor, há muita confusão e culpa e conversar com quem já passou por isso é reconfortante, porque assim você percebe que não foi a única, nem que você provocou essa situação", finalizam.
A reportagem do iG entrou em contato com a assessoria de imprensa da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da universidade, que afirmou que "a Unesp repudia quaisquer opiniões preconceituosas e que incitem à discriminação, à violência e a sentimentos de ódio realizadas por pessoas ligadas ou não à instituição", e que no caso específico dos curso de Comunicação Social, existe apenas uma denúncia realizada, que está em processo de apuração".
Além disso, a instituição aponta que "as denúncias envolvendo servidores docentes e técnico-administrativos e alunos da instituição são recebidas pela Ouvidoria da Universidade e encaminhadas aos órgãos, internos e externos à Unesp, competentes para investigações, que correm sob sigilo. Nos processos de averiguação e de sindicância, que podem acarretar desde advertência a desligamento da instituição, a Universidade assegura aos envolvidos o direito de defesa e de contraditório".