Protagonistas do tema da redação, candidatos surdos comentam desempenho no Enem

Apesar de dominar tema, candidata surda diz que se preocupa com os erros ortográficos que pode ter cometido ao escrever a sua redação, pois tem a Libras como primeira língua; o novo recurso da videoprova foi bem aceito

Videoprova foi importante pois muitos candidatos surdos têm Libras como primeira língua e português como segunda
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Videoprova foi importante pois muitos candidatos surdos têm Libras como primeira língua e português como segunda

O tema escolhido para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ) deste ano surpreendeu muitos professores, especialistas e candidatos. Apesar de abordar uma questão bastante específica, os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil foi um tema que dizia respeito diretamente aos cerca de 6 mil candidatos surdos ou com deficiência auditiva que fizeram a prova, no último domingo (5).

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Um dos candidatos surdos , a estudante Gleice Genaro, afirmou que não consegue descrever a emoção que sentiu ao ver o tema da redação, quando recebeu a prova em mãos. Ela é surda congênita e estudou em escolas de surdos até o ensino fundamental.

“No ensino médio, comecei a estudar em uma escola pública onde não tinha a acessibilidade, mas meus amigos me ajudavam muito. Hoje também já enfrento as barreiras na faculdade. Eu não tenho a acessibilidade e, além disso, faltam intérpretes de Libras [Língua Brasileira de Sinais] nas aulas”, conta.

Esta foi a segunda vez que Gleice fez o exame. Ela já ingressou na faculdade de direito, mas quis prestar o exame neste ano novamente para experimentar o novo recurso da videoprova traduzida em Libras, oferecido pela primeira vez em 2017.

O recurso é importante porque muitos surdos e deficientes auditivos possuem a Libras como primeira língua e o português como segunda, o que dificulta o entendimento da prova no formato tradicional.

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Para Gleice, a possibilidade de fazer o Enem com a videoprova em Libras significa uma experiência única e histórica. “Foi a melhor prova de minha vida, afinal foi a única que fiz em vídeo em Libras, uma verdadeira inclusão”, descreve. Ela já tinha feito a prova com intérpretes de Libras, mas sentiu dificuldade. “Apesar de eu ser bilíngue, não chego ao mesmo nível de pessoas que têm a Língua Portuguesa como majoritária”, diz.

O Enem deste ano teve 1.925 solicitações de atendimento especializado para surdez e 4.390 para deficiência auditiva.

Reconhecimento

Aymee Lucy Silva, de 27 anos, também diz que ficou muito feliz com o tema da redação. “Já é hora de reconhecimento. Sou surda, tenho família surda também”. Ela fez o Enem pela segunda vez e quer cursar psicologia.

A estudante acha que o tema desagradou muitos candidatos por desconhecimento sobre o assunto. “O tema abalou o geral, mas é preciso acabar o preconceito com a pessoa surda e a pessoa com deficiência. Os participantes do Enem se chocaram com o tema”, afirma.

Apesar de dominar o conteúdo da redação , ela se preocupa com os erros ortográficos que pode ter cometido ao escrever o texto, pois tem a Libras como primeira língua. Ela também utilizou a videoprova traduzida em Libras e considerou que o recurso ajudou bastante na compreensão das questões.

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No Enem, para a avaliação da redação dos candidatos surdos são adotados mecanismos coerentes com o aprendizado da língua portuguesa como segundo idioma.  

* Com informações e reportagem da Agência Brasil.