Quinze anos depois, Beth Carvalho lança CD de inéditas

Com “Nosso samba tá na rua”, cantora faz menção à força feminina e levanta seu estandarte em defesa do samba

Foto: Reprodução
Capa do novo CD: 'Nosso samba tá na rua'

É inquestionável que o samba perdeu espaço nas duas últimas décadas. No começo dos anos noventa, principalmente, com a força do pagode e, mais tarde, com o movimento funk – ambos oriundos das classes menos favorecidas. Mas o samba é, por natureza, de resistência. É este o espirito do novo CD de Beth Carvalho, “Nosso samba tá na rua”. Após quinze anos só lançando coletâneas de sucessos e DVDs ao Vivo (“por obrigação do mercado”, se defende), Beth volta com tudo.

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O disco é dedicado a dona Ivone Lara, pioneira no mundo do samba. Segundo Beth, a homenagem serve por “ela ser a mulher que faz os “laraiás” mais bonitos da MPB”. Ivone foi a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba. “Nosso samba tá na rua” tem um ‘quê’ feminista. Não só pelo samba “Chega” (“Você zombou de mim/ Brincou com meu amor/ Eu já tô cansada de chorar/ Se um novo amor me convidar, eu vou”). Beth passou dois meses com problema de saúde e por pouco não ficou sem andar. Foi buscar força na vontade de cantar. O CD tem um pouco dessa luta e dessa resistência de bravura que tão bem permeiam sua trajetória.

Um dos destaques – também notoriamente feminino - é “Arrasta a sandália”, primeira composição de sua filha Luana Carvalho que é gravada. “Luana já fazia composições, mas é a primeira vez que uma letra sua é gravada. Gostei desse samba, não opinei em nada”, disse Beth em entrevista exclusiva ao iG . “Nosso samba tá na rua” não fica só com um tema, mas também levanta outas bandeiras ou, neste caso, outros estandartes.

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A negritude é cantada de forma explícita em “Samba mestiço”, composição de Ciraninho, nome forte nas disputas de samba na quadra da Portela, com outros parceiros. É verdade que o CD não seria menor se tivesse ficado de fora “Isso Acontece”, que destoa no repertório. Mas vale ressaltar a gravação de “Palavras Malditas”, de Nelson Cavaquinho que, assim como Cartola, foi amadrinhado pela mangueirense.

O encarte traz a foto de Beth rodeada de amigos em um encontro com o tradicional bloco Cacique de Ramos, que será enredo da Estação Primeira de Mangueira no próximo carnaval. Mangueira é, claro, sua escola do coração (com direito a “Verde e Rosa de Paixão”). Amor este que resistiu a desmandos incoerentes da antiga diretoria, que a impediram de desfilar em uma alegoria no carnaval de 2009.

O amor resistiu e persistiu. Não só o amor ao samba, mas a vontade de trazer de volta à luz a referência que serve de prólogo para a nova geração de sambistas de verdade. A cantora é, e ela sabe bem, esta referência. Com Beth Carvalho, o samba está de volta ao seu lugar de direito, com o povo, na rua.

SERVIÇO :
Lançamento do CD “Nosso samba tá na rua”, de Beth Carvalho
26 de novembro, às 22h.
Preços: R$ 70 a R$ 160
HSBC Brasil - Rua Bragança Paulista, 1281. Chácara Santo Antônio. SP

Foto: George Magaraia
Beth Carvalho em sua casa, no Rio de Janeiro

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