No 32º disco, Beth Carvalho segue renovando e preservando o samba

Com mais de 40 anos de carreira, cantora segue revelando compositores ao mesmo tempo que dá voz à tradição

Foto: AE
Beth Carvalho

A madrinha do samba está de volta. Depois de dois anos praticamente reclusa, por conta de um grave problema de coluna, Beth Carvalho acaba de lançar seu 32º disco, "Nosso Samba Tá na Rua" . O álbum mistura composições de artistas hoje consagrados que a cantora ajudou a revelar, como Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, com canções inéditas de novos nomes como Leandro Fregonesi. Para temperar, uma pérola esquecida de Nelson Cavaquinho.

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É uma atitude coerente com a obra de Beth. Há 40 anos ela é voz fundamental do samba, seja chamando a atenção para artistas ainda desconhecidos, seja mantendo viva a tradição do gênero. A redescoberta de Nelson Cavaquinho e Cartola nos anos 1970, por exemplo, passou por ela. A explosão do pagode de Almir Guineto e Zeca Pagodinho nos anos 1980 também. Seu feito mais recente foi descobrir o samba paulista do Quinteto em Branco e Preto.

Mas nem sempre foi assim. Beth Carvalho ficou conhecido em 1968 como cantora de bossa nova, após interpretar "Andança" ("Por onde for, quero ser seu par...") no Festival Internacional da Canção. Para interpretar samba, teve que comprar briga empresários, produtores e gravadoras. Uma trajetória parecida com a de sua maior rival, Clara Nunes, que começou cantando boleros e só partiu (também depois de muita briga) para o samba nos anos 1970.

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Beth Carvalho em 1979

A trajetória da artista entre o final dos anos 1960 e a primeira metade dos anos1970 está resumida na caixa "Primeiras Andanças" , lançada no final do ano passado. Ela reúne duas coletâneas de compactos lançadas no período, que retratam bem a turbulenta passagem da Beth emepebística e a Beth sambista, e seus três discos pela gravadora Tapecar: "Canto por um Novo Dia" (1973), "Pra Seu Governo" (1974) e "Pandeiro e Viola" (1975). Nesses, estava tudo dominado pelo samba.

"Canto por Um Novo Dia" tem a gravação definitiva de "Folhas Secas", samba de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito que homenageia a Mangueira. "Pra Seu Governo" traz os sucessos "1800 Colinas" (Gracia do Salgueiro) e "Maior É Deus" (Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudin). "Pandeiro e Viola" é mais fraco que os dois anteriores, mas em compensação tem uma versão de "Gota d'Água" que prova que Beth não deve nada ao primeiro time da MPB de Elis, Bethânia e Gal.

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A partir desses três álbuns, o caminho para a cantora estava pavimentado. Gravou Cartola ("As Rosas Não Falam" em 1976 e "O Mundo É um Moinho" em 1977), lançou pelo menos duas obras-primas (os discos "Pé no Chão", de 1978, e "No Pagode", de 1979) e abriu caminho para o pagode dos anos 1980 o grupo Fundo de Quintal de Jorge Aragão (autor de duas marcas registradas da cantora, "Vou Festejar" e "Coisinha do Pai").

Na década de 1980, Beth alternou grandes discos (especialmente "Suor no Rosto", de 1983, em que revelou Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz) com trabalhos pouco inspirados. E, dos anos 1990 em diante, voltou os olhos para o passado, gravando pérolas no samba paulista ("Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo", 1993) e baiano ("Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia", 2007) e revisitando a obra de Nelson Cavaquinho ("Nome Sagrado", de 2001).

"Nosso Samba Tá Na Rua" não é apenas seu retorno aos holofotes após dois anos de retiro. É também seu primeiro disco de músicas inéditas em 15 anos. Com o currículo que Beth tem, é bom prestar atenção no que ela tem para mostrar.

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