Premiado em Cannes, ator faz valer primeiro filme de Iñárritu sem Arriaga
O comentário social tem lugar de destaque na narrativa, mas é o sobrenatural que salta aos olhos. Em um parentesco com o personagem de Matt Damon em "Além da Vida" , de Clint Eastwood, Uxbal ouve os mortos. Para saciar famílias inconformadas com a perda, ele entra em ação, recupera últimos desejos e desculpas tardias, não raro sendo recompensado por isso e, na mesma proporção, sendo alvo da descrença e raiva dos enlutados.

Iñárritu vem dizendo que estava cansado das histórias paralelas que marcaram seus trabalhos anteriores e a parceria com Arriaga, mas "Biutiful" segue pelo mesmo caminho. Mesmo que diluídos na jornada de Uxbal, os imigrantes têm núcleos próprios no roteiro, com seus conflitos e problemas, lembrando, de certa forma, o pout-porri internacional de "Babel", sem o mesmo brilho e desenvolvimento. Isso porque a ênfase recai na família, conceito pulverizado em todas histórias e centralizado com força total na figura do pai zeloso interpretado por Bardem, em mais uma atuação magistral, reconhecida com a Palma em Cannes .
"Biutiful" é, sem dúvida, o trabalho mais pessoal de Iñárritu, tanto que o diretor dedica o filme a seu pai. Continua intacta sua capacidade de perturbar, de tirar o espectador da zona de conforto e colocá-lo no olho do furacão, face a face com os demônios de seus personagens. Contudo, o realismo extremo, a casualidade e o pessimismo irrefreável que também habitam suas obras agora dividem espaço com o fantástico.
A impressão é de que "Biutiful" procura carregar muito mais do que pode – os dramas, os simbolismos e os muitos personagens tentam e tentam sair do chão, muitas vezes sem conseguir. Felizmente, assistir a Bardem dar o sangue na frente das câmeras compensa os erros e acertos. Um monstro do cinema, e o trunfo de "Biutiful".
Assista ao trailer de "Biutiful":