Revelação está em livro escrito por Gilberto Braga sobre a minissérie
Anos Rebeldes
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No dia 11 de agosto de 18 anos atrás, uma passeata na avenida Paulista, em São Paulo, reuniu 10 mil pessoas, entre elas os estudantes com rostos pintados de verde e amarelo que seriam conhecidos como "caras-pintadas". Em 14 de agosto, foi ao ar o último capítulo de Anos Rebeldes, em que a jovem militante clandestina vivida por Cláudia Abreu morria na rua, metralhada pela polícia. No mesmo dia, Collor ia à TV convocar a população a sair às ruas vestida de verde e amarelo, em sinal de apoio à sua figura. Os caras-pintadas obedeceram o comando ao contrário, e tomaram as ruas com o slogan "fora Collor" e pinturas de rosto e roupas pretas.
Anos Rebeldes
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Nem tudo mudou desde então. Para divulgar seu livro, o teledramaturgo topa dar entrevistas à imprensa de 2010, mas apenas por e-mail. E oferece respostas lacônicas às perguntas. Provocado a aprofundar uma reavaliação sobre como Anos Rebeldes repercutiu nos fatos políticos reais de 1992, por exemplo, limita-se a afirmar: "Fiz isso no livro".
Mas Gilberto não se furta a afirmar que a série era "tendenciosa" a favor dos estudantes esquerdistas de 1968, nem a responder se ele, autor, se situa à esquerda no espectro ideológico: "Claro que a minissérie é totalmente contra a ditadura. Eu também sou. Ainda há pessoas de direita a favor da ditadura, que eles chamam de 'revolução'".
Escreve também sobre sua trajetória e convicções e sobre a resistência da Globo a dar vez a novos dramaturgos. Conta do pai que, escrivão de polícia, recebia ingressos gratuitos para espetáculos teatrais - devidamente desfrutados pelo filho adolescente. Revela que os protagonistas de Anos Rebeldes homenageavam personagens reais: o revolucionário João Alfredo (Cássio Gabus Mendes) e a despolitizada Maria Lúcia (Malu Mader) têm os mesmos nomes de João e Lucinha Araújo (pais do cantor Cazuza, e, ele, ex-presidente da gravadora da Globo, Som livre), e o antagonista de João Alfredo, Edgar (Marcelo Serrado), foi batizado com o nome de seu companheiro até hoje, Edgar Moura Brasil. A inspiração é só nominal, ou chega às personalidades dos personagens? "Só dos nomes", encerra assunto.
A edição de Anos Rebeldes em livro coincide com outro momento político importante do Brasil: a eleição de novo presidente após oito anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato que por pouco não derrotou Fernando Collor em 1989, na primeira eleição presidencial pós-ditadura. Enquanto prepara para estreia em janeiro de 2011 sua próxima novela global, Gilberto Braga revela em poucas palavras sua opção de voto para 2010: "Vou votar no Serra, porque sempre fiz campanha para o PT e me decepcionei muito nos últimos tempos".