“O Brasil precisa dar ao turismo a importância do agronegócio”. Essa foi a frase escolhida pelo repórter Celso Masson para escrever a manchete da entrevista que concedi a ele e que foi publicada nas chamadas ‘páginas azuis’ de edição recente da revista IstoÉ Dinheiro. A pauta da revista buscava encontrar respostas para o fato de o Brasil ser a maior potência mundial do Turismo , mas não conseguir desenvolver esse potencial. Na primeira pergunta, o jornalista colocou que “a contribuição do Turismo para o PIB brasileiro foi da ordem de 7,7% em 2019, antes da pandemia levar o setor a uma retração. Estamos bem atrás do México, Chile, Argentina e até do Irã. Por quê?”
Minha resposta foi assertiva: o Turismo deveria ser prioridade estratégica no país. E não é. O Brasil vem perdendo tempo ao investir em promoção e marketing internacionais, o que traria mais turismo e incrementaria sua imagem. Até 2004 tínhamos um pequeno superávit na balança de gastos de turistas [a diferença do que entra com a visita de estrangeiros e as despesas dos brasileiros em viagens internacionais]. Desde 2005 a conta inverteu e virou um enorme déficit, acumulando US$ 156,5 bilhões até 2021. Temos todas as condições de reverter esse quadro.
A pergunta seguinte abordou a questão política. Masson afirmou que “aproveitar as vantagens competitivas do Brasil no Turismo não parece ser uma prioridade do atual governo nem dos candidatos”. Respondi que falta a essa campanha presidencial entender que a guerra mundial por empregos passa pelo Turismo, que vai gerar um terço das novas vagas no planeta pelos próximos dez anos, segundo projeção do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês). O investimento da União com promoção e marketing do Turismo no mercado nacional despencou de R$ 38 milhões em 2018 para R$ 1,3 milhão este ano (os dados estão no Portal da Transparência). Temos que apertar o botão do Turismo.
“Mas o que significa o botão do Turismo e como isso pode ser feito?”, perguntou o jornalista Celso Masson, ao que respondi: o Turismo pode ser o novo agronegócio em termos de potencialidade econômica, porém com efeitos ainda mais positivos urbanos e sociais, mais qualidade de vida, empregos e oportunidades, como estamos buscando fazer em São Paulo e como fazem a Serra Gaúcha (RS) e Foz do Iguaçu (PR). O Brasil, que até 40 anos atrás era importador de alimentos, hoje é um dos maiores exportadores. Tanto no Agro quanto no Turismo o Brasil está no topo das vantagens comparativas mundiais.
No Agro, elas se tornaram competitivas com a integração à economia global. O acesso à tecnologia e ao conhecimento surgiu pelas cooperações internacionais da Embrapa e pelos efeitos dessa integração na chamada ‘revolução verde’, liderada pelos conglomerados internacionais, além dos bilionários investimentos em crédito. As políticas de apoio ao Turismo não têm sido prioritárias nas direções estratégicas do país. Não aproveitamos uma das megapotencialidades que vem da mesma matriz: o tamanho do Brasil. Temos o maior potencial natural para o desenvolvimento do Turismo no mundo e um dos dez maiores potenciais culturais do planeta.
Na parte seguinte da entrevista da IstoÉ Dinheiro conversamos sobre como transformar esse potencial em oportunidades. E este será o tema da nossa próxima coluna aqui no IG, em que vamos mostrar com bons exemplo e números, caminhos que podemos seguir, sempre com base no tripé planejamento, estruturação – com investimentos públicos e privados – e promoção. O Brasil tem jeito, e o Turismo é uma ferramenta essencial para dar esse jeito.