Selfie de Adi Baruch, soldada morta durante a guerra Espadas de Ferro, tirada horas antes de sua morte.
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Selfie de Adi Baruch, soldada morta durante a guerra Espadas de Ferro, tirada horas antes de sua morte.

Muitos israelenses têm uma capacidade inata de transformar o pó em ouro, tragédia em alegria, escuridão em luz. É uma espécie de alquimia, uma habilidade que independe de idade, gênero ou status social.

É incrível observar como essa capacidade se torna ainda mais proeminente em tempos de crise, como nestes últimos dois anos de guerra, tensão e tristeza, em que a morte tocou tantas, tantas famílias por aqui — sejam de reféns, de soldados ou de civis que sofreram perdas diretas por ataques do Irã, do Hezbollah, do Hamas ou dos Houthis.

O que muitas delas fazem a partir de eventos trágicos é quase mágico. Criam ONGs para apoiar diferentes públicos em situação de necessidade, doam para a construção de hospitais e centros de saúde mental, adotam crianças que perderam seus pais, oferecem assistência a mulheres e homens viúvos etc. Há também quem tome para si a tarefa de perpetuar a melhor expressão de vida de seus entes queridos.

A história de Adi Baruch

Ontem conheci mais um exemplo dessa graça tão típica daqui ao assistir à palestra de Orit Baruch, mãe da reservista Adi Baruch. Aos 23 anos, a fotógrafa alegre e agitada, que insistiu em ser convocada como reservista, morreu cinco dias depois do início da guerra, ao ser atingida por destroços de um míssil lançado pelo Hamas.

Em sua apresentação, Orit nos apresentou à sua primogênita — uma moça típica israelense: personalidade forte e um carisma que a fazia estar sempre cercada de pessoas, amante da natureza e de desafios. Aos 16 anos, anunciou que se tornaria fotógrafa. Profissionalizou-se e decidiu que fotografaria apenas casamentos, pois são eventos felizes que levam à formação de famílias e, consequentemente, ao crescimento demográfico da terra que tanto amava: Israel.

Pois é — Adi era sionista, essa palavra que pelo mundo se tornou um xingamento, mas que representa tão somente o amor pela terra de Israel e o entendimento de que o povo judeu tem direito à sua própria nação.

Ela insistiu para ser convocada pelo Exército para cumprir a função de Sargento de Operações que ocupara anos antes, durante seu serviço militar, cujo papel é ser a “ponte” entre o que os sistemas de vigilância mostram em tela e a atuação dos soldados em campo. “Você não me criou para eu ficar sentada, olhando” , disse ela ao pai quando ele tentou demovê-la da ideia.

Poemas e canções

Adi morreu a caminho de seu posto em Sderot, cidade que, no dia 7 de outubro de 2023, foi invadida por centenas de terroristas que permaneceram ali por dias. Os israelenses acompanharam, de coração partido, a cena de seu noivo desolado em frente ao local onde foi enterrada, com o anel com o qual planejava pedi-la em casamento no mês seguinte.

Noivo de Adi Baruch segura o anel de noivado em frente ao túmulo
Família Baruch
Noivo de Adi Baruch segura o anel de noivado em frente ao túmulo


A repentina morte da jovem tirou o fôlego da família por algum tempo — mas não por muito. Em seu computador, Adi mantinha uma pasta secreta com 130 poemas, vários dos quais foram transformados pela família em canções. Sarit Hadad, uma das cantoras mais famosas de Israel, gravou uma delas, na qual Adi diz: “Se eu morrer antes do tempo, quero que celebrem a vida e vejam o mundo por mim.”

Como resultado de uma campanha, girassóis — as flores preferidas de Adi —  foram grafitados por todo o país por israelenses que nunca a conheceram.

A fotógrafa Adi Baruch
Família Baruch
A fotógrafa Adi Baruch

Sabe-se que, em um quarto escuro, basta a chama mínima de uma vela para iluminá-lo. O que temos em Israel, no entanto, é bem maior do que isso: por todo lado, há enormes fachos de luz. E isso é tão, tão emocionante.

P.S.: Adi Hodaya Baruch é uma das 921 soldadas e soldados israelenses que perderam a vida na guerra Espadas de Ferro. 

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