
Há poucas semanas, o presidente da França, Emmanuel Macron , anunciou sua decisão de reconhecer a existência de um Estado palestino, sendo seguido pelos governantes do Canadá, da Austrália e do Reino Unido. Vale perguntar: o que significa “reconhecer” um Estado e quais as premissas para que essa ação tenha efeito na prática?
Segundo o direito internacional, é possível “reconhecer” um Estado desde que ele atenda aos seguintes requisitos: possuir população permanente, território definido, governo efetivo e capacidade de se relacionar com outros Estados. Gaza, no entanto, não responde aos dois últimos critérios .
“Portanto, quando estes países afirmam que reconhecerão um Estado palestino, estão desconsiderando o direito internacional. Essa declaração não é um reconhecimento legal: é um gesto político, ideológico e eleitoral mascarado de diplomacia ”, analisa o jurista Drieu Godefridi, PhD em Teoria Legal pela Universidade Sorbonne.
O Hamas celebrou a iniciativa e declarou: “Isso traz vitória e libertação antes do esperado". Aos olhos de Israel, esse tipo de ação premia o grupo terrorista sem trazer qualquer benefício humanitário para a população de Gaza. “O único resultado será a legitimação da política do jihadismo . Aparentemente, estes países se esquecem de que os jihadistas que ameaçam Israel hoje os ameaçarão amanhã”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
O embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee, ironizou a decisão: “Agora posso revelar com exclusividade que a França oferecerá a Riviera Francesa e o novo país se chamará ‘France-en-stine’.”
Inglaterra prejudicou as negociações
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, declarou que reconhecerá o Estado palestino caso não haja um cessar-fogo entre Israel e o Hamas até setembro. A resposta do Hamas à declaração foi a interrupção imediata das negociações então em andamento.
“Israel aceitou as últimas propostas de cessar-fogo. Mas, se o Hamas aceitá-lo, não obterá o reconhecimento da Inglaterra. Todos os mediadores do acordo confirmam que a recusa parte dos palestinos, não dos israelenses: o Hamas é o rejeicionista. Ou seja, o primeiro-ministro britânico decidiu incentivar o Hamas a continuar evitando um cessar-fogo”, resumiu o jornalista israelense Haviv Rettig Gur.
As forças de segurança britânicas manifestaram descontentamento com a situação. Afinal, o Reino Unido e Israel têm acordos de segurança que, ao longo das últimas décadas, ajudaram os britânicos a evitar atentados terroristas em seu território e a salvar vidas. Como resposta à declaração de Starmer, Netanyahu ameaçou romper esses acordos .
Alemanha: ameaça de embargo
A Alemanha, que recentemente ameaçou Israel com a suspensão da venda de armamentos usados na guerra, também tem muito a perder caso realmente realize o embargo. “O que acontecerá se o governo israelense virar a mesa e deixar de fornecer suporte à Alemanha, seja em termos de defesa aérea, seja em termos de colaboração com o Mossad no combate ao terrorismo ? Atualmente, nós nos beneficiamos mais de Israel do que Israel se beneficia de nós”, afirmou o parlamentar alemão Stephan Pilsinger.
Analistas afirmam que o posicionamento desses governos e o aumento exponencial de ataques antissemitas em seus países estão diretamente relacionados. O resultado é a ameaça constante contra as comunidades judaicas locais. Antes, os alvos eram instituições judaicas – hoje, são também cidadãos judeus e suas lideranças. Isso levou o Centro Rabínico da Europa a oferecer a rabinos de todo o continente treinamentos de autodefesa e Krav Magá (técnica de luta corporal desenvolvida pelo Exército de Israel).
De acordo com o rabino Aryeh Goldberg, diretor do Centro, a iniciativa responde a pedidos dos próprios rabinos, que consideram insuficiente a proteção oferecida pelo Estado e têm enfrentado ameaças físicas quase diárias. Na França, ataques antissemitas aumentaram 350%, e o Reino Unido registrou quase 2 mil incidentes no primeiro semestre de 2024 – um aumento de 450% em relação ao ano anterior.