O Hamas divulgou um novo vídeo de um refém israelense, desta vez Liri Albag, jovem de 19 anos capturada na invasão de 7.10.23 da base militar Nahal Oz, onde atuava como observadora de fronteira. Este local ficou especialmente marcado pela tragédia, uma vez que, das 22 jovens soldadas dessa divisão, duas conseguiram escapar dos terroristas, enquanto 13 foram assassinadas no próprio local e 7, raptadas. Entre as reféns, uma foi resgatada pelo exército, outra foi encontrada morta em um dos hospitais de Gaza, e cinco permanecem em cativeiro – Liri entre elas.
(É sempre importante lembrar que o exército de Israel é composto somente por civis e prestar serviço militar é obrigatório para meninos e meninas)
Trêmula e chorosa, sentada em um quarto escuro, Liri pareceu irreconhecível para seus pais, que proibiram a divulgação do vídeo em Israel – o qual, no entanto, “vazou” para outros países.
“A cena estraçalhou nossos corações. Esta não é a filha que conhecemos e o severo estresse psicológico é evidente. Liri está a apenas alguns quilômetros de nós e, mesmo assim, não conseguimos trazê-la de volta nesses mais de 450 dias”, lamentaram os pais, tocando em um assunto que provoca enorme aflição: a dúvida sobre qual o estado emocional, psicológico e físico dos reféns que, porventura, de fato retornarem às suas casas depois de 16 meses de cativeiro.
Terror psicológico
Ao longo de toda a guerra, o Hamas vem divulgando vídeos com depoimentos de reféns. A mensagem é sempre a mesma: com um discurso obviamente pré-produzido, eles acusam o governo israelense por tê-los abandonado e avisam que, caso o exército continue atuando em Gaza, suas vidas estarão em risco. Em seguida, mandam mensagens comoventes para suas famílias.
O uso de vídeos e fotos tornou-se uma ferramenta de terror bastante usual dentro do universo do terrorismo, uma estratégia que ganhou impulso em 2014 – quem não se lembra dos vídeos de decapitação de reféns, ajoelhados e vestidos com um macacão laranja, produzidos pelo Estado Islâmico (ISIS)? O Hamas “aprimorou” essa estratégia doentia ao gravar também sua invasão ao sul de Israel em outubro de 2023. Com uma câmera GoPro presa na altura do peito, eles filmaram as torturas e assassinatos, os quais, em alguns casos, transmitiram em tempo real por meio do Facebook.
Ou seja, o apocalipse em sua mais clara expressão.
Exército localiza o corpo de mais um refém
Com absoluta surpresa, a família de Youssef al-Ziadna recebeu nesta semana a notícia de que seu corpo foi encontrado em um dos túneis de Gaza. Árabe israelense, ele vivia na cidade beduína de Rahat, no sul de Israel. Foi sequestrado junto com três de seus 19 filhos enquanto eles trabalhavam no estábulo do kibbutz Holit, um dos muitos invadidos naquele dia. Dois deles foram libertados na única negociação bem-sucedida desta guerra por terem menos de 18 anos. Do terceiro filho, Hamza, 22 anos e pai de duas crianças, ainda não se tem notícias – mas desconfia-se que sejam dele parte de restos mortais encontrados junto com Youssef.
“Acreditávamos que Youssef seria libertado nesse novo acordo, pois ouvimos que seu nome constava da lista em negociação. Tínhamos certeza de que estava vivo”, afirmou Ali, irmão de Youssef. Segundo o exército, o nível de deterioração mostra que Youssef perdeu a vida há meses.
A absoluta falta de conhecimento da condição de cada refém é um dos aspectos mais crueis dessa situação.
** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.