Entrada principal do Sheba Medical Center em Tel Hashomer
Foto: Wikimedia Commons
Entrada principal do Sheba Medical Center em Tel Hashomer


Hoje visitei um fisioterapeuta pelo qual tenho enorme respeito. Ele tem um nome antigo, bíblico – Chanania – e, pelo menos uma vez por ano, sofro em suas mãos para solucionar uma tensão muscular que gera dores ao redor do quadril. Em lugar de receitar remédios e exercícios, ele me perfura com uma agulha enorme para tocar nos centros da dor, uma técnica chamada de punção seca. Dói que é uma loucura, mas o alívio é imediato, quase milagroso. E duradouro.

O Chanania não é apenas um fisioterapeuta qualquer: ele é chefe do setor de Fisioterapia do Tel Hashomer, o maior hospital de Israel,  há anos reconhecido como um dos 10 melhores hospitais do mundo. Ali Chanania coordena uma equipe de mais de 100 profissionais que, nos últimos 15 meses, trabalha duro atendendo a milhares de soldados gravemente feridos (e centenas de civis, muitos deles ainda em recuperação desde o  7 de outubro de 2023).

Entre uma agulhada e outra, falamos sobre a minha filha que, interessada em estudar Fisioterapia, foi trocar ideias com ele um dia desses. Chanania me disse: “Nesse país, o fisioterapeuta não fica nunca sem trabalho. Ainda mais depois dessa guerra.” 

Um quadro triste e real da realidade em que vivemos.

Hospital, não: cidade da saúde

O Tel Hashomer foi fundado junto com o Estado de Israel em 1948, e é hoje o maior e mais abrangente campus hospitalar do Oriente Médio. Ele é chamado de “cidade da saúde” pelo fato de reunir diferentes hospitais, entre eles um especializado em Oncologia, outros em Cardiologia, Pediatria e por aí vai. Ele emprega 1,7 mil médicos, que tratam de 1,9 milhão de pacientes por ano e conduz, nesse momento, 4 mil projetos de pesquisas na área da saúde. Seu centro de reabilitação é o maior do país – e é lá que o meu salvador Chanania trabalha todos os dias. Há alguns anos, o Tel Hashomer e o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, assinaram um acordo de colaboração para troca de tecnologias e expertise. Além desse, o hospital israelense tem outras dezenas de intercâmbios com países de todos os continentes. E saber que ele é um gerador de conhecimento que depois é compartilhado mundo afora é motivo de enorme orgulho em Israel.

No mês passado, como resultado natural da guerra mais longa e difícil travada por Israel desde sua fundação, o Tel Hashomer criou o Centro Nacional Voltando à Vida, cuja missão é oferecer cuidados mentais para veteranos de guerra e seus familiares, de forma a ajudá-los a reconstruir suas vidas. Trauma e pós-trauma são dois temas que estão cada vez mais em destaque por aqui. Infelizmente, ouviremos falar muito sobre eles no futuro próximo; por outro lado, felizmente Israel está se preparando para lidar com isso. A conta será alta.

Cada país com seu ponto fraco

Claro que cada país tem seu ponto fraco em diferentes sentidos, inclusive o da saúde, o qual permite compreender um pouco as dores de cada povo. No Brasil, sei que a hipertensão e a diabetes afligem uma enorme porcentagem da população, espelhando o estilo de vida, nível educacional e financeiro dos brasileiros. Em Israel, reinam as doenças do coração e o câncer (que certa vez ouvi ser uma doença ligada à tristeza), as quais espelham claramente nosso cotidiano em uma parte do mundo em que a paz e a estabilidade são desejos, mas não realidade. 

Continuamos sonhando com elas, no entanto.

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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