Joseph Haddad, um árabe cristão defensor de Israel
Reprodução YouTube
Joseph Haddad, um árabe cristão defensor de Israel


Nazaré, no norte de Israel, e Belém, nos territórios palestinos e a apenas 10 quilômetros de Jerusalém, são cidades que fazem parte da própria criação do Cristianismo. Ambas são visitadas, em tempos de paz, por centenas de milhares de peregrinos que buscam uma conexão com o sagrado ao pisar nos locais em que Jesus Cristo nasceu e cresceu, segundo o relato bíblico. 

Eles não escondem o espanto ao perceber que os berços de sua fé tenham se tornado cidades de maioria muçulmana.

É de fato espantoso pensar que, em 1948 (ano da criação de Israel), 80% da população de Nazaré era cristã. Hoje, eles são menos de 20%: passaram a viver em países ocidentais ou se mudaram para vizinhanças judaicas de Israel. Segundo um relatório publicado em 2024 pelo jornal The Telegraph , isso é resultado de diferentes tipos de ataques realizados por seus concidadãos muçulmanos, entre eles a depredação de igrejas e de outros locais sagrados – sem resposta policial –, além da atuação de uma máfia islâmica que, entre outras ações, força proprietários cristãos de lojas e outros negócios a pagar uma “taxa de proteção” mensal.

Belém, localizada em território controlado pela Autoridade Palestina, também viu sua população cristã ser reduzida de 85% da população em 1947 para os atuais 16%. Ali, a cada vez mais resumida comunidade cristã reclama igualmente da sensação de perigo e insegurança provocada por vizinhos muçulmanos. “A perseguição sistemática de árabes cristãos que vivem em áreas palestinas é acompanhada em absoluto silêncio pela comunidade internacional, pela mídia e pelas ONGs”, afirmou Justus Reid Weiner, da Embaixada Cristã Internacional.

A população cristã árabe representa 2% da população total de Israel, e conta com igualdade de direitos (como todas as outras minorias, aliás). Um detalhe interessante: o árabe cristão israelense Joseph Haddad é hoje um dos maiores defensores de Israel no mundo. Aqui é possível vê-lo em ação em um debate na Universidade Oxford, no mês de dezembro. 



E o que o papa tem a ver com isso?

Muito, especialmente por conta de seu permanente silêncio frente a esta e a outras tragédias infringidas a seu rebanho, não apenas por aqui, mas em vários lugares do mundo. 

A África, um epicentro do islamismo radical e grupos jihadistas, tornou-se palco de ataques selvagens de cristãos na Nigéria, Mali, Burkina Faso, Egito, Nigéria, República Central Africana, Moçambique, Congo e Camarão. Uma vez ou outra, a mídia ocidental noticia algo a respeito.

Só na Nigéria, o país mais violento para seguidores do Cristianismo, um cristão é morto a cada duas horas, de acordo com a ONG Open Doors , baseada em Hong Kong. Diariamente mulheres e crianças cristãs são estupradas e forçadas à escravidão sexual, sequestradas ou mortas. Mais de 150 mil pessoas foram assassinadas desde 2009 por forças jihadistas, tais como o famoso grupo islâmico Boko Haram. Mesmo assim, o papa Francisco ainda não solicitou uma única investigação sobre esses eventos.

Os ataques contra cristãos na África, de acordo com um relatório publicado em 2024 pelo Centro Africano de Estudos Estratégicos, apontou como resultado o aumento no número de refugiados internos, o qual cresceu 14% somente neste ano, representando mais de 45 milhões de pessoas. 

Enfim, estou correndo aqui um risco calculado ao citar o papa, um personagem realmente importante, e deve ser respeitado, mas que está precisando apurar seu olhar e, em vez que continuar obsessivamente acusando Israel em seus discursos, agir para reduzir o sofrimento de seu rebanho, à mercê de islamistas radicais. Caso não o faça, Francisco corre o risco de repetir a história de não poucos de seus antecessores. Para saber ao que me refiro, basta pesquisar a atuação dos papas durante a Inquisição ou o Holocausto. 


** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!