A entidade Tkumá – que em hebraico quer dizer “reerguimento” ou “ volta à vida” – foi criada 12 dias após a invasão do grupo terrorista Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, com a missão de recuperar a área que compreende até 7 quilômetros a partir da fronteira com Gaza, aqui conhecida como Envelope de Gaza (Otef Aza). O governo israelense alocou US$ 19 bilhões de dólares para a reabilitação da região e também para criação de novos projetos dos setores de infraestrutura, habitação, cultura e emprego.
“O objetivo não é apenas recuperar toda a área, mas sim transformá-la em um dos melhores locais para se viver em Israel”, define Deganit Sanker-Lange, chefe-executiva do Tkumá.
Há muito trabalho pela frente, uma vez que o Hamas deixou para trás um cenário apocalíptico não apenas material, mas também emocional e psicológico. Os números podem dar uma impressão mais exata do estrago:
– 525 edificações sofreram perda total
– 288 crianças tornaram-se órfãs
– 63 mil pessoas foram evacuadas de suas casas
– 100 habitantes foram sequestrados pelo Hamas (os demais reféns, participantes do Festival Nova, vivem ou viviam em outras áreas de Israel)

Uma parte relevante da verba governamental será destinada a serviços de saúde, especialmente saúde mental: o trauma vivido por essa população já é, e continuará sendo, uma das consequências mais preocupantes do ataque.
Reconstrução do kibbutz Be´eri
O lindíssimo kibbutz Be´eri, localizado a apenas 4 quilômetros da fronteira de Gaza, foi um dos mais atingidos pelo ataque do Hamas, o qual resultou na destruição total de 130 casas. De seus 1,1 mil residentes, 101 foram assassinados e 32 foram levados como reféns – 9 deles ainda estão em Gaza. Já os sobreviventes estão em diferentes etapas de recuperação. Dani Majner, de 63 anos, conta que permaneceu no quarto de segurança de sua casa por 20 horas até ser resgatado por soldados israelenses, e foi evacuado junto com os demais sobreviventes enquanto a guerra prosseguia dentro do kibbutz.


“Perdi muitos amigos e um dos melhores entre eles, o Ofer Calderon, continua refém em Gaza. Depois de viver semanas infernais de pós-trauma, eu tomei a resolução de lutar pela minha saúde mental: decidi sair do hotel disponibilizado pelo governo, aluguei um apartamento em Tel Aviv e voltei a trabalhar. Mas muitos moradores do kibbutz até hoje não conseguiram retornar a uma vida normal”, conta.
Embora durante anos tenha sido defensor da paz e da coexistência entre palestinos e israelenses – assim como a maioria da população de seu kibbutz –, Dani diz ter perdido as esperanças. “Não acredito mais nessa possibilidade”. O kibbutz Be´eri, assim como todas as outras comunidades da região, empregava dezenas de palestinos de Gaza os quais, hoje se sabe, colheram as informações sobre a geografia e a segurança dos locais em que trabalhavam, as quais foram usadas no planejamento do ataque.

Através do Tkumá, o governo destinou US$ 350 milhões para a reconstrução do Be´eri. Todavia, o trabalho de demolição das casas destruídas já contratado pela direção do kibbutz foi suspenso logo depois de ter sido iniciado. “Interrompemos a pedido das famílias que ainda têm entes queridos prisioneiros em Gaza, pois eles sentem que, se iniciarmos a recuperação do kibbutz, estaremos admitindo que é hora de seguirmos em frente. Mas não é possível seguir em frente enquanto eles ainda estiverem lá”, explica Dani.