A aliança rebelde síria, também chamada de Exército Sírio Livre, formada pela coalizão de inimigos do governo do ditador Bashar Al-Assad, alcançou seu objetivo em um avanço impressionante – poucos dias depois de lançado, e com pouquíssima resistência, dominou as principais cidades da Síria até chegar a Damasco. Ontem, confirmou-se que Assad e sua família deixaram a capital e exilaram-se na Rússia.
Sírios arrastam pelas ruas uma estátua de Hafez Assad, pai do ex-ditador sírio Bashar Al-Assad
#8dic | El fin de una era
— El Nacional (@ElNacionalWeb) December 8, 2024
En diversas ciudades de Siria 🇸🇾, miles de personas salieron a las calles para celebrar la caída del régimen de Bashar al Assad, quien gobernó el país con puño de hierro desde el año 2️⃣0️⃣0️⃣0️⃣. Al Assad asumió el poder tras la muerte de su padre, Hafez… pic.twitter.com/d31S6OWP67
Estamos assistindo a um momento histórico em que foi destituída do poder uma família que há 50 anos governa a Síria com mão de ferro, um dos fatos que levou a população síria, em março de 2011, a uma sangrenta guerra civil que resultou na morte de mais de 300 mil pessoas, deslocou internamente mais de 11 milhões de civis e, segundo a Agência da Organização para as Nações Unidas para Refugiados, gerou a maior população de refugiados do mundo – 5,5 milhões de sírios continuam espalhados principalmente pela Europa e no Oriente Médio. O Brasil, primeiro país nas Américas a oferecer vistos humanitários para aqueles que fugiam da Síria, abrigou 4 mil deles.
Vídeo recente de um soldado brasileiro e israelense gravado no sul do Líbano; soldado mandou o vídeo para a coluna, mas não quis se identificar
Rebeldes ponderados
Analistas internacionais, e também os israelenses, apresentam opiniões divididas sobre o destino político e estrutural da Síria, e também sobre suas repercussões na geopolítica. É verdade que os rebeldes até o momento apresentam um comportamento ponderado e racional para o padrão do Oriente Médio: não estão aprisionando ou matando oponentes nem destruindo edifícios ou instalações governamentais, além de terem permitido, pelo menos até o momento, que o governo atual mantenha suas atividades.
Segundo o analista israelense Mordechai Kedar, especializado em história e política da Síria e ex-oficial do departamento de Inteligência do Exército de Israel durante 25 anos, “não devemos esperar por um regime democrático, pois este não é um modelo praticado por países árabes no Oriente Médio. Mas talvez surja daí um governo pluralista e tolerante”.
Soldados do exército sírio retiram seus uniformes para fugir do combate contra os rebeldes
Syrian Military abandoning positions in Central Damascus, changing into civilian clothes. pic.twitter.com/8D9aGRpuPL
— Danny Makki (@danny_makki) December 8, 2024
Incertezas em relação ao futuro próximo
Existem, no entanto, alguns aspectos preocupantes. Afinal, compõem o exército rebelde facções ligadas a organizações como o Al-Qaeda, Estado Islâmico e também o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), todos eles considerados terroristas pelo Conselho de Segurança da ONU, bem como pelos EUA e pela União Europeia.
Israel já enfrentou a Síria em guerras passadas e inclusive anexou ao país parte do território sírio, a região das Colinas do Golan, após a guerra de 1973. Os dois países dividem uma fronteira de 76 quilômetros, na qual o exército israelense reforçou sua presença nessa semana enquanto aguarda os próximos acontecimentos. Porque, de tudo o que está acontecendo no momento, há uma única certeza, segundo Kedar: “A fraqueza que provocamos no Irã vai nos trazer muitas surpresas nos próximos anos.”
Primeiro-ministro da Síria, em declaração na televisão, afirma que está à disposição do novo governo
The Prime Minister of Syria, Mohammad Ghazi al-Jalali has said in a Video Statement released earlier that he remains at his Home in the Capital City of Damascus, and that he is will to cooperate with any Leadership chosen by the Syrian People. pic.twitter.com/9kttbwvHTw
— OSINTdefender (@sentdefender) December 8, 2024
** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.