Já escrevi nesta coluna sobre a sensação de claustrofobia vivida pelos israelenses desde o início da guerra entre Israel, Hamas e Hezbollah – que já se prolonga há mais de 400 dias –, uma vez que praticamente todas as companhias aéreas, com exceção das locais (El Al, Israir e, eventualmente, Arkia), cancelaram ou suspenderam seus voos de chegada e partida de Tel Aviv.
Agora, junta-se à dificuldade física de locomoção o perigo assumidamente existente quando um israelense decide viajar para destinos como Inglaterra, França ou Espanha. Sem contar outros países turísticos que não permitem o ingresso de cidadãos de Israel – como Maldivas ou Tunísia. O Ministério da Diáspora de Israel, que trata de temas referentes às comunidades judaicas que vivem pelo mundo, divulgou na semana passada um gráfico que traz o nível de periculosidade de diferentes países europeus, ao mesmo tempo em que orientava os israelenses a evitá-los.
Lista de países que devem ser evitados por israelenses, segundo o Ministério da Diáspora de Israel
No mês passado, turistas israelenses em visita ao Sri Lanka saíram em disparada do país após o governo de Israel detectar uma ameaça de atentado (de fato, a polícia local prendeu o grupo que o planejava). Na semana passada, o alerta foi em relação à Tailândia.
A falta de mobilidade internacional pode parecer uma bobagem para quem não sabe que Israel é um país minúsculo e cercado por países árabes. Por contar com um mercado interno inexpressivo de apenas 10 milhões de consumidores, todas as indústrias israelenses são voltadas ao exterior, o que exige de seus profissionais constantes viagens internacionais.
A agente de turismo brasileira em Israel Thatiana Bekin, proprietária da IsraelbyThati, recebeu – assim como todas as empresas de turismo locais – um comunicado do governo com recomendações de comportamento para israelenses no exterior: por exemplo, não se identificar publicamente usando solidéus ou estrelas de David, não frequentar eventos de grande porte ou que checar se há, no destino pretendido, muitos imigrantes de países hostis a Israel. “Ou seja, a orientação é se esconder, literalmente”, resume Thatiana.
Essa não é uma situação nova para judeus, especialmente na Europa. Basta retroceder 80 anos na história para lembrar que essa foi a situação vivida por eles desde a chegada do Partido Nazista ao poder, em 1933. Esta jornada sombria, que começou com a identificação de judeus (com uma tarja amarela presa ao braço), terminou com o extermínio de 6 milhões deles em fuzilamentos e câmaras de gás. Não é uma história que os judeus estão dispostos a reviver.
A pergunta é: como resistir a essa nova onda de antissemitismo camuflada por uma pretensa oposição à guerra que Israel trava frente a inimigos que a atacaram da forma mais brutal já registrada nesse século? Enquanto parte dos israelenses prefere evitar o confronto e buscar destinos onde não corram riscos, outros acreditam que é importante não ceder e, assim, continuar a vida (quase) normalmente.
Difícil para alguém de fora entender o que um judeu sente frente ao atual panorama. Em pleno século 21, a religião volta a ser vista como um impeditivo para o exercício da liberdade – mesmo que seja para visitar a Torre Eiffel ou para comer batatas fritas em Bruxelas. Até mesmo quem cultiva alguma empatia para com os judeus defende que, em vez que combater o antissemitismo, é melhor que eles mantenham-se low profile, evitando confrontos.
São tempos absurdamente complicados, um retrocesso que remete a humanidade à Inquisição, na qual não cristãos eram queimados em estacas, ou ao Holocausto, em que famílias judias inteiras foram assassinadas sob os olhares de seus vizinhos. Como diria Boris Casoy, para quem se lembra, “é uma vergonha”.