Miriam Sanger

O que os israelenses esperam de Trump?

A resposta é unânime: que ele consiga trazer nossos 101 reféns para casa

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em 6 de novembro de 2024, em West Palm Beach, Flórida
Foto: JIM WATSON
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em 6 de novembro de 2024, em West Palm Beach, Flórida


Os judeus israelenses torceram pela  eleição de Donald Trump por muitos motivos. Nem é preciso citar que, para eles, é importante ter na presidência de um dos países mais poderosos do mundo um líder que se declara parceiro de Israel e que entende a importância do combate mundial ao terrorismo. Esta última é uma bandeira de  Israel há décadas que, no entanto, recebe menos atenção do que deveria na maior parte dos países de primeiro mundo, mas permanece no foco dos EUA, que aprenderam uma dura lição com o ataque às Torres Gêmeas de Nova York, em setembro de 2001

No entanto, hoje a prioridade do israelense é bem mais tangível e urgente: espera-se de Trump maior empenho do que o demonstrado pelos democratas pela libertação dos  101 reféns que continuam presos na  Faixa de Gaza desde o dia  7 de outubro de 2023. O que foi uma de suas promessas de campanha, vale lembrar.

Famílias em busca de apoio internacional

As famílias dos sequestrados estiveram em todos os fóruns possíveis e imagináveis buscando apoio para solucionar essa situação surreal. Uma das tentativas pouco conhecidas do público diz respeito a governos internacionais, uma vez que uma grande parte dos  reféns possuem dupla cidadania. 

No caso dos EUA, membros de seu Congresso foram incansavelmente visitados e instigados, nos últimos muitos meses, a negociar pelo menos a libertação dos sete israelenses que possuem também a cidadania americana e que ainda estão em poder do Hamas. Quatro, acredita-se, ainda estão vivos: Edan Alexander, de 20 anos, Omer Neutra, de 23 (soldado solitário, como se diz em Israel, que emigrou sem sua família para prestar serviço militar aqui), Sagui Dekel-Chen, de 36, e Keith Siegel, de 65 anos. As famílias também aguardam o resgate dos corpos de Itay Chen, Gadi Haggai e Judi Haggai, todos americanos.

Hamas, no entanto, recusa-se a negociar o retorno de qualquer refém até que Israel concorde em finalizar a guerra e retirar suas tropas, o que Netanyahu já deixou claro que não fará sem antes receber todos de volta e não em etapas sem prazo definido, como proposto pelo Hamas. Com o desmembramento de sua força bélica do Hamas na Faixa de Gaza – Israel desmobilizou 23 de seus 24 batalhões – e a morte de seu  líder, Yahya Sinwar, a negociação tornou-se ainda mais complicada.

Um a um

A estratégia – se é possível chamar assim –, agora, tem sido buscar convencer os próprios captores, individualmente, das vantagens de libertarem seus prisioneiros. Depois de um  empresário israelense oferecer 1 milhão de dólares por informações sobre sua localização, o primeiro-ministro Netanyahu está estudando recompensar aquele que entregar um refém com alguns milhões de dólares (o número que tem sido citado por aqui é de 5 milhões) e salvo-conduto.

A situação não é positiva para o lado israelense, que sabe o nível de precariedade, para se dizer o mínimo, com o qual os reféns são mantidos. Corre-se contra o tempo. Uma parte da sociedade israelense defende que qualquer demanda do Hamas deve ser atendida, de forma que o slogan local – nenhum israelense é deixado para trás – seja cumprido.

Há, no entanto, um outro aspecto importante a ser considerado: negociar com um grupo terrorista hoje (como se fez no passado, aliás) confirma, frente aos radicais do mundo árabe, que a estratégia do sequestro pode ser usada com sucesso nessas bandas. A parte da população israelense que se opõe a essa alternativa, alguns deles familiares dos próprios reféns, cita o temor de sequestros e ataques futuros como motivo.

O assunto é complicado e desolador.

Seja como for, a  eleição de Trump parece, aos israelenses, mais motivadora do que seria a de  Kamala Harris, que ao longo de toda a guerra manteve uma posição dúbia em relação às dores de Israel. Agora é esperar para ver se essa é uma esperança vã. Tomara que não.


** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.