Quem é rei nunca perde a majestade, nem mesmo se sair do trono para virar estrela de novela. Trata-se do jequitibá-rosa , considerado o líder monárquico das florestas. A árvore gigante, que virou personagem no remake da novela da Rede Globo "Renascer", já ofereceu sombra para pelo menos 50 gerações. A da primeira versão, de 1993, não sobreviveu à ação do tempo, mudanças climáticas e influência humana. Coube à produção providenciar um substituto à altura encontrando no Parque Estadual dos Três Picos, em Cachoeiras de Macacu-RJ.
Para se ter uma ideia da grandiosidade dessa espécie, são necessárias entre 13 a 15 pessoas para abraçar seus seis metros de diâmetro e 19 metros de circunferência na base. Quem vê o encanto e o brilho desse 'senhor' milenar nas telas, no entanto, não imagina o que ele precisou enfrentar para chegar até os dias atuais.
Anterior à chegada dos portugueses
Quando a caravela de Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, esse jequitibá já possuía quase 500 anos. Provavelmente, os hábitos dos povos originários de nosso país contribuíram para a longevidade da árvore. Durante a fase pré-colonial, porém, ela passou a sofrer sérios riscos. A madeira brasileira foi uma fonte de riqueza para os colonizadores, que além do pau-brasil, extraíam outras espécies de alto valor comercial. Da Mata Atlântica, da qual o jequitibá é uma espécie exclusiva, resta atualmente apenas 24% da cobertura original.
Projeto educacional
Hoje, o jequitibá é um exemplo de resistência e força para os visitantes do Parque Estadual do Três Picos e faz brilhar os olhos das crianças das escolas públicas da região que participam das atividades de educação ambiental do Projeto Guapiaçu — realizado pela Ação Socioambiental em parceria com a Petrobras. Em 2023, levou mais de 1.200 alunos da educação infantil e ensino básico para visitar o jequitibá.
Rei coroado
Trata-se de uma das maiores árvores do Brasil, podendo atingir até 50 metros de altura. Em tupi, significa 'Gigante da Floresta'. Sua densa e ampla copa também proporciona sombra e abrigo para outras plantas e animais, como orquídeas, bromélias, mamíferos e pássaros.
As sementes do jequitibá são relativamente leves e equipadas com estruturas aerodinâmicas que permitem sua dispersão pelo vento. Quando maduras, são liberadas pela árvore, podendo ser carregadas por correntes de ar para longe da árvore-mãe, muitas vezes alcançando distâncias consideráveis antes de pousarem no solo.
Impacto humano
Apesar de o Brasil contar hoje com leis mais rígidas em relação à extração de madeira e proteção de espécies nativas, árvores como o jequitibá estão em perigo de extinção devido ao desmatamento e corte ilegal, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista Science. Além disso, outra ameaça a essa e outras espécies da Mata Atlântica são as mudanças climáticas.
"A principal ameaça ao jequitibá quanto às mudanças climáticas são os eventos extremos. O fato de estar em cima de uma rocha o torna mais vulnerável em situações de grandes precipitações chuvosas, que podem ocasionar movimentações de terra, provocando sua queda. A maior incidência de raios, que estamos presenciando devido às mudanças climáticas, também pode afetar a integridade física da árvore, como ocorreu com o jequitibá da primeira versão da novela (1993), que sucumbiu após ser atingido por um raio há 10 anos. A mudança na dinâmica das estações, com períodos de seca mais prolongada ou de chuvas mais intensas, também pode alterar a produção e propagação de sementes, afetando a geração de novos indivíduos", explica a coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu, Gabriela Viana.
Visitação
O Parque Estadual dos Três Picos está aberto todos os dias, das 8h às 17h. Para chegar a árvore estrela, o visitante precisa passar pela Trilha do Jequitibá-rosa, com distância de 840 metros da entrada da sede de Cachoeiras de Macacu. O Projeto Guapiaçu oferece visitas guiadas ao Jequitibá para escolas e universidades. As instituições interessadas podem agendar a visita por meio das redes sociais do projeto (@projetoguapiacu) ou pelo e-mail: mario.conceicao@institutoasa.org