Provando que são os verdadeiros guardiões, indígenas transformam 42 hectares degradados em agrofloresta. Já a recuperação em pequenas propriedades pode gerar 156 milhões de toneladas segundo estudo inédito que projeta potenciais resultados baseado na meta de recuperar 12 milhões de hectares até 2030.
Os Sistemas Agroflorestais se caracterizam pelo cultivo consorciado de plantas arbóreas nativas, frutíferas e/ou madeireiras e de produtos agrícolas de maneira simultânea ou sequencial. Alguns SAFs incluem a criação de animais. Uma de suas características é a produção de alimentos sem desmatar ou usar agrotóxicos.
Terra dos Caititu
Em meio ao desmatamento em Lábrea, município amazonense no entorno da população Apurinã, foi promovido o "milagre" da transformação, destacando-se como referência em conservação ambiental ao implantar 37 unidades de SAFs distribuídas em 21 aldeias, totalizando uma área de 41,6 hectares. Estas áreas estão atualmente em plena produção de frutos, feijões, tubérculos e outros alimentos.
Esta realidade contrasta significativamente com a cidade de Lábrea, que é a primeira entre os 50 municípios brasileiros que mais desmataram nos últimos quatro anos, de acordo com levantamento do MapBiomas.
"Os SAFs têm contribuído de maneira significativa para melhorar a qualidade do solo, a microbiota, a sensação térmica e o fornecimento de alimentos saudáveis para as aldeias", explica Valdeson Vilaça, indigenista da OPAN e responsável pelo apoio técnico e monitoramento dos SAFs junto ao povo Apurinã.
Este modelo agrícola desempenha um papel crucial na remoção de gases de efeito estufa da atmosfera, na conservação de ecossistemas, bem como na garantia de segurança alimentar e geração de renda por meio da comercialização dos produtos e subprodutos obtidos. Além disso, o cultivo auxilia na recuperação de espaços anteriormente exauridos e transforma o ambiente.
"A gente já plantava, mas o conhecimento e a experiência do SAF enriqueceram nosso plantio. Passamos a cultivar diversos tipos de frutas e restauramos a natureza. O SAF veio para abrir nossos olhos e enriquecer nossas mentes", relata Maria dos Anjos, conhecida na Terra Indígena Caititu como a "rainha dos SAFs".
Com a chegada do período de estiagem na Amazônia, a preocupação com queimadas ilegais aumenta, uma vez que os incêndios afetam diretamente os sistemas agroflorestais e a saúde de todos os indígenas e das demais populações que vivem na região. Portanto, os Apurinã estão se articulando para a criação da 1ª Brigada Indígena Voluntária na região.
Recuperação de Florestas
Recuperar 1,02 milhão de hectares de áreas desmatadas utilizando os modelos de Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode gerar uma receita líquida estimada em R$ 260 bilhões, além de contribuir para a remoção de 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera e a produção de 156 milhões de toneladas de alimentos para o país.
Esses números são fruto de um estudo inédito realizado pelo Instituto Escolhas, que revelou os inúmeros benefícios que podem ser obtidos a partir da recuperação de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, uma meta assumida pelo Brasil no Acordo de Paris. Em uma nova análise desse estudo, a organização destaca o potencial existente na recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP) que foram desmatadas, principalmente em pequenas propriedades rurais.
"Os dados reforçam a importância de direcionar recursos para a recuperação de florestas, especialmente nas pequenas propriedades, como as da agricultura familiar, que historicamente desempenham um papel crucial na produção e diversificação dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros", destaca Patrícia Pinheiro, gerente de projetos do Instituto Escolhas e responsável pela pesquisa.
Essa iniciativa visa também ampliar e diversificar a oferta de alimentos no Brasil. Ao todo, foram contempladas 43 variedades de alimentos de lavoura e extrativismo. A produção total dos SAFs representaria, portanto, uma média adicional de 5,2 milhões de toneladas de alimentos produzidos anualmente. Para alcançar esse objetivo, o país precisaria investir R$ 33,1 bilhões.
"No entanto, os ganhos potenciais alcançariam a impressionante marca de R$ 260 bilhões, quase oito vezes o valor a ser investido", destaca Pinheiro.
Esses números revelam não apenas o potencial econômico da recuperação de áreas degradadas, mas também os impactos positivos que essa ação poderia ter no combate às mudanças climáticas, na segurança alimentar e na preservação de ecossistemas vitais. Portanto, promover e apoiar essas iniciativas se torna uma estratégia fundamental para o Brasil e para o mundo.