Com coração embargado e choro contido funcionários montaram uma logística cuidadosa para que a transferência de um cachorro-do-mato e um filhote de onça-parda resultasse no menor estresse possível no transporte para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens (Cras) de Vargem Pequena, no Rio de Janeiro. Tarefa difícil, por mais que a orientação seja conter os carinhos para não humanizar os animais e dificultar a reintrodução à natureza. O apego emocional é inevitável. Como resistir?
Os animais silvestres estavam sob os cuidados dos profissionais da Área de Soltura de Animais Silvestres (Asas) de São Gonçalo, município da região metropolitana fluminense.
A oncinha chegou poucos dias depois de ter sido resgatada sozinha no Norte Fluminense. Já o cachorro-do-mato tinha sido atropelado nas proximidades do bairro de Santa Luzia. Apesar de raros, a Secretaria de Meio Ambiente de São Gonçalo (Semma) já identificou a ocorrência desta espécie em regiões de mata do município.
“Para quem achava que em São Gonçalo não havia fauna silvestre relevante, o trabalho na ASAS tem provado o contrário. São Gonçalo entra para o cenário nacional mostrando que possui equipamentos e técnicos capazes de fazer manejo de fauna silvestre. Por isso, é importante proteger nossas áreas de floresta, que são a casa dos bichos. Isso explica por que aumentamos de 4% para 19% as áreas verdes protegidas da cidade nos últimos anos. É incrível podermos dar suporte a animais de vida livre e contribuir para o enriquecimento da nossa fauna local. Iremos acompanhar de perto o atendimento do filhote de onça parda e sua reintrodução ao habitat natural se possível, pois em nossa visão, o animal apresentou grande potencial para voltar à vida livre”, explica o subsecretário de Meio Ambiente e biólogo Glaucio Teixeira Brandão.
A oncinha enquanto esteve em São Gonçalo passou por exames clínicos e laboratoriais e foi microchipada. A onça-parda foi avistado por um produtor rural que comunicou imediatamente às autoridades. Por trata-se de um filhote, tão cedo poderá ser devolvida ao habitat natural. Fora que o manejo de felinos para reintrodução à natureza é complexo, depende de autorização de vários órgãos ambientais e de estudo técnico de veterinários e biólogos para que seja solto em local adequado.
Para aumentar o atendimento às demandas de resgate aos animais silvestres, a Asas de São Gonçalo aguarda avaliação do Instituto Estadual do Ambiente para que a área seja transformada em Centro de Referência de Animais Silvestres (Cras).