Se o Brasil não é para iniciantes, o Rio de Janeiro menos ainda. A cidade brasileira mais conhecida internacionalmente por suas belezas naturais e festividades é ao mesmo tempo a que menos celebra sua data. A alegre Rio de Janeiro não comemora o seu nascimento. Isso apesar de figurar entre as mais antigas, possuir o privilégio de ter sido a Capital Federal por tanto tempo e ser uma das maiores referências culturais do país. O dia passa quase que em branco entre seus moradores e com pouquíssimas ações do poder público, da mídia, das instituições privadas e de seus moradores. Nem as escolas fazem dignas referências ou incluem em sua agenda de ações.
Para não dizer que passa incólume, dos últimos anos para cá, alguns poucos eventos isolados são realizados notadamente sem a grandiosidade que merece. Ao mesmo tempo em que São Paulo se mobiliza em torno de uma mega programação, em 25 de Janeiro, e Salvador, em 29 de março, a Cidade Maravilhosa não oportuniza a sua data. Sequer é feriado, como na maioria dos municípios.
Até cariocas confundem o aniversário com o dia do Padroeiro
Por sua forte vocação religiosa, os feriados regionais são reservados ao dia do padroeiro São Sebastião pela Lei municipal nº 1271, de 27/06/88 e de outro super querido pela população, São Jorge em 23 de abril, este decretado pela administração estadual. Tanto, que muitos acreditam que o dia 20 de janeiro é o do aniversário da cidade.
Por que primeiro de março?
Outro motivo de confusão é até os anos 30, o aniversário era realmente comemorado em 20 de janeiro. A decisão que pôs fim à polêmica só saiu em 1965. Uma comissão de historiadores formada por determinação do então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda definiu primeiro de março como o símbolo da fundação. Isso porque foi quando Estácio de Sá fundou oficialmente a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem a D. Sebastião, futuro rei de Portugal. Outro mito: o Sebastião do nome não é referência ao padroeiro e sim ai monarca português!
A missão de fundar uma cidade na Baía de Guanabara ficou para o português Estácio de Sá. A criação do Rio de Janeiro está ligada à luta entre portugueses e franceses pelo domínio da região. Em 1763, por causa da crise do açúcar no mercado internacional e da descoberta de metais preciosos no centro-sul do Brasil, a Capital do país deslocou-se de Salvador para o Rio de Janeiro que anos mais tarde foi a sede do Reino Unido de Brasil e Portugal com a fuga da Corte lusitana para solo carioca para escapar das garras de Napoleão.
458 anos
A administração municipal bem que tentou criar um calendário temático para marcar os 458 anos, mas sua relevância é quase nenhuma diante da grandiosidade da cidade. Fica evidente a falta de empenho em relação a outras datas oportunizadas pelo poder público. Resume-se a alguns descontos e gratuidades em museus e o corte de um bolo aos pés do Cristo Redentor. Qualquer quermesse do interior é capaz de produzir agendas mais substanciais.
O irônico é que trata-se de uma das cidades mais festivas do mundo, se caracterizando pelo maior Réveillon e Carnaval (neste segundo caso, existem controvérsias com Salvador). A falta de expressividade não se restringe ao poder publico. Num mundo cada vez mais ligado a criações de datas e a referências para alimentar a fome das mídias sociais, as marcas, que costumam se aproveitar de efemérides para venderem seus produtos e imagens institucionais, também seguem tímidas em relação ao niver do carioca. isso apesar de representar a segunda mais populosa do Brasil e também vice-campeã no mercado publicitário. O setor de turismo, que também poderia engrossar o calendário do portão de entrada no Brasil, também nada faz. Ao Rio, dedicam no máximo, um post nas mídias sociais, como se os cariocas não merecessem mais que isso! Hora de mudar!