Não basta apenas colocar a culpa na mudança climática para as catástrofes ambientais cada vez mais intensas e frequentes. Até porque as alterações do clima, em grande parte, também ocorrem por (i)rresponsabilidade humana. A tragédia do litoral norte paulista não é um fato isolado. O quadro lá é o mesmo que resultou na destruição de Petrópolis, no Rio de Janeiro, há cerca de um ano.
São efeitos da mudança climática, mas acompanhados por décadas de descaso, ocupações desordenadas, desmatamentos e outra agressões ambientais, além de um turismo muitas vezes predatório. De nada adianta o grande avanço científico registrado no campo da meteorologia se esses dados não são aplicados em políticas públicas preventivas. Também se torna sem sentido o preciso trabalho de mapeamento geológico que aponta onde estão as 13.500 pessoas que vivem em áreas da alto risco no país, se pouco é feito para que essas pessoas sejam remanejadas ou realizadas obras para evitar ou minimizar as catástrofes.
Culpabilizar as vítimas
Também é o cúmulo do cinismo culpar as vítimas. Como se as pessoas gostassem de morar na corda bamba e viver perigosamente. Ou que jogam lixo nas encostas e rios por falta de civilidade, sem questionar a inadequada ou inexistente coleta pública e a falta de uma campanha de conscientização eficaz.
Essa criminalização dos que estão sofrendo na pele faz parte de um processo de desvio da atenção para a inércia do poder público e de sua cumplicidade com empresas com alto poder de agressividade ambiental, assim como a conivência com uma elite predatória que desmata, aterra e invade o mar com deques e partes de suas casas de luxo de veraneio.
Sem investimentos
A prefeitura de São Sebastião investe míseros 1% de seu orçamento com habitação, num município que tem sua renda inflada com o aporte anual de R$ 135 milhões em seus cofres em royalties do petróleo. O governo do estado de São Paulo também fecho os olhos para a tragédia anunciada na região.
Já a administração Federal atual acusa a anterior de ter deixado praticamente zerada as dotações orçamentárias para infraestruturas que poderiam prevenir e minimizar essa tragédia. Só para se ter uma ideia do grau de negligência, denunciaram ter em caixa apenas R$ 25 mil para ações emergenciais para o exercício de 2023.
Aumento das chuvas nos últimos anos
A partir do ano de 2020, a ocorrência de eventos extremos é comprovadamente mais expressiva. As chuvas mais intensas atingiram municípios da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina. É cada vez mais comum os índices pluviométricos superem em apenas alguns dias ou horas, a previsão de precipitação de todo o mês.
Mais chuva para os próximos dias
O estado de São Paulo é mantido em estado de atenção já que novas pancadas fortes podem ocorrer até o final dessa semana. Mas a atenção não deve ficar restrita. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), diversas cidades brasileiras estão em alerta vermelho. As regiões que supostamente serão atingidas pelas tempestades nos próximos dias fazem parte do Norte, do Centro-Oeste e, principalmente, do Sudeste. Uma porção do Sul também será atingida, com exceção dos Estados de Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Em países do hemisfério sul, como o Brasil, por exemplo, surgem situações típicas da estação mais chuvosa do ano. Assim como aconteceu no Carnaval, tendem a aumentar as notícias sobre inundações, desmoronamentos, alagamentos, enchentes, desastres naturais, prejuízos financeiros e vítimas afetadas pelas fortes e intensas chuvas.
La Niña
Além dos efeitos do aquecimento global ainda sofremos a troca de Niños, fenômenos perfeitamente previsíveis pelas autoridades. Ao longo de 2023, o La Niña se dissipará e dará lugar ao El Niño — ambos partes de um mesmo fenômeno atmosférico-oceânico —, mudando drasticamente o clima em todo o País. É caracterizado pela oscilação da temperatura da superfície do mar no oceano Pacífico Equatorial. Quando a região está mais fria caracteriza-se uma La Niña; quando está mais quente, há um El Niño.
Essa projeção deverá mudar completamente o panorama climático do Brasil, além de influenciar diretamente na estação chuvosa deste e do próximo ano. A elevação na quantidade e no volume de chuvas pode ocasionar uma série de intempéries à sociedade.
A chuva em números
De acordo com estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), entre outubro de 2017 e janeiro de 2022, as chuvas no Brasil causaram prejuízos que ultrapassaram R$ 55,5 bilhões. Somente em 2022, até o início de dezembro, o país sofreu ao menos 11 grandes desastres causados por precipitação severa. Nesse período, foram registradas 386 mortes e cerca de 232.530 pessoas foram afetadas por enchentes e/ou deslizamentos país afora.
No último mês do ano, diversos municípios decretaram "Estado de "Calamidade Pública" ou "Situação de Emergência". Por consequência das fortes tempestades e da falta de planejamento urbano, inúmeras pessoas morreram e milhares ficaram desalojadas e desabrigadas.
“É óbvio que a sociedade precisa antever os riscos e mudar seu padrão de comportamento com o meio ambiente. Só isso trará uma verdadeira mudança nas perspectivas climáticas das próximas décadas. No entanto, até lá, é necessário que essas informações cheguem ao conhecimento público. Munidos dessas soluções, os cidadãos poderão adotar medidas estratégicas que resguardem as empresas financeiramente e ajudem a população a mitigar, de certa forma, tais situações de riscos”, alerta Eduardo Martins, responsável pela divisão de Risk Solutions na Seguradora Lockton do Brasil.
Por falta de infraestrutura, boa parte dos custos e dos prejuízos financeiros desses eventos climáticos não são estimados pelas autoridades brasileiras ou pelas seguradoras.
“Aqueles que querem proteger a sustentabilidade do negócio, devem ficar atentos aos riscos trazidos por essas mudanças climáticas. Regiões que nunca alagaram, nos últimos anos, começaram a sofrer com esses fenômenos” resume Eduardo Sampaio Martins.