Luiz André Ferreira

Blocos Afro voltam a desfilar... mas só no Carnaval de 2024

Três recebem patrocínio para estruturarem suas atividades socioculturais

Foto: Mercado Livre/Divulgação
Renda de coleção é revertida para grupos culturais

Carnaval não é somente em fevereiro. Quem atua nessa festa popular sabe que tem trabalho para o ano inteiro. Por isso, nem chegou oficialmente a folia de 2023 e já estão trabalhando no desfile do ano que vem. Três grupos que estavam inativos estão preparando um carnaval raiz em que vão fundo na origem e no resgate da tradição dos afroblocos do Rio de Janeiro. Esses grupos vão receber suporte financeiro para se reestruturarem durante o transcorrer do ano e voltarem a desfilar pelas ruas do Rio no Carnaval de 2024.

“As nossas campanhas têm nos ajudado a seguir uma trajetória consistente de aprendizado, permitindo enfrentar de maneira coletiva os desafios à equidade racial, que sabemos que são complexos”, reconhece Thais Souza Nicolau, diretora de Branding do Mercado Livre – parceira da campanha.

Blocos que voltam a desfilar

Tafaraogi
Foi um dos três contemplados pela campanha no Rio de janeiro e recebe aporte para se reestruturar e voltar a desfilar no ano que vem. O grupo, que incentiva o movimento afro é pioneiro na Zona Oeste carioca, onde desenvolve uma forte atuação cultural e histórica na região. O último desfile foi há oito anos.

Afoxé Maxambomba
Criado em 2003, é considerado o maior bloco afro da Baixada Fluminense. Presença obrigatória em eventos culturais e faz falta na abertura do carnaval de Nova Iguaçu.  O bloco estava inativo desde 2015.

A religiosidade também é uma forte marca do grupo, que faz parte do Centro de Integração Social Inzo Ia Nzambi (Cisin), patrocinador do Trófeu Kizomba Ria Nsaba para homenagear pessoas que fortalecem e valorizam a cultura Afro. O centro e o bloco são fruto da atuação da Mãe Arlene de Katendê, que começou a militância aos 16 anos, em 1972, na Nação de Angola raiz Goméia, e hoje é tida como umas mais influentes religiosas da Baixada.

Olodumaré
Apadrinhado do Olodum da Bahia, foi fundado em 1985 por Mestre Oswaldivino. Desenvolve um importante trabalho social na cidade de Niterói. Possui mais de mil associados e se destaca pelas coreografias e sonoridade. É animação certa no carnaval de rua niteroiense. Não desfila desde 2019.

A escolha deste segmento deve-se a sua quase extinção no Rio de Janeiro e também em reconhecimento ao seu papel fundamental nessa grande festa e na resistência da cultura preta em um carnaval cada vez mais embranquecido.

“A essência do carnaval está associada à ideia de democracia, de liberdade e de ocupação dos espaços pela diversidade, e é com esse propósito que o Mercado Livre abre alas para que empreendedores e afroblocos tenham seu lugar de destaque e de direito”, completa Laura Motta gerente sênior de Sustentabilidade do Mercado Livre.

Um dos objetivos da campanha é impulsionar os afroempreendedores como forma de valorizar a cultura preta no Carnaval.
“Fazendo jus a uma festa tão democrática. A visibilidade pode ser transformadora, nos motivando a investir em ações que ajudam a construir uma sociedade mais inclusiva”, concluiu Thais Souza Nicolau.

Abadás
Uma das características dos blocos Afro é sua roupa típica. Com o aumento da mercantilização muitos confundem a vestimenta com ingresso para desfilar ou espaço vip. No entanto, um amplo trabalho de pesquisa mostra a origem desse símbolo desse estilo de agremiação. Junto ao estudo está sendo lançado a Coleção homônima do Instituto Feira Preta com renda revertida para os grupos culturais contemplados.

“A coleção não só valoriza os afroblocos, mas também o legado do povo negro na construção do carnaval. Essa é uma manifestação cultural e popular de muita riqueza, de resistência do povo preto e de celebração da nossa ancestralidade, e deve ser visto como tal. A partir do momento em que o carnaval passou a ser visto como um grande projeto comercial, movimentando bilhões de reais, a população negra deixou de ser protagonista e passou a ocupar apenas os bastidores deste evento”, contextualiza Adriana Barbosa, CEO da Pretahub.
A coleção abadá foi projetada pelas marcas Nazura Art, Casa Cléo, e Studio Aurum, que criaram nove peças inspiradas em importantes afroblocos nacionais.

“Fortalecemos o afroempreendedorismo na América Latina, por meio da inclusão digital, da geração de renda e da valorização da cultura afro. Atuamos em parceria com a PretaHub para democratizar oportunidades e reduzir desigualdades sociais e geográficas, conectando saberes e pessoas por meio dos nossos programas, produtos e serviços”, destaca Laura Motta, gerente sênior de Sustentabilidade do Mercado Livre.

Parceria
Por meio dessa parceria que ocorre desde 2018, a PretaHub apoia e acelera empreendedores negros, indígenas e quilombolas desde o processo criativo até a comercialização. Além disso, há mais de um ano, a companhia conta com uma loja oficial que reúne mais de 1.000 produtos de moda, beleza e decoração de 70 empreendedores.
“A Divisão de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo estima que o carnaval deverá movimentar R$ 8,18 bilhões neste ano. É preciso que a população negra volte a ocupar lugares de concepção e destaque nessa grande festa, do abre-alas às musas, dos compositores e carnavalescos à direção das escolas de samba e dos blocos de rua, e que não seja apenas lembrado nos enredos que tomam conta das avenidas”, explica Adriana Barbosa.