A sobrevivência dos Yanomamis, assim como de todos os povos indígenas tem relação intrínseca com a preservação do meio ambiente. Não resta a menor dúvida de que são os verdadeiros guardiões da Amazônia e, se ela ainda está de pé, a humanidade deve isso também a eles. Ou seja, se ainda não fomos consumidos pelo aquecimento global, temos que agradecer aos indígenas.
E foi justamente esse discurso deixado por Lula antes de embarcar para a Argentina, sua primeira viagem oficial. O presidente do Brasil ressaltou que a humanidade tem uma dívida histórica com os povos indígenas, que são os verdadeiros donos das terras e que preservam o meio ambiente e ajudam a conter os efeitos das mudanças climáticas.
A Yanomami é a maior reserva do país, ficando praticamente isolada geograficamente. É composta por 10 milhões de hectares, na fronteira com a Venezuela. As fotos do estado físico de integrantes comunidade, inclusive crianças, são chocantes e estão sendo comparadas às imagens dos horrores do holocausto.
Porteiras abertas também para garimpeiros
Apesar do direito às suas terras ancestrais ser garantido pela Constituição, existe um verdadeiro abandono agravado nos últimos tempos. As porteiras não foram abertas apenas para a boiada passar, mas também para mineradores, madeireiros e grileiros que encontraram o caminho livre em direção para as reservas.
A retirada de parte dos fiscais, policiais e agentes de saúde da região serviu como uma senha para a invasão de 20 mil garimpeiros. Além de estupros, raptos, assassinatos, o povo ancestral ainda sofre com a proliferação de malária e pneumonia. E como agravante, a população ainda morre de fome ou é envenenada pelo mercúrio, usado pelos mineradores ilegais que contamina também solo, água, animais e alimentos. O novo Ministério dos Povos Indígenas denuncia que ao menos 570 crianças morreram durante o período do último governo, sendo 200 em 2022.
Para muitos analistas, esses crimes contaram com a conivência das autoridades pagas com dinheiro público justamente para defender e resguardar a população, entre eles, os povos originários. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro dizia que foi garimpeiro no passado quando ainda estava no exército e, desde que eclodiu esse escândalo, estão sendo compartilhadas pelas mídias sociais os discursos de Jair Bolsonaro dizendo que não iria demarcar “um centímetro quadrado de territórios indígenas". De acordo com dados do Observatório da Mineração, somente em 2021 essa atividade devastou de 15 mil, hectares um recorde em quase quatro décadas.
Direto dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro se defende pelas suas contas em redes sociais alegando que a situação é uma “farsa da esquerda” e que a assistência à população indígena foi uma das prioridades durante a pandemia da Covid 19. No entanto, a Comunidade Indígena relata que foram registrados 21 pedidos de socorro a autoridades federais na gestão passada, mas nenhum foi atendido.
Isolados e fora dos holofotes
Raramente os crimes cometidos na região furam a bolha da mídia e chegam ao conhecimento nacional e do mundo. O tão propagado assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na verdade, na verdade, é uma rotina na região da impunidade e só ganhou repercussão, desta vez, pela nacionalidade estrangeira do profissional de imprensa.
A mesma invisibilidade marcou esses anos de penúria dos Yanomamis, se não fosse a repercussão da comitiva do presidente Lula da Silva, formada por oito ministros. Foi decretada situação de emergência, sanitária e humanitária nas 273 aldeias deste Povo Originário, com população estimada em 30 mil pessoas. O atual ministro da Justiça Flávio Dino, determinou a abertura imediata de inquérito a cargo da Polícia Federal.
Para o atual presidente, é preciso responsabilizar o governo anterior pelo caos e do que classifica como genocídio. E certamente essa "vergonha brasileira" deve dominar as indagações a Lula nesses três dias em que passará na Argentina e depois, no Uruguai. É que assim como a população brasileira, a comunidade e a imprensa internacional estão estarrecidos com a situação dos Yanomamis. As imagens assustadoras estampam os meios de comunicação estrangeiros. A Agência de Notícias do Vaticano publicou uma nota de indignação e solidariedade assinada pelos Bispos da região amazônica.