Governo de SP homenageia militar que perseguiu estudantes na ditadura

Projeto de lei sancionado pelo governo prevê incluir o nome do ex-deputado Erasmo Dias em entroncamento no interior paulista

Foto: Reprodução
Coronel Erasmo Dias foi responsável pela operação que prendeu mais de 800 estudantes durante a ditatura militar

O Palácio dos Bandeirantes sancionou nesta quarta-feira (28) um projeto de lei que homenageia o militar e ex-deputado Erasmo Dias, um dos expoentes da Ditadura Militar. A medida foi assinada pelo governador em exercício Felício Ramuth (PSD).

A proposta prevê que um entroncamento na rodovia Manílio Gobbi, em Paraguaçu Paulista, tenha o nome do militar. O projeto foi encaminhado pelo ex-deputado estadual Frederico D’Ávila e aprovado em 2022 pelos parlamentares.

Erasmo Dias foi deputado federal entre 1979 e 1983 e estadual entre 1987 e 1999. Antes, ele foi secretário de Segurança Pública de São Paulo.

Em 1977, liderou uma invasão a um acampamento na PUC-SP contra membros da União Nacional dos Estudantes. Ao todo, 854 estudantes foram presos.

Na época, 134 pessoas foram consideradas culpadas por subversão. Cerca de 90 estudantes foram fichados pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops) e outros 42 foram processados com base na Lei de Segurança Nacional.

Em nota, o Centro Acadêmico 22 de Agosto da PUC-SP criticou o projeto e a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

“Essa nota representa a consternação e repúdio à ALESP, que permitiu a tramitação de um projeto absolutamente antidemocrático e que invalida a luta de milhares de estudantes e centenas de militantes que perderam suas vidas durante a ditadura militar”, afirma.

“Não admitiremos homenagem a torturadores. Que o legado de luta de Nadir Kfouri, Carlos Eduardo Pires Fleury e tantos outros companheiros que dedicaram a vida pela democracia nunca seja esquecida”.

A nota ainda acusa o Estado Brasileiro de anistiar torturadores e não culpar crimes cometidos por militares na ditadura.

“Infelizmente, o Estado Brasileiro não processou e puniu os algozes que violentaram a democracia e os brasileiros nos longos 21 anos de regime militar. O ato consciente de anistiar organizadores da violência de Estado dá margem para negacionismo da opressão perpetrada pela ditadura militar e para homenagear cruéis e soturnas como esta”, completa o Centro Acadêmico.