
Rafael Cortez, Danilo Gentili, Felipe Andreoli, Marcelo Tas, Oscar Filho, Marco Luque e Rafinha Bastos.
Nas últimas duas semanas, o CQC (Custe o Que Custar) voltou a aparecer na mídia: ora como possibilidade real na Band, ora como lembrança coletiva de um tempo em que humor político ainda cabia na TV aberta. Porque se tem uma coisa que o brasileiro gosta mais do que nostalgia é acreditar todas as vezes: agora vai!
A emissora estuda um retorno para 2026, ano de Copa do Mundo, eleições e todo o caos político que faz brilhar os olhos de qualquer roteirista de humor. O retorno pode ser tão explosivo quanto o Brasil de 2026. Mas será que ainda existe espaço para rir disso na TV aberta num Brasil mais polarizado, digital e inflamável do que nunca?
O déjà-vu é inevitável. O CQC nunca foi exatamente um programa para tempos calmos, mas hoje o terreno é outro: redes sociais que amplificam cada piada, cancelamentos instantâneos e uma audiência que já não consome humor político da mesma forma. Nostalgia, sim; mas também a dúvida se o retorno seria um respiro ou apenas mais combustível para a fogueira.
Pra mim, o CQC foi completamente disruptivo pra TV em 2008. Revolucionou tanto o humor, quanto a forma com que a política era abordada. Sempre sentirei falta do CQC, ou qualquer outro que use o humor como ferramenta pra um tema tão difícil de digerir quanto a política. Tá faltando um programa assim na TV.
E aí veio outra questão:
“Se o CQC voltar… eu voltaria também?”
Minha resposta seria: “Se o CQC voltasse tentando ser o programa da década passada no copia e cola, seria um desastre. Hoje, o risco é ser cancelado em três atos: primeiro na entrevista, depois na internet e, por fim, na política (com direito a bônus no humor). Pra funcionar, teria que voltar com espírito de CQC (Custe o Que Custar) e não com a filosofia de CQD (Custe o Que Der). Mas se voltasse com sangue nos olhos e faca nos dentes, eu acharia incrível e voltaria sem dúvidas. Até porque, convenhamos, a faca serviria não só pra me defender, mas pra cortar as piadas chapa-branca. Adoraria estar tanto na bancada como naquela época, quanto no Proteste Já que era um quadro que eu fazia com um tesão interminável e que, sinceramente, merecia até seguro de vida.”
E aí foi a desculpa perfeita para reunir os ex-integrantes e confrontar não só o passado, mas também o futuro possível. Uma espécie de Friends – The Reunion .
Tá... “Friends” foi exagero. Lá eles choraram de emoção; aqui, só reclamação caso alguma resposta seja cancelada de surpresa no Twitter. (Na nossa época era Twitter, tá?)
As perguntas foram feitas e todos responderam no mesmo dia. O CQC ainda mexe com a gente. Mas será que mexeria com o Brasil de 2026 da mesma forma?
Em vez de suavizar ou resumir, resolvi publicar as falas completas. Aqui vai um registro inédito: pela primeira vez, todos os ex-integrantes falam juntos sobre um possível retorno do CQC.
Marcelo Tas
“Se for pro CQC voltar com liberdade e criatividade, o formato CQC sempre será bem-vindo no Brasil. Sinto uma enorme demanda reprimida para a mistura humor + jornalismo. A internet cumpre parte disso, veja a transformação maravilhosa produzida na área do esporte pela Cazé TV. A televisão aberta continua fora dessa, não sei o porquê.”
“Eu amo o CQC. Foi uma alegria ter colaborado na implantação do projeto. Não me vejo mais na cadeira central. Para acontecer de novo, será necessária uma renovação corajosa. Quando li a notícia, fiquei feliz. Parabéns à Band pela iniciativa. Desejo suerte!!!”
Danilo Gentili
“O CQC só pode voltar se a TV entender que vai ter que comprar algumas brigas grandes de verdade com políticos de todos os lados, caso contrário será patético e chapa branca. A TV não pode esquecer que com a internet hoje, qualquer anônimo consegue falar o que pensa e confrontar de verdade político na rua. Se a TV não tiver disposta a fazer melhor que isso é bom nem começar.”
“Se me derem liberdade para eu fazer algo que eu acredito, sim, eu voltaria certamente.”
Felipe Andreoli
“Eu acho que a volta do CQC é possível, a gente tem muitos humoristas talentosos, muitas jornalistas talentosas que poderiam ocupar essas vagas e recriar esse programa. É lógico que teria que ter uma atualização. CQC acabou em 2015, então a gente está 10 anos para frente. Imagino que deveria ser um programa totalmente diferente. E acho que a roupa tinha que ser diferente também, principalmente para fazer política ia ter que ter uma mudança de roupa, ia ter que trocar o terno e gravata por uma armadura, talvez colete à prova de bala, coisas que protegessem muito mais os repórteres do que de empurrões e safanões que a gente tomou por aí. Hoje o ambiente político é muito mais violento, é muito mais polarizado e certamente muito mais perigoso para o tipo de abordagem que a gente fazia. Se os jornalistas que fazem perguntas simples, às vezes óbvias, já são atacados, são perseguidos e agredidos, não só fisicamente como verbalmente, imagina o CQC que tinha um tom provocativo. A gente já era corajoso, mas teria que ser muito mais corajoso para um CQC dos anos 2026 acontecer. Infelizmente, a gente passar 10 anos da sociedade e regredir na maneira de lidar com o contraditório, é lamentável, mas é o que a gente vive hoje.”
“Pra voltar pro CQC, duas condições. Ou no lugar do Tas, para trabalhar só as segundas-feiras e parecer que você foi o criador e inventor do programa. Ou o Luque, que também só trabalhava as segundas-feiras, errava o roteiro e ganhava mais que todos os repórteres que ralavam de segunda a segunda (rindo). Acho que nessas condições dá para pensar para voltar. Voltar para a rua pra fazer o que a gente fazia, pra mim não dá mais não, não tem mais condições de fazer isso não. Quem sabe uma mistura de antigos integrantes com novos, mas eu não me vejo fazendo sequência novamente. Não é uma coisa que passa na minha cabeça de verdade. Eu tenho contrato com a Record, eu tenho outros projetos e outros planos pra seguir agora. Então, mudar minha vida para fazer CQC de novo é algo bem improvável e impensável.”
Rafinha Bastos
“Politicamente eu acho que faz total sentido a volta do CQC. Está cada vez mais tranquilo expressar opiniões políticas sem causar alvoroço. É só olhar nas redes sociais pra ver como é um assunto tratado hoje de forma saudável e madura. Se faz sentido pra TV hoje?
Olha… o CQC é um programa super jovem. Esse público não assiste mais televisão desde 2012. Pra atingir o atual público da TV, o elenco tinha que ter na bancada Galvão Bueno, Suzana Vieira e Raul Gil.”
“Sim! Eu adoraria voltar pro programa. Hoje viajo o mundo fazendo show e participando de festivais de comédia. Não aguento mais. Eu quero mesmo é voltar pra Marginal Pinheiros em São Paulo e ser cancelado mais uma vez. Não vejo a hora!”
Rafael Cortez
“Super cabe a volta do CQC em 2026. Acima de tudo, pelo tanto que as pessoas esperam isso. É o que eu sinto, ouço e vejo em todo canto para onde vou por todo o Brasil desde que o programa acabou. Ainda mais agora, com o saudosismo do Politicamente Correto: parece que o público quer uma dose de humor anárquico novamente, de algum “humor moleque” (sem o qual o novo CQC naufragará) e isso faz o clamor da volta do formato ficar ainda maior. Quanto à volta para o contexto político atual, será um desafio tão grande quanto a volta para o contexto de mundo em que estamos inseridos - com redes sociais, depauperamento da TV aberta, vigílias de humor e condutas morais, patrulhamentos ideológicos e polarizações. Os desafios de fazer um novo CQC no cenário político atual não são menores do que os de fazer um novo CQC nos tempos em que vivemos ante o CQC lendário que nós fizemos. Mas se a gente só se ancorar nos medos, nada vai pra frente. E quando o CQC original surgiu lá em 2007 com seus primeiros pilotos os medos e desafios eram outros, e todos eram compatíveis aos tempos e dificuldades que vivíamos. E não foi fácil, mas passamos por aquilo. Dizem que isso é viver. É aprender. Hakuna Matata!”
“Eu certamente voltaria sem pestanejar ao CQC como integrante da bancada. Isso é um fato! Primeiro, porque hoje sou um pai e estou beirando os 50. Tenho uma agenda paralela de palestrante e mestre de cerimônias bastante agitada junto ao mercado corporativo. Eu briguei para ter esse reconhecimento quando as tvs pareceram ter esquecido um pouco de mim, e se agora elas quiserem lembrar que estou aqui, elas precisarão se adaptar a mim também. Qualidade de vida para os repórteres daquele CQC passou a ser um ponto fundamental, e eu estou certo que muitos de nós daquela época topam voltar em troca disso. Posso até voltar às ruas e coberturas, mas isso tem de ser muito estruturado e bem combinado. Afinal de contas, hoje eu sou quase um senhor e um abnegado pai de família, hahaha! Mas o fato é: Guimarães Rosa tinha uma frase onde destacava que a vida quer da gente coragem. É preciso coragem para colocar de volta o nosso amado CQC, e eu torço para que a Band a tenha. E ela sabe que, fazendo a proposta certa, certamente poderá contar comigo!”
Marco Luque
“Eu acho que caberia sim a volta do CQC nos dias de hoje, por que não? Um programa que junta humor e política, acho que seria muito bem-vindo sempre, em qualquer época. Muito bem-vindo a um programa imparcial que pudesse cobrar dos políticos, pudesse estar ali dentro do Palácio do Planalto, olhando, prestando atenção em tudo. jogando os podres de lá para o povo, inspirando o povo a escolher votar melhor. Acho que tudo isso é super válido, super bem-vindo.”
“E cara... eu voltaria, sim. Sou aberto a conversar. O CQC foi o programa mais importante da minha vida, que me despontou, me destacou, me botou na televisão. Me deu força. Tenho muito do que eu sou hoje. Foi desse start aí do CQC. Eu voltaria, sim. Até porque, pra mim, os caras eram... Eu não era repórter, não tinha as matérias, então eu não sofria muito, cara. Como é que você nega um trabalho que você trabalha só segundas-feiras? Para mim era perfeito. Volto correndo, volto apresentando se quiser.”

Rafael Cortez, Felipe Andreoli, Monica Iozzi, Marcelo Tas, Maurício Meirelles, Marco Luque e Oscar Filho
Monica Iozzi
“ Eu acho que o CQC era um programa muito bom em vários aspectos. Então, sim, acho que seria ótima a volta do CQC. Mas, ao mesmo tempo, o CQC terminou já faz alguns anos. E a TV, o audiovisual, de maneira geral, mudou muito e rapidamente, desde quando o CQC terminou. Então, eu não sei dizer como seria recebida essa volta. Eu não sei como que o formato do CQC funcionaria hoje na TV aberta ou na TV a cabo, ou se caberia para streaming, por exemplo. Realmente não tenho coragem de me antecipar, de tentar prever como seria essa volta. Mas, sobre o contexto político, a gente vive uma atmosfera política muito desafiadora. Essa polarização extrema que a gente ainda vive não facilita o trabalho. Eu que cobria principalmente política no programa tentava ser o mais neutra possível quando eu fazia o trabalho e mesmo assim acabava sendo atacada por um lado e por outro e a gente estava num momento que a gente não tinha nada nem próximo da polarização que a gente atingiu ao mesmo tempo que eu acho que seria ótimo voltar a ter um programa como o CQC, que era tão provocador, tão incisivo, eu acho que seria extremamente difícil.”
“Tem muitas variáveis pra eu pensar se eu votaria ou não. Eu me desliguei do CQC em 2013. Muita coisa mudou na minha vida e eu mudei muito. Como repórter eu não votaria. Eu tenho muito orgulho de tudo que eu fiz do CQC. Eu era fã do CQC antes de entrar no programa, mas, você assim como eu sabe o perrengue que é ser repórter do CQC. E eu ainda fazendo política, assim como você no Proteste Já, podia ser um ambiente bastante violento. Para ficar na bancada, não sei. Teria que ver se o projeto seria uma coisa com a qual, hoje, eu me identifico. Mas eu fico feliz com a ideia de voltar, tenho muito carinho e acho que podia ser muito legal, mas com certeza não será uma tarefa fácil.”
Maurício Meirelles
“Acho que sempre cabe a volta do CQC. O desafio seria fazer esse programa com o contexto atual, onde tanto o público quanto a imprensa resolveram adotar lados e fariam de tudo pra detonar essa volta.”
“Tenho total gratidão e amor pelo projeto. Mas agora, com 42 anos e um sofá delicioso que comprei pra minha sala, eu não iria nem a pau ficar 5 horas tomando gás lacrimogêneo pra fazer uma matéria. Fosse um quadro ou algo menos intenso, quem sabe.”
Balanço Final
Resultado: 6 voltariam e 3 preferem preservar a sanidade mental .
Nada mal para um programa que acabou há mais de uma década e ainda causa taquicardia em meio país.
Afinal, o CQC continua mexendo com quem fez e com quem ainda sente saudade de ver político suando frio.
Conclusão? Definitivamente, a gente não aprende. É muito masoquismo!
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG