
O My Fucking Comedy Club, casa de shows de Danilo Gentili, tornou-se palco de um esquema de irregularidades e possíveis crimes. Segundo investigação avançada conduzida pelas equipes fiscal e jurídica de Gentili, comandadas pelo advogado Maurício Bunazar, o principal responsável seria o gerente Bruno Lambert, que, segundo relatos, teria confessado parte do esquema em conversas registradas por funcionários. A suspeita foi reforçada por levantamentos fiscais e monitoramentos financeiros. Toda a apuração aponta movimentações irregulares desde abril de 2023, embora Lambert tenha admitido apenas a partir de junho de 2024.
O início das suspeitas
Em 2025, Gentili decidiu revisar a contabilidade da empresa após se deparar com informações que considerou inconsistentes. O gerente Bruno Lambert, tratado como amigo próximo, reagiu à mudança de forma enérgica, o que acendeu o alerta entre os envolvidos na administração da casa.
Um dos primeiros indícios concretos de apropriação indevida surgiu durante um show do humorista Rogério Morgado . Um atendente comemorou ter vendido 17 ingressos na porta, mas o relatório oficial registrava apenas 3. Lambert, de acordo com funcionários, teria repreendido o colaborador por mencionar o número em voz alta.
A partir desse episódio, Gentili e seu produtor pessoal, Adriano Almeida, passaram a acompanhar os registros com maior rigor e, segundo a apuração, há indícios consistentes de que Lambert não apenas desviava dinheiro da empresa, mas também de colegas comediantes que se apresentavam no local manipulando valores de bilheteria e ficando com a diferença.
Problemas recorrentes
Com o tempo, surgiram inconsistências ainda maiores. Enquanto afirmava aos donos do negócio que todas as contas estavam em dia, o monitoramento financeiro mostrava o contrário. Registros de conversa indicam que ele negava a existência de uma segunda maquininha, embora extratos de clientes comprovassem o oposto. Em outras ocasiões, dizia aos proprietários que os funcionários estavam com os pagamentos em dia, enquanto os próprios funcionários relatavam atrasos e situações suspeitas.
Para os funcionários, Lambert dizia que Danilo não autorizava pagamentos sendo que Lambert tinha acesso total às contas. Para Danilo, afirmava que estava tudo quitado. Sempre que confrontado, apresentava justificativas diferentes: falhas de débito automático, problemas bancários ou erros técnicos.
Há relatos registrados de que chegou a inventar histórias e fazer ameaças veladas a colaboradores para evitar que falassem com os donos.

O fio da meada
Segundo registros, um profissional de segurança do comedy, que deveria receber R$ 400, recebeu transferência de R$ 1.400,00. Em seguida, Lambert teria pedido que o valor extra fosse devolvido diretamente para sua conta pessoal. O policial recusou e devolveu o excedente para a conta oficial da empresa. O episódio foi considerado o estopim para desvendar um esquema mais amplo.
Havia ainda salários superfaturados para alguns colaboradores, depósitos aleatórios feitos com frequência, uso de maquinas de cartão paralelas para desviar pagamentos na porta e até relatos de desvios de comida e bebida, supostamente usados em viagens e festas pessoais.
Fraudes em salários e pagamentos paralelos
Segundo a apuração, houve uso de máquinas de cartão particulares: enquanto o comedy utilizava equipamentos específicos, Lambert operava equipamento próprio, registrando pagamentos fora do caixa oficial em diversos dias de funcionamento.
Também há relatos de que Lambert se aproveitava da ingenuidade de alguns funcionários, pedindo que pagassem fornecedores com seus cartões pessoais. Depois, reembolsava esses valores pela conta da empresa com acréscimos, exigindo que o excedente fosse devolvido diretamente ao seu PicPay pessoal.
Produtos desviados e ambiente interno
Relatos indicam que vinhos, queijos, insumos diversos e até cabides teriam sido desviados. Produtos de merchandising de Gentili, como livros, bonés e camisetas, também estariam entre os itens desaparecidos. Há registros que apontam contradições de Lambert sobre o assunto.
Coincidentemente, nesse período, relatos indicam que Lambert passou a aparecer com roupas caras, tênis importados e artigos de luxo. Há relatos de um funcionário que o flagrou aplicando anabolizante em si mesmo dentro do ambiente de trabalho. Outros relatos apontam que teria dado iPhones 16 a garotas que contratava para sair com ele.
Enquanto isso, o comedy acumulava dívidas com fornecedores e parte da equipe ficou sem receber.
Episódios controversos
Segundo humoristas que frequentam o comedy, Lambert se gabava de ter feito uma “harmonização peniana”, alegando que o procedimento seria pago com postagens nas redes sociais. Como as postagens nunca foram encontradas, surgiram suspeitas sobre como esse procedimento foi custeado.
Outros relatos apontam que Lambert também dizia ser sócio de uma tabacaria nobre em São Paulo, ter aberto uma lanchonete na Zona Norte e tê-la vendido um mês depois por mais de 50% do valor investido.
Em áudio obtido por esta coluna, Lambert afirma ser executivo de uma rede de odontologia; segundo a apuração, suas abordagens foram interpretadas como tentativas de golpe. Se dizia diretor de expansão de uma rede nacional de franquias odontológicas, prometendo divulgação na TV e afirmando ter aberto consultórios, inclusive em Buenos Aires. Segundo esse áudio, teria usado o nome de Gentili para persuadir um empresário.
Chantagens e exploração
Relatos internos indicam que Lambert contratou, sem autorização dos donos, parentes de um funcionário, contrariando regra da empresa que proibia a contratação de familiares. Ao se desentender com o próprio contratado, teria pedido dinheiro à mãe e à avó do rapaz, no Nordeste, para “resolver a situação” e demitir o funcionário. Segundo relatos, o episódio teria prejudicado o bar, o garoto, a mãe e a avó dele.
Provas reunidas
A investigação interna reúne mais de três horas de gravações entre áudios e vídeos de testemunhas, confissões, prints, rastreamentos bancários, áudios em que Lambert orienta funcionários a esconder comprovantes e relatos de fornecedores que receberam comprovantes falsos.
Após o caso vir à tona entre humoristas, clientes começaram a enviar prints de faturas de consumo em dias de show. A apuração indica que grande parte do dinheiro pago na casa teria sido direcionado à conta pessoal de Lambert por meio de máquinas de cartão paralelas.
Estimativas e consequências
Relatos indicam que, ao ser desligado, Lambert deixou uma série de dívidas com fornecedores, contas e serviços que dizia estarem pagos. Documentos da apuração comprovam que ele contraiu dívidas bancárias sem avisar os proprietários e desviou, em setembro de 2025, valores do aluguel e das retiradas dos sócios.
Além das dívidas, os cálculos dos desvios ainda estão sendo refinados pela equipe financeira. A estimativa é que o montante ultrapasse meio milhão de reais ao longo de sua gestão.
Após o ocorrido, relatos afirmam que o advogado de Gentili deu a Lambert a chance de se redimir quitando dívidas e devolvendo valores. Mas, ao que tudo indica, isso não ocorreu. Segundo a equipe do comedy, Gentili regularizou os pagamentos atrasados dos funcionários e agora o caso deve seguir para a esfera criminal.
No domingo, 23 de novembro de 2025, o perfil oficial do Comedy Club destacou os esforços de toda a equipe para manter o espaço funcionando e afirmou que a casa continuará operando após as reestruturações.
Depoimento para a coluna
Em depoimento exclusivo para esta coluna, Gentili e Adriano parecem bastante abalados. Sempre foram vistos tratando Lambert como amigo. Eles chegaram até a dizer em alguns momentos que se houvesse uma expansão chamariam Lambert para ser sócio. Gentili desabafa:
“Mais doloroso do que o prejuízo financeiro e profissional foi a quebra de confiança. Eu, o Adriano e todos os humoristas que frequentavam o clube tratavam o Bruno como um amigo próximo, alguém de confiança. Sempre que ele pedia algo a gente o ajudava de várias formas... oferecendo oportunidades na TV, arrumando shows com bons cachês, auxiliando em tratamentos médicos gratuitos, disponibilizando acesso gratuito a academia de alto padrão, garantindo um salário acima da média e noites fixas no calendário da casa. Ele teve ampla exposição midiática, acesso a festivais e teatros reservados a humoristas renomados. A gente confiou nele e deu uma oportunidade de administrar um dos principais comedy clubs da América Latina. Foi uma grande falta de lealdade.”
O outro lado
A coluna procurou Bruno Lambert por WhatsApp para pedir um posicionamento. O espaço segue aberto para o outro lado e para esclarecimentos que os citados desejarem apresentar.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG