Ele descobriu um tumor de 6 centímetros na cabeça após voltar a nadar: “nasci de novo”

Sem sintomas graves, jornalista precisou passar por cirurgia de emergência e recuperou a visão periférica do lado direito que não sabia ter perdido


André Luis Nery não desconfiava que tinha um tumor do tamanho de uma bola de tênis na cabeça
Foto: Arquivo pessoal
André Luis Nery não desconfiava que tinha um tumor do tamanho de uma bola de tênis na cabeça


Após uma troca de horário no trabalho, o jornalista André Luís Nery , 51, resolveu retomar seus treinos de natação  em agosto deste ano. Quando saiu de casa na sexta-feira, 9, não imaginava que no mesmo dia descobriria a existência de um tumor de 6,2 cm, o mesmo que ter uma bola de tênis incrustada no cérebro.     

“Fiz meu treino de 3 km, mas estranhei que bati com o braço direito algumas vezes  nas boias que separam as raias. Na hora me veio à mente que poderia estar com algum problema neurológico , pois nadava há anos e raramente batia o braço nas boias”, conta. “Naquele mesmo dia, resolvi passar no hospital”.

Desconfiado que poderia ter tido algum tipo de acidente vascular cerebral (AVC) , seguiu a pé até o Hospital Santa Catarina, na capital paulista, onde mora. “Comecei a lembrar de pequenas coisas que vinham acontecendo, como derrubar coisas na mesa com a mão direita, ou chutar móveis com o pé direito”, relata. 

O exame clínico já indicou que algum problema neurológico estava afetando a visão periférica do lado direito. A surpresa mesmo veio com o resultado da tomografia que mostrou a presença de um tumor intracraniano. André foi internado na mesma hora e a cirurgia aconteceu no dia seguinte.

Segundo o neurologista Flávio Sekeff Sallem, coordenador do Hospital Japonês Santa Cruz, existem muitos pacientes que têm tumor benigno sem saber. "Eles descobrem isso quando fazem uma tomografia ou ressonância magnética para algum outro sintoma que não tem nada a ver. (É possível descobrir) até mesmo em uma necrópsia, ou seja, quando o paciente já morreu”, explica.

Os riscos de tumores como o de Nery variam de acordo com a localização. Sallem explica que  “em neurologia, apesar de um tumor ser histologicamente benigno, ele pode ser clinicamente maligno. Um exemplo são tumores em crianças, eles podem estar localizados na região posterior do cérebro, causar hidrocefalia, alterações comportamentais e até morte precoce”. 

A cirurgia

“Contei para minha mulher logo depois que recebi o diagnóstico. Depois, falei para meus irmãos e irmãs. Minha mulher falou para minhas duas filhas, e a mais velha, de 14 anos, ficou mais preocupada na hora, mas falei que ia dar tudo certo. Quando minha mulher chegou no hospital,  conversamos e ela também achou melhor fazer a cirurgia no sábado”.

Para Nery, não adiantava ter medo diante da situação. “Em nenhum momento tive medo. Sabia que não tinha alternativa,  que teria que passar pela cirurgia, pois poderia ter sintomas mais graves se não tirasse o tumor”. A operação durou cerca de quatro horas e correu bem, segundo o paciente. 

“Acordei e me senti feliz, como se estivesse nascendo de novo. Quando o efeito  da anestesia passou, vi que não tinha nenhuma sequela aparente.  Na verdade,  estava melhor do que antes, pois a visão do lado direito tinha melhorado”. Nery descobriu após a retirada do tumor que seu nervo ótico estava sendo pressionado.

Marcas da cirurgia de André Luis Nery
Foto: Arquivo pessoal
Marcas da cirurgia de André Luis Nery


O jornalista nascido em Sananduva, no Rio Grande do Sul, relata que a parte ruim foi aguardar o resultado da biópsia, que indicaria se o tumor era benigno ou maligno . O exame realizado com o material retirado durante o procedimento cirúrgico leva cerca de uma semana para ficar pronto.

“Os médicos têm uma ideia do tipo de tumor, mas, de forma correta, nunca cravam (se é benigno ou maligno) sem sair o teste. Os dias que passaram até receber o resultado me deixaram angustiado”, admite. 

Após a espera, ele soube que se tratava de um tumor benigno, um meningioma grau 1. O médico Flávio Sekeff Sallem explica que os tumores benignos são os mais comuns no cérebro, como os meningiomas e os gliomas de baixo grau. 

Recuperação e volta ao hospital

Para Nery, poder conversar durante os seis dias que passou no hospital após a cirurgia foi o que o ajudou a passar por aquele momento. “Gosto muito de conversar. Falei com muita gente, o que ajudou a fazer o tempo passar.  Além disso, o fato de meu irmão ter ficado no hospital comigo ajudou bastante. Sempre fomos muito próximos, e ele tem um coração enorme”, afirma. 

Além disso, a recuperação depois do ‘susto’ trouxe mais otimismo ao jornalista. “É difícil de explicar. Senti uma energia muito forte. Estava com uma felicidade enorme, como se fosse o começo de uma nova vida. E acredito que seja. Em momentos assim, você  repensa várias coisas de sua vida e passa a valorizar aquilo que realmente importa, que são a família e os amigos”, declara.

Alguns dias depois da alta, já em casa, Nery percebeu um vazamento na região dos pontos. Voltou ao hospital e descobriu que havia uma infecção e passou mais 14 dias internado. “O médico optou por um tratamento com antibióticos. Por ser aplicado na veia, fiquei o período todo internado”, conta. Além do medicamento intravenoso, Nery fez uso da câmera hiperbárica para ajudar na cicatrização. 

Mais prudente no segundo retorno para casa, o jornalista diz que se sente “muito bem, mas sei que é preciso seguir monitorando a saúde. Mesmo o tumor sendo benigno, sei que tenho que fazer exames frequentes”, conclui.

Foto: Arquivo pessoal
Tomografia de André Nery mostra o tumor intracraniano



Causas e sintomas

Não é possível definir o que causou o tumor no cérebro em um caso individual como o de André Luís Nery. O neurologista Flávio Sallem afirma, no entanto, que a causa mais comum são traumatismos cranianos . “O uso de aparelhos celulares também tem sido relacionado recentemente como uma causa de aparecimento de meningiomas, pelo menos em alguns casos”, acrescenta. 

Sobre fatores de risco para tumores malignos do cérebro, o médico aponta como os mais importantes, idade, algumas mutações genéticas e traumas cranianos. No caso dos benignos ele ainda cita a radiação ionizante, além dos traumas. 

Diferentemente de Nery, alguns pacientes apresentam sintomas mais graves, que devem gerar a busca por atendimento hospitalar. “ Dor de cabeça , crise epiléptica ou visão dobrada , esses são os sintomas que o paciente deve ficar atento”, explica Sallem. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

** Jornalista, pós-graduada em comunicação empresarial e negócios. Já foi livreira, assessora e gestora de comunicação, mas gosta mesmo é de trabalhar em redação. Atualmente, é editora-chefe do Portal iG.