A população tomou conhecimento, boquiaberta, da cassação, por unanimidade, do mandato de Deputado Federal Deltan Dallagnol pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 16 de maio corrente. De superior pouco teve ao se apequenar ao nível do ocorrido com o STF, que ressuscitou Lula politicamente nas palavras duras do ex-ministro do STF Marco Aurelio Mello. Aliás, o mesmo que criticou a decisão do TSE de cassar o deputado, sem base jurídica sólida, já que não havia processo formal instaurado contra ele quando ainda era procurador desta malfadada república, e pediu demissão do cargo.
Ao verificar o paulatino desmonte da Lava-Jato pelo STF, Dallagnol percebeu que a luta contra a corrupção havia assumido um caráter político. E que para combatê-la teria que ocupar uma tribuna eminentemente política como a da Câmara Federal. Sua legitimidade tem por trás quase 350 mil eleitores que votaram nele para levar adiante seu combate diuturno e necessário.
Ainda está viva em nossa memória o que aconteceu no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro poucos anos atrás. Dos seus sete membros, apenas um, uma mulher, não foi afastada por atos de corrupção. Os demais foram aposentados, recebendo normalmente seus proventos. Em qualquer conversa de cafezinho, as pessoas se perguntam por que não lhes é cobrada uma parte dos salários para ressarcir os cofres públicos da lesão praticada por eles, que deveriam ser seus guardiões.
É visível a sensação de que o STF e o TSE estão em modo liberou geral. A indignação popular vai num crescendo, refletindo o baixo grau de confiança que a população tem neles quando se trata de combater a corrupção. Ministros do próprio STF, que elogiavam as iniciativas da Lava-Jato, viraram casaca, e se embrenharam pela chamada visão do garantismo judicial para arrefecer o ativismo judicial. Na verdade, a tradição republicana brasileira é de leniência com a corrupção, muito pouco ativa na hora de combatê-la.
Ainda como candidato, houve a tentativa, ao que se sabe pelo PT, de impugnar sua candidatura junto ao TER (Tribunal Regional Eleitoral de Curitiba). E a decisão foi que nada havia que pudesse desaboná-la. Pois bem, na reunião do TSE, em alguns minutos, todos votaram por sua descabida cassação, e foram comemorar. Um país em que membros da Justiça celebram um malfeito com sabor de vingança está a caminho de um basta a ser dado pela população.
Até o momento, a CPI contra o abuso de autoridade do STF e do TSE do deputado Marcel von Hatten (Novo-RS), já conseguiu quase meio milhão de adesões nas redes sociais. E mais 147 assinaturas de seus pares, próximas das 171 necessárias. O presidente da Câmara garantiu a Dallagnol ampla defesa e já avisou que a cassação teria que ser referendada pela Câmara Federal.
Curiosamente, o revanchismo contra quem se celebrizou pelo combate à corrupção parece ser o novo alvo, cujo objetivo é calar as vozes que se levantam contra a inversão de valores em que os mocinhos viram bandidos. Dar risada na cara do povo é o estopim para a reação que se faz necessária. Mãos à obra.