Lula diz que o vírus é um "milagre" e que só o Estado pode acabar com a crise

O ex-presidente diz que o vírus está fazendo até os cegos começarem a enxergar que só o Estado é capaz de dar solução a problemas como o do coronavírus.

Um dos subprodutos mais cansativos desta pandemia do coronavírus tem sido a escassez de notícias sobre outros assuntos. Até pela gravidade da situação, parece que este o único tema que interessa e, por causa disso, muita gente desinformada passou a dizer, com ar de especialista, uma quantidade impressionante de tolices. Foi o que fez, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula
Foto: Claudio Reis / FramePhoto / Agência O Globo
Lula

Em entrevista recente ao Diretor de Redação da Revista Carta Capital, Mino Carta, Lula aplaudiu (isso mesmo, aplaudiu) o surgimento do coronavírus como um “milagre” que está “permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”. E para deixar bem claro o que estava pretendendo dizer, insistiu: “Essa crise do coronavírus somente o Estado é que pode resolver”.

COCEPÇÃO POPULISTA DE ESTADO 

Vamos nos concentrar apenas no oportunismo de Lula e esquecer por um minuto sua condição jurídica. Condenado a mais de 20 anos de prisão em processos nos quais teve e exerceu o mais amplo direito de defesa, ele parece viver num mundo direrente do de todas as outras pessoas. A questão, aqui, é outra: Lula se apoia numa situação que não podia ser prevista por ninguém há apenas seis meses para defender sua concepção anacrônica e populista de Estado . Além disso, ele aproveita para jogar a culpa pela situação terrível que o país está vivendo nas costas de qualquer um que defenda um modelo diferente do que ele mesmo adotou. E, finalmente, ignora o esforço impressinante que a sociedade tem feito para sobreviver à pandemia e para preservar seus empregos e suas empresas.

O ex-presidente, claro, não foi o primeiro a falar besteiras a respeito de um assunto tão sério. Já em abril, sua discípula Dilma Rousseff , numa dessas demonstrações de confusão mental que se tornaram indissociáveis de sua figura, tinha dito que “o vírus é muito solerte, muito esperto”. (Isso mesmo. Ela chamou de “esperto” um elemento acelular, formado por um núcleo genético, envolvido por uma capa de gordura e nada mais). Ele “chega devagarzinho, tem um tempo considerável de incubação e pode surpreender”. Sem perder tempo tentando decifrar o que ela quis dizer com isso, é bom lembrar que Sua Excelência, fiel a seu estilo, fala do que desconhece.

IGNORÂNCIA OU DESONESTIDADE INTELECTUAL

Dilma só tem lugar na história pelo sucesso que teve em lançar o Brasil numa crise econômica monumental e levar ao limite a tese lulista de que o Estado tem que se meter em tudo, tomar conta de tudo e gastar o que não tem para beneficiar os que se apoderaram dele. Alguém enxergar nesse modelo a solução para um mal grave como a pandemia do coronavírus só se explica por ignorância, desonestidade intelectual, oportunismo ou, como parece ser o caso de Lula, pela soma de tudo isso.  

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A crise profunda para a qual Dilma e seu braço direito, o economista Nelson Barbosa, empurraram o país não foi e nem poderia ter sido resolvida no primeiro ano do atual nem de qualquer outro governo que tivesse sido eleito no lugar dele. Dada a gravidade da situação, isso seria simplesmente impossível. Veio o segundo ano e, quando o Brasil começava a esboçar sinais de reação, se viu colhido por uma crise que varreu tudo o que encontrou pela frente e tornou pior o que já estava ruim.

TERRA ARRASADA

A situação é de “salve-se quem puder” e cenários de terra arrasada como esse costumam ser férteis para oportunistas . Eles se apoiam nas dificuldades da população, mas se esquecem de admitir que uma parte significativa da situação atual é consequência das decisões incompetentes que tomaram no passado. E apontam como solução para o problema um caminho que, se for implementado, apenas contribuirá para perpetuar as dificuldades que o país atravessa.

Ao contrário do que Lula parece acreditar, a crise que ele e seu partido criaram (e que, de fato, foi agravada pela pandemia do coronavírus) só se resolverá se o Estado eliminar todo tipo de protecionismo que ainda existe na economia e abrir espaço para o capital privado fazer os investimentos que devolverão ao país a chance de voltar a crescer. O Estado tem um papel importante a cumprir nesse esforço, mas seu papel será mais o de induzir e formular do que de executar as políticas. Isso parece óbvio mas, infelizmente, não faz parte da preocupação de políticos que só pensam em se beneficiar da situação precária em que o país se encontra — e tentar defender seus privilégios num cenário em que o dinheiro disponível certamente não dará para todo mundo.

VERTEDOURO DE RECURSOS

É triste: além de ter se tornado o único assunto da praça, a pandemia do coronavírus tem servido de desculpa e de cortina de fumaça para que os políticos ponham em prática uma vocação que parecia ter sido posta de lado desde que se tornou a necessidade de uma política econômica mais austera e capaz de restaurar a confiança que o Brasil perdeu nãos mãos de um governo incapaz de honrar seus compromissos.

Nos últimos meses, os cofres da União têm sido vítimas da tentativa que deputados e senadores têm feito para multiplicar como puder a ajuda que o Executivo vem prometendo aos estados e municípios. A consequência foi a abertura de um vertedouro voraz de recursos, distribuídos com uma falta de controle que só favorece a ação dos oportunistas.

Os desvios de recursos que deveriam ser aplicados na compra de respiradores e de outros equipamentos só existem porque o Estado foi tomado de assalto por gente que se beneficia do fato dele ser obeso, lerdo e sonolento. Por mais críticas que o atual governo mereça, é preciso ter claro na memória que o país só mergulhou na situação crítica em que se encontra porque, não faz tanto tempo assim, estava nas mãos dos que agora querem dar lição de moral para todo mundo.