Greve mostra que Petrobras tem mais empregados do que necessita

Depois de 20 dias de uma greve que teve adesão de um terço da pessoal da casa não faltou uma gota de combustível nos postos do País

A greve dos empregados da Petrobras, que chega ao final sem dizer a que veio, serviu para demonstrar um ponto importante. Oficialmente, a Federação dos Petroleiros e os 13 sindicatos ligados a ela anunciaram a suspensão parcial da paralisação. Mas a verdade é que ninguém A estatal, como ficou provado, mantém na folha de pagamentos muito mais gente do que precisa para tocar suas atividades. Explica-se: a Federação dos Petroleiros afirmou que a greve, que se estendeu por 20 dias, contou com a adesão de 21 mil funcionários em mais de 100 unidades operacionais da companhia. A empresa tem, ainda, cerca de 120 mil empregados terceirizados.

TST multou sindicato da Petrobras por greve e ordenou que ao menos 90% dos petroleiros trabalhem
Foto: Divulgação/FUP
TST multou sindicato da Petrobras por greve e ordenou que ao menos 90% dos petroleiros trabalhem

A se acreditar nos dados da Federação Única dos Petroleiros, o número de grevistas foi de mais ou menos um terço dos mais de 60 mil empregados do quadro fixo da empresa. Mesmo assim, não faltou uma gota de gasolina, etanol ou diesel nos postos de combustíveis do país. Dois terços dos empregados da empresa foram suficientes para manter a produção, o refino e a distribuição de combustíveis dentro da maior normalidade. Conclusão óbvia: a companhia pode muito bem cumprir todas as suas obrigações com o consumidor brasileiro sem precisar ter tanta gente na folha de pagamentos — que, como se sabe é é uma das mais generosas do país.

A greve, em si, é um desses episódios que só acontecem em lugares como o Brasil, onde as corporações mais poderosas estão acima dos direitos dos cidadãos. Ela foi deflagrada porque, conforme previsto pelo plano de saneamento da Petrobras, a diretoria resolveu fechar uma subsidiária que não tem relação direta com sua atividade fim. Trata-se da Araucária Nitrogenados, que produz fertilizantes no Paraná. Não, você não entendeu errado: a estatal encarregada de prospectar, explorar e refinar petróleo no Brasil mantém uma subsidiária que produz fertilizantes para a lavoura. Uma atividade não tem nada a ver com a outra. É mais ou menos como se um restaurante vegetariano mantivesse uma granja produtora de frangos: uma coisa não tem nada a ver com a outra.

A empresa foi adquirida pela estatal no ano de 2013, durante do governo de Dilma Rousseff e nunca deu lucro. Apenas para este ano estava previsto um rombo de R$ 400 milhões. Quem pagaria a conta? Ora: você, eu e todo mundo que consome combustíveis no país. O fechamento da unidade implicaria a dispensa de 400 empregados diretos e cerca de 600 terceirizados. Ao invés de aplaudir o esforço feito pela diretoria no sentido de voltar a companhia para sua atividade principal, os funcionários da casa — puxados, é claro, pela turma que trabalha na sede da Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro — viram nesse esforço uma ameaça.

Dispensa de trabalhadores nunca é fácil nem algo a ser aplaudido. Ocorre, no entanto, que uma empresa pública, como é o caso da Petrobras, deve pensar primeiro em seus proprietários: os cidadãos brasileiros, que nunca estão na lista de preocupações das corporações e de seus líderes. Em tempo: os mesmos sindicalistas que puxaram a greve contra o enxugamento e a racionalização da gestão da empresa ficaram mudos e imóveis durante todo o tempo em que a Petrobras foi vítima de uma das maiores pilhagens já vistas na história.  

A greve não teve qualquer motivação de natureza financeira ou salarial. Em novembro passado, os petroleiros assinaram com a direção da estatal um acordo coletivo que manteve todas as regalias que eles já tinham, além de conceder um reajuste de 2,5% sobre os salários gordos que já ganhavam. Na segunda-feira passada, o ministro Ives Gandra Martins Filho, do TST, considerou a greve ilegal e expediu uma liminar condenado os sindicatos dos Petroleiros a uma multa diária de R$ 500 mil caso mantenham a greve. Protegidos pela estabilidade no emprego, os petroleiros em greve, a princípio, quiseram ignorar solenemente a ordem de voltar ao trabalho. Bateram o pé e disseram que manteriam o movimento. Mas, diante da falta de argumentos para manter uma greve que nem deveria ter começado, resolveram recuar.

Em 1991, numa greve com motivações tão políticas quanto as dessa, a Petrobras descontou os dias parados dos funcionários em greve e resistiu a todas as pressões políticas que recebeu para restituir o valor. Se a atual direção da casa quiser mostrar aos empregados que está mesmo interessada em sanear a companhia, deveria fazer o mesmo.