Recentemente, o governo venezuelano chamou seu embaixador no Brasil para receber explicações sobre uma fala de Celso Amorim, assessor especial da presidência da República. A Venezuela considerou “agressiva” a fala de Amorim que, no entanto, apenas registrou o que boa parte do mundo afirma: não há legitimidade no governo de Maduro, reeleito numa eleição condenada por 95% da comunidade internacional.
A postura de Maduro é bravateira. Criou uma cortina de fumaça sobre um tema que sabe estar errado, porém jamais irá assumir isso.
Na verdade, o líder venezuelano está, de algum modo, preso numa armadilha por ele mesmo criada, afinal, havia a opção de uma distensão e um caminho democrático de realizar as eleições de modo íntegro, transparente, com a presença de observadores internacionais, como deve ser. E havia a opção de fechar, restringir e inflexibilizar o regime ainda mais. A opção que prevaleceu foi essa última.
Tendo sido feita a opção pelo autoritarismo, não há mais como Maduro recuar e, neste contexto, eleger inimigos é simplesmente uma necessidade para o ditador em questão.
A estratégia é bem conhecida. Num passado não tão distante, o mesmo personagem criava factóides em série, como alegar ter conversado com Chavez – falecido em 2013 – “antecipado” o Natal e criado o Ministério da Suprema Felicidade. Seria tudo isso pura bizarrice não fosse a precária situação do povo por ele governado, além de seu óbvio desapreço pela democracia.
No passado, Lula e o PT apoiavam a Venezuela de modo praticamente incondicional. Agora, no entanto, o contexto é outro. O presidente brasileiro quer se desvencilhar do líder venezuelano o mais que puder e, muito embora tenha dificuldade em nomear o regime venezuelano de ditadura, chamando-o de “regime desagradável”, condenou de modo expresso as eleições fraudadas conduzidas por Maduro. Assim, a fala de Amorim apenas ecoa isso e, como já dito, o que boa parte do mundo pensado do regime venezuelano.
Para aprofundar a cizânia entre Lula e Maduro, o Brasil firmou posição para vetar a entrada da Venezuela no BRIC’S, bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Putin concorda com a entrada do país latino-americano, mas Lula não. E sem unanimidade, não há viabilidade para a pretensão venezuelana.
Assim, essa tentativa de Maduro em subir o tom contra o Brasil é mera estratégia tergiversionista e vazia, cujo efeito prático é concretamente nenhum.
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