Daniel R. Schnaider

Acelerando no neutro

Uma análise crítica a autossabotagem da ESG e DEI

ESG (traduzido do inglês - meio ambiente, social e governança)
Foto: ESG Insights
ESG (traduzido do inglês - meio ambiente, social e governança)


"O essencial é invisível aos olhos." — Antoine de Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe)

Entendo a importância que é dada ao ESG (traduzido do inglês - meio ambiente,  social e governança)  e ao DEI (diversidade, equidade e a inclusão)  porém, acredito que eles sejam contraproducentes para si mesmos. O problema está, majoritariamente, na falta de conhecimento popular sobre correlação e causa. Este artigo tem o objetivo de esclarecer a questão e ajudar a sociedade a não perder o foco do que realmente importa. 

Veja: é diferente dizer que a falta de diversidade é um problema e que, portanto, precisamos resolvê-lo o mais rápido possível, do que afirmar que a crise climática é uma ameaça existencial para a raça humana e para resolvê-la precisamos de diversidade. 


No primeiro caso, identificamos um problema secundário e o tratamos como primário, e ao aumentar a diversidade não é garantido que teremos a solução do problema primário. No segundo identificamos o problema primário, e por ele ser tão complexo entendemos que precisamos de todos os melhores cérebros na humanidade para resolvê-lo, independente de sua raça, local de nascimento, ideologia, religião, etc. 

No caso de ESG, por exemplo, o “E” que representa o desafio ambiental é, em termos de prioridade mundial, um desafio maciço enquanto o “SG” (social e governança) se torna superficial neste contexto.

Vou ser mais claro, imagine um mundo onde as previsões mais sombrias das mudanças climáticas se tornem realidade: cidades inteiras submersas, milhões de refugiados climáticos vagando sem destino, colheitas devastadas e sistemas de saúde sobrecarregados. Nesse cenário apocalíptico, as iniciativas de Sustentabilidade (S) e Governança (G) tornam-se insignificantes frente à escala do desastre ambiental (E). 

Quando os recursos naturais são escassos, e as infraestruturas básicas entram em colapso, a prioridade deixa de ser a diversidade no local de trabalho ou a transparência corporativa. O caos e a luta pela sobrevivência expõem a fragilidade das nossas construções sociais e governamentais, mostrando que sem um ambiente estável, as fundações do progresso humano desmoronam.

O impacto do “E” sobrepõe-se de tal forma que transforma sociedades inteiras em um estado de emergência permanente. Governos colapsam, incapazes de lidar com a magnitude das crises simultâneas, desde a falta de água potável até a disseminação de doenças. A coesão social se dissolve à medida que comunidades competem ferozmente por recursos cada vez mais escassos. Assim, o  Meio ambiente (E) não apenas afeta, mas oblitera o Social (S) e a Governança (G), revelando que, sem um planeta saudável, não há base para a justiça social, nem estruturas de governo capazes de manter a ordem e a prosperidade.

Com o colapso ambiental, as iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) são tragicamente dissolvidas, pois a sobrevivência básica se torna a prioridade esmagadora. 

Enquanto enfrentamos a catástrofe ambiental iminente, outros desafios globais ameaçam nossa existência de maneiras igualmente devastadoras. Em um mundo onde os recursos são extremamente limitados e as desigualdades sociais se agravam,  a discriminação e a exclusão se intensificam. A pobreza extrema afeta mais de 700 milhões de pessoas, condenando-as à fome, doenças e à falta de acesso a necessidades básicas. Minorias e grupos vulneráveis, já em desvantagem, enfrentam ainda mais dificuldades.

Ainda, outras questões como a cibersegurança podem ser ameaças críticas, com ataques que podem deixar cidades inteiras sem água e eletricidade, paralisando sociedades. Guerras no espaço podem destruir satélites essenciais para comunicação e navegação, enquanto a ameaça de uma bomba atômica nas mãos de terroristas se torna cada vez mais real. 

A desinformação alimentada por inteligência artificial pode desestabilizar democracias e causar caos social. Crises geopolíticas ameaçam pôr fim à ordem global e desencadear conflitos devastadores. A disrupção das cadeias de suprimentos pode levar ao colapso econômico, enquanto o fim do livre mercado e do sistema democrático ameaça a liberdade e a prosperidade mundial. A dívida pública crescente e pandemias, como a COVID-19, que matou milhões de pessoas, expõem nossa vulnerabilidade.

Quando o ambiente (E) colapsa, esses problemas se intensificam exponencialmente. Sem um planeta habitável, debates sobre Sustentabilidade (S), Governança (G), e Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) tornam-se irrelevantes, pois a humanidade estará lutando apenas para sobreviver. Se focarmos nas prioridades corretas, consequentemente alcançaremos melhores resultados em ESG e DEI. Caso contrário, o que parece ruim hoje poderá, em retrospectiva, parecer um paraíso nos anos que virão.

Para salvar a natureza, assim como outros desafios primordiais para a humanidade, precisamos de um novo modelo de governança, algo em que possamos acreditar. Precisamos, acredito, de GOD, ou  “Genesis Oriented Democracy”,  em português “Democracia Orientada a Gênesis”. Um conceito-  que sugiro e explico neste artigo- para representar o início de uma democracia que não apenas reage, mas que proativamente cria um futuro melhor para todos.

O tempo para agir é agora; sem um novo ‘Federalist Papers’ (conhecida série de artigos resultado de reuniões que ocorreram na Filadélfia em 1787 com o intuito de ratificar a Constituição Americana) que coloca em primeiro lugar, não apenas valores como liberdade, democracia e capitalismo, mas também indicadores concretos que meçam resultados como a redução da temperatura global e a preservação do ambiente - estaremos apenas ‘acelerando no neutro’, fazendo barulho, fumaça, mas sem sair do lugar. 

Nosso futuro nos conduz por inúmeras pontes que precisam ser construídas com sabedoria. Eu e muitos líderes globais esperamos você no Horasis Global Meeting, nos dias 25 e 26 de outubro em Vitória, para discutirmos como podemos superar os desafios dessas novas edificações.