Daniel Cesar

Lula vê 'bolsonarização' do Banco Central e gera mal estar

Discurso do presidente tem incomodado aliados importantes e setores da economia

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tem uma crise para chamar de sua. Ele tem causado ruído no governo a cada discurso público em que faz questão de tecer duras críticas ao Banco Central, principalmente após a manutenção da taxa básica de juros . O político tem dito que se sentiu traído pela entidade e, especialmente, pelo presidente do BC, Roberto Campos de Toledo. O medo dele é de que haja bolsonaristas na entidade e que estejam boicotando o trabalho do novo governo.

Em vários discursos, o petista tem atacado a autonomia do Banco Central e chegou a confessar que vem pensando em rever o modelo, o que causou tumulto e correria nos bastidores do poder em Brasília. Se oficialmente o presidente está atacando a independência do Banco Central, nos bastidores da política ele trata Roberto Campos de Toledo como um Judas.

Sem meias palavras, Lula diz a quem quiser ouvir que se sentiu traído pelo chefe do BC. Na visão dele, depois de tudo que o governo de Jair Bolsonaro (PL) fez, a nova administração merecia um voto de confiança. "O presidente está inconformado com a manutenção da taxa de juros. Segundo ele, mercado, economistas e até agências aplaudiram o modelo econômico e a responsabilidade fiscal apresentada até aqui e só o Banco Central parece não ter gostado", diz uma fonte ouvida pela coluna. "Lula chegou a dizer que parece birra ou boicote", completou.

Nas palavras de Lula para um importante político, a promessa de independência do Banco Central só vale se não houver boicote. "Ele falou que se perceber o bolsonarismo dentro do Banco Central, vai atuar como fez em outras áreas", revela um parlamentar. O medo é que aliados de Bolsonaro usem a independência para levar o país a uma recessão.

A coluna confirmou com mais de uma fonte que a afirmação do presidente pegou os dois principais ministros da área, Fernando Haddad (PT) e Simone Tebet (MDB), de calças curtas. Haddad já fez questão de acalmar o mercado ao garantir que não há qualquer possibilidade de interferência do governo junto ao Banco Central e que a independência será respeita.

Enquanto isso, Tebet chegou a criticar Lula pela postura a pessoas próximas. Segundo a ministra, faltou tato ao presidente e ele precisa aprender a lidar com a frustração. Nenhum deles deu a entender que teme a bolsonarização do BC, mas nos corredores do Planalto já há quem concorde com Lula.

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