Daniel Cesar

PT teme que fim de orçamento secreto afete PEC, mas Lula mantém aposta

Partido quer criar um novo grupo de parlamentares na Câmara

Lira já trabalha nos bastidores para encontrar uma alternativa ao orçamento secreto
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Lira já trabalha nos bastidores para encontrar uma alternativa ao orçamento secreto

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sua aposta para controlar o Congresso a partir de 2023 e durante todo seu mandato: o fim do Orçamento Secreto. O futuro governante joga alto e avisou que não pretende ceder a chantagens de parlamentares, que estão pressionando para que o novo governo trabalhe junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela manutenção das emendas do relator.

À coluna, um membro do PT afirmou que o partido ligou o sinal de alerta. Há deputados dispostos a travar a votação da PEC da Transição caso o Orçamento Secreto seja considerado inconstitucional nesta quarta-feira (7). O recado foi dado por diversos membros do Congresso e preocupa a legenda, mas Lula garante que está calmo e não se preocupa.

O petista atua nos bastidores com os caciques dos partidos, que é quem determinam a votação de boa parte dos deputados. Para o presidente eleito, fazer política nos bastidores é correr riscos e ele decidiu apostar no fim do Orçamento Secreto. "Lula não acredita que parlamentares vão barrar a PEC da Transição", confirmou um aliado do petista.

Em grupo de mensagens entre líderes partidários, a aposta é de que Lula pode sair vencedor, mas a margem de manobra é curta. Gilberto Kassab (PSD) atua nos bastidores para controlar um possível incêndio e manter seus deputados votando a favor da PEC, independentemente do resultado no STF. Movimento semelhante acontece com Luciano Bivar, no União Brasil, e com Renan Calheiros, no MDB.

Fator decisivo para a aprovação do Bolsa Família fora do teto é o PP. No momento Arthur Lira garantiu pelo menos 25 votos a favor do projeto. Mas o presidente da Câmara é o principal fiador do Orçamento Secreto e parte do PT se preocupa que o resultado do julgamento possa mudar o humor do político. Em seu entorno, Lula diz que Lira não vai voltar atrás no compromisso de governabilidade.

Um nome importante do PP e ligado a Ciro Nogueira e ao próprio Lira calcula que, neste momento, a PEC da Transição conta com aproximadamente 350 votos, apenas oito a mais do que o necessário para aprovação. "Se o Lula piscar, ele perde", avisa o deputado. Mesmo com o PT preocupado, o presidente eleito não vai mudar de posição e aposta alto na aprovação da Proposta com margem considerável.

O plano de Lula é de que, sem o Orçamento Secreto, o Centrão vá se desidratar e a aposta é de criar novo grupo de parlamentares, um "novo Centrão", como vem sendo dito nos bastidores de Brasília. Parte do PP, PL e Republicanos devem se manter na oposição, principalmente a depender da votação do Supremo, mas o PT trabalha nos bastidores para dar força ao União Brasil e PSD, além do próprio MDB.

Lira tem se mostrado tranquilo a aliados e se juntou a Rodrigo Pacheco (PSD) para criar uma alternativa em caso de derrota na Corte Suprema. A pessoas próximas, o presidente da Câmara garantiu que um novo modelo que vem sendo desenhado contará com o apoio do futuro governo. O PT, por sua vez, deixou chegar à cúpula do Congresso que, para funcionar o novo mecanismo, é preciso que as emendas passem pela mão de parlamentares de esquerda e não apenas do centro.