A Falta de Pragmatismo do PSDB
Cristiano Beraldo
A Falta de Pragmatismo do PSDB

O Brasil atravessa um momento bastante particular no seu ambiente político-eleitoral. Mesmo estando há mais de um ano das eleições presidenciais o país discute de forma intensa nas ruas, escritórios e gabinetes o que o futuro nos reserva a partir de janeiro de 2023.

Como num roteiro de filme de suspense, tudo pode acontecer. Na ponta esquerda temos o candidato que aparece em primeiro lugar nas pesquisas. Há dois anos Lula estava condenado por corrupção e preso em Curitiba sem perspectiva de futuro eleitoral. Hoje, porém, está solto, articulando fortemente os apoios para sua candidatura no próximo ano e já sentindo o cheiro da vitória no primeiro turno.

Na ponta direita temos o Presidente da República enfrentando uma rejeição crescente e aparecendo mal nas pesquisas. Eleito como redentor do Brasil em 2018, prometendo a modernização do Estado, o fim da corrupção no governo federal e a independência em relação à base fisiológica do Congresso, Bolsonaro rompeu com seus principais compromissos e passou a dialogar apenas com seu fã clube mais engajado.

Mas nas pesquisas de opinião realizadas regularmente por bancos, corretoras e associações setoriais fica cada vez mais claro que a maior parte do eleitorado brasileiro não quer nem Lula e nem Bolsonaro. Porém, mesmo diante dessa realidade nenhum nome consegue protagonismo para ser visto como o candidato viável da terceira via.

É sabido que Ciro Gomes será o candidato do PDT com seu tradicional discurso à esquerda, se colocando como alternativa ao petismo que tanto sofreu ao ser confrontado com a Justiça. Mas parece não ser esse o perfil que conseguirá reunir os votos suficientes para vencer a polarização.

Na centro-direita são diversos os postulantes. João Amoedo, Eduardo Leite, Simone Tebet, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, Alessandro Vieira e Sergio Moro são nomes que têm se articulado para ocupar esse espaço, mas nenhum conquistou até agora o protagonismo necessário. Seja pelo desconhecimento do público nacional, seja pelas dificuldades partidárias, seja pela indecisão quanto a colocar-se ou não na disputa, o fato é que o tempo está passando e ninguém tem conseguido se aproveitar desta avenida aberta rumo ao Palácio do Planalto.

Mesmo diante das muitas questões a serem superadas por todos, chama atenção o esforço que o PSDB tem feito para enfraquecer o partido e seu candidato presidencial nas eleições de 2022. Enquanto o eleitorado clama urgentemente por um nome viável e bem articulado que possa ser visto como uma tábua de salvação, o partido que estaria melhor posicionado para oferece-lo esquece o pragmatismo e cria um longo processo de prévias que não tem a menor condição de resolver seus problemas internos. Este teórico “show de democracia” não produzirá a união tão esperada de seus caciques. Qualquer um sabe que o bolsonarista Aécio Neves tem João Dória como seu inimigo e fará de tudo para que o governador de São Paulo perca as prévias e as eleições. Ao mesmo tempo, João Dória não fará campanha para Eduardo Leite, candidato do Aécio, caso esse ganhe as prévias.

Desde a saída de Fernando Henrique Cardoso da Presidência da República o PSDB vai dividido para as eleições e mesmo depois do absoluto fiasco de 2018 com Geraldo Alckmin o partido parece não ter aprendido a essencialidade do pragmatismo eleitoral. Dos quatro pré-candidatos inscritos para as prévias parece óbvio que Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, independente das qualidades de ambos, não têm qualquer chance de resgatarem agora a relevância nacional necessária para vencer as eleições.

Já Eduardo Leite, no auge dos seus 36 anos de idade, tem o mérito de ter deixado a prefeitura de Pelotas, com uma população de 340 mil habitantes, para se tornar governador do Rio Grande do Sul. Empolgado com a música tocada por Aécio Neves, ele se deixou levar pelo sonho de se tornar Presidente antes dos 40 anos e passou a apostar todas as suas fichas nesse projeto.
E, por fim, o PSDB tem João Dória. Governador do maior estado do país, tem conseguido puxar a economia brasileira mesmo com todas as críticas às medidas restritivas em razão da pandemia e foi responsável por trazer para o Brasil a vacina contra a covid-19. Com 63 anos de idade tem um conhecido histórico de sucesso na iniciativa privada e foi vencedor em duas das mais importantes eleições do país: a capital e o estado de São Paulo.

Com perfis tão distintos deveria ser fácil para o PSDB escolher pragmaticamente seu candidato e começar a trabalhar de verdade para ocupar o vácuo existente entre os polos da esquerda e direita. O bom uso do tempo precioso que tem sido perdido permitiria construir com necessária antecedência as bases fortes que serão essenciais para as eleições e também identificar de forma inequívoca quem está de fato comprometido com o partido e quem está apenas operando para defender seus interesses pessoais.

Se o candidato escolhido será ou não vencedor apenas as urnas irão dizer, mas o fato é que um partido do tamanho e da importância que já teve o PSDB não deveria se expor ao processo de divisão e enfraquecimento público que tem sido promovido por essas prévias fora de hora

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