
O processo de globalização está atravessando um novo período a partir da noção de globalização de riscos.
A guerra na Europa, a pandemia e a crise energética puseram em risco a globalização, mas não detiveram o processo.
A entropia global é uma versão pessimista, em termos normativos e filosóficos, da famosa teoria da interdependência complexa.
O mundo corporativo e empresarial tem visto nos últimos anos uma mutação importante na relação com o risco político global inclusive no caso brasileiro.
Neste momento o risco político se tornou sistêmico com a Ucrânia, Níger, Mali, os fluxos migratórios, a escassez alimentar e a crise de grãos dentre outros riscos geopolíticos contemporâneos.
A isso se acrescenta a tensão em Taiwan, a competição entre China Rússia Irã Turquia e Estados Unidos com tensões na União Europeia e na Otan.
O risco geopolítico que impacta os fluxos migratórios, financeiros e comerciais se completa com os novos descontentamentos do norte global com a ordem internacional liberal e as manifestações de independência do sul global.
Recentemente seminário da fundação Papandreu abordou esse tema de perto com a participação de Joseph Stieglitz. O caso brasileiro foi analisado nesse simpósio como exemplo da política do sul global, dos Brics e do Governo do Presidente Lula.
Pode ser que o auge da globalização produtiva e comercial tenha sido ultrapassado e que haja uma maior fragmentação da produção a nível global e o surgimento de múltiplas cadeias globais de valor. Essa nova globalização ficará marcada pelas noções de outsourcing e offshoring.
Essa desindustrialização afeta tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento.
O que interessa é baixar os custos de produção, de transporte e de comercialização pois o custo de mover pessoas, bens e ideias caiu bastante nos últimos anos.
O comércio deixou de ser interindustrial para ser intraindustrial fragmentado em múltiplos atores e países.
Muitos países asiáticos apostaram no industrial upgrading a partir de estratégias de desenvolvimento para as exportações. Este processo se converteu no coração do nexo entre bens, serviços, comércio e investimentos do capitalismo pós-guerra fria.
Assim a produção e o comércio mundiais se configurou a partir de três hubs Estados Unidos, China e na Europa a Alemanha.
A potência hegemônica, os Estados Unidos, começa a se sentir ameaçada na sua hegemonia por novos atores internacionais e a competição pela liderança se acirra com o passar do tempo.
A cúpula dos Brics este mês na África do Sul poderá dar alguns indícios sobre a direção que esta concorrência vai tomar nos próximos anos. Inclusive com a análise do ingresso de novos países nos Brics.
Os riscos à primazia global de Washington se avolumam com o passar do tempo e o fim da Pax Americana.
A guerra na Europa, impensável faz alguns poucos anos, pode acelerar esse processo de decadência da hegemonia norte-americana dependendo do resultado final do conflito. O prolongamento dessa guerra enfraquece diversos atores como a Europa e a Rússia.
Mas pode reforçar o poder de Washington e de Pequim acirrando um novo processo de competição e até de desglobalização.
Este novo período pode mostrar que o livre comércio e as liberdades civis são exceções e não a regra na história mundial.