O caos da democracia norte-americana
Trump manipulou essas pessoas em seu projeto eleitoral e perdeu apesar do apoio de grupos роlíticos e econômicos poderosos.
Uma mudança profunda ocorre em Washington sem que muitas pessoas se preocupem com a destruição do modelo político norte-americano.
Muitos ainda veem os Estados Unidos como uma referência democrática apesar de que a primeira potência mundial não seja mais, como no tempo de Tocqueville, um caso exemplar de prática democrática.
Muito pelo contrário é preciso agora analisar com mais cuidado os desvios de Washington desde a instauração do trumpismo.
O aumento das desigualdades na América e o combate de ideologias inconciliáveis mostra o perigo do totalitarismo que ameaça as instituições norte-americanas.
Essa ameaça institucional se baseia nas paixões democráticas exacerbadas pelas tropas de Donald Trump.
Em seis de janeiro de 2021 vimos esse grupo de pessoas atacar o templo da legitimidade nacional, o Congresso.
Esse caos instaurado nesse dia por essas tropas não desapareceu do cenário político das Américas e continua a germinar apesar das resistências democráticas.
Esse episódio revelou aos EUA o nível de gravidade dessa fratura política, ideológica e identitária.
Foi uma cena emblemática de um certo tipo de guerra civil que se estende agora por mais de quarenta anos.
Esse grupo de cidadãos quer impor pela força uma certa soberania popular contra a soberania do legislativo.
O mesmo se passa hoje, com um certo grupo, no Brasil que pretende seguir mandamentos trumpistas.
Trump manipulou essas pessoas em seu projeto eleitoral e perdeu apesar do apoio de grupos роlíticos e econômicos poderosos.
A negação dos resultados eleitorais democráticos e as acusações de fraude foram usadas para negar o carimbo de perdedor fatal para um narcisista empedernido.
Essa psicopatia política da "eleição roubada" mostra a gravidade dessa fratura na sociedade das Américas.
Uma Constituição não é apenas um conjunto de leis, mas também um modelo de texto a seguir para padrões civilizados de convivência política.
Esses novos bárbaros acreditam que podem impor suas ideias pela força bruta e pela violência política.
As sociedades precisam estar atentas para a defesa e a manutenção dos princípios democráticos sob pena de vitória da barbárie sobre a civilização.
Este ano vamos enfrentar no Brasil esse tipo de conflito esperando que as forças democráticas e progressistas ganhem a disputa eleitoral.
Nos Estados Unidos a radicalização do processo político e do Partido Republicano pode contaminar eventualmente uma parcela do eleitorado brasileiro.
Não custa lembrar em 2022 que o preço da liberdade é a eterna vigilância.
No caso norte-americano, fraturas da sociedade transcendem a luta entre o partido democrático e o republicano.
Essa fissura vai além do campo político a confronta duas visões inconciliáveis de sociedade.
O campo conservador se vê cada vez mais sequestrado pelo trumpismo com defensores radicais de posições racistas, totalitárias e violentas
Esses grupos pretendem exportar essas ideias bárbaras e se impor, até pela força, nos Estados Unidos e em outros países.
Hoje o momento histórico parece confrontar dois planetas que não têm chance de reconciliação.
Esses escorregões do que poderíamos chamar de pós-democracia não podem ser tolerados pelo poder de corrosão das instituições democráticas.
Essa patologia política ameaça hoje vários países, dentre os quais o Brasil, e exige respostas à altura para preservar a manutenção do nosso processo democrático e os padrões mínimos de uma sociedade civilizada em 2022.