O Brasil de costas para o mundo
Em um mundo dominado pela globalização e pelo multilateralismo, o Brasil caminha na contramão da História.
Nos últimos dois anos o nosso país se colocou contra os dois movimentos inelutáveis, e em favor do unilateralismo e do isolamento internacional. Como se fosse pouco, desferiu ataques contra a atual administração norte-americana, a União Europeia e a China.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC) votou contra a liberalização das patentes das vacinas contra a Covid-19 em favor de países mais pobres. E na organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil foi considerado uma ameaça global em razão da situação crítica que vivemos na saúde pública.
Mesmo para um leigo fica difícil entender que vantagens auferimos ao ficar de costas para o mundo. Uma política externa subserviente, agressiva e incompetente afeta cada vez mais a nossa combalida imagem no exterior.
Temas como Estado de direito, processo democrático, direitos humanos, governabilidade e meio ambiente são discutidos diariamente no planeta, e, infelizmente, para a mídia internacional, nos cinco itens a performance brasileira deixa muito a desejar.
Uma questão se impõe em 2021 e 2022 no plano nacional e internacional para a nossa Nação: como construir uma democracia com não democratas?
Este conjunto de temas relevantes exige reflexão e ação para melhor atender os interesses nacionais. O processo de falência sistêmica que vivemos é reversível, desde que a maioria da população se conscientize da necessidade de uma mudança na política interna e externa brasileiras, em direção a uma maior independência e soberania.
O Brasil tem todas as condições de superar os atuais obstáculos se não for na contramão da História. Sugiro uma frente ampla de todos os brasileiros e brasileiras interessados em um país mais solidário, mais justo e mais respeitado no plano internacional.
É imprescindível uma política externa eficaz, independente e soberana que ajude a negociar internacionalmente, de forma competente, com laboratórios e países que dispõe de vacinas, sem perda de tempo, em razão da escassez de oferta de vacinas no mercado mundial.
Em vez de perder tempo com discussões sobre o sexo dos anjos, o Itamaraty deveria desidratar-se de ideologia, religião e alinhamento automático para melhor servir a Nação.
O caos instaurado no Brasil tem solução apesar do tempo perdido, mas a postura de negacionismo tem de acabar, assim como desprezo pela ciência, pelo mundo acadêmico e pela classe médica.
Como se dizia no passado, "Ou o Brasil acaba com a Saúva, ou a Saúva acaba com o Brasil".
Embaixador Cesário Melantonio Neto