Ruth de Souza, a primeira atriz negra protagonista na TV brasileira
Protagonista de "A Cabana do Pai Tomás", em 1969, atriz se tornou um dos grandes ícones da televisão do País
Por Romário de Oliveira |
12/09/2017 10:36:34Ícone da dramaturgia com mais de 70 anos de carreira, a trajetória marcante da atriz Ruth de Souza abriu portas para os artistas negros no cenário artístico brasileiro. Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar como protagonista na TV Brasileira, em A Cabana do Pai Tomás (1969). Ruth também fez história ao ser a primeira atriz negra a representar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi no dia 8 de maio de 1945, em “O imperador Jones”, de Eugene O’Neil, numa montagem do Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo.
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{!$sinalizador_ad$!}Com o sucesso, a atriz foi a primeira brasileira a concorrer ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza, por sua atuação no filme Sinhá Moça (1953). Hoje com 96 anos, a carioca Ruth de Souza
transformou o sonho de menina de ser atriz em realidade. Foi justamente esse pioneirismo que chamou a atenção do professor Júlio Claudio da Silva, Doutor em História Social e professor adjunto da Universidade do Estado do Amazonas, que fez deste aspecto da trajetória de Ruth de Souza, o ponto principal de sua tese de doutorado. “Dentro do propósito das universidades, de identificar a contribuição do negro na formação cultural do Brasil, e dentro do contexto da cultura do racismo”, faz questão de frisar o professor.
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Um pouco da história da atriz pode ser conferida no livro Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza, de autoria do próprio Júlio Claudio da Silva (obra publicada pela Editora Manaus). O livro enfoca "esse teatro" que surgiu para denunciar o racismo e abrir espaço para o artista negro. E Ruth de Souza tem importância ímpar nessa história. A publicação - o livro não é uma biografia - mantém o foco entre os anos de 1945 a 1952, período em que a atriz ingressa no Teatro Experimental do Negro até seu retorno dos EUA.
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{!$sinalizador_ad$!}Em sua primeira parte, a obra aborda a memória pública Ruth de Souza, analisando entrevistas que a atriz concedeu, inclusive para o MIS (Museu da Imagem e do Som) e para a produção da biografia Ruth de Souza: A Estrela Negra. Em sua segunda parte, aborda o acervo que a própria atriz colecionou ao longo da carreira. São recortes com reportagens, críticas ao grupo em que atuou, matérias a respeito das produções das quais participou, prêmios, etc.
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“É um registro dessa memória de uma pessoa púbica do ponto de vista do cenário cultural e também evidencia a forma com a qual a própria Ruth foi construindo a sua memória, o que chamamos a ‘construção de si’”, diz Júlio Claudio.Destacando ainda que, além do mérito profissional nas conquistas da atriz, não há como dissociar toda a história da artista das questões raciais e de gênero: uma grande profissional negra e mulher. Componentes que tornam ainda mais especial a trajetória de Ruth de Souza, grande dama da dramaturgia nacional.
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{!$sinalizador_ad$!}Sua admiração pelo cinema vem também do fato de conceder mais espaço, em sua opinião, para atores negros, afinal, para Ruth de Souza, o preconceito sempre foi uma realidade com a qual precisou lidar: “Tudo é uma questão de educação”, resume a atriz homenageada pela CCBB São Paulo, com uma mostra retrospectiva que reuniu 25 produções de cinema e TV que tiveram a ilustre participação da artista. Ruth de Souza será sempre lembrada por ter encarado palcos e estúdios com a coragem e a determinação de quem abre caminhos.